Moraes Moreira e os Novos Baianos

Cantor lança livro que conta a história do grupo musical que misturou os ritmos do Brasil

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Livro escrito por Moreira revela detalhes sobre o movimento cultural criado na década de 70 com os Novos Baianos (Foto: Val Fernandes/FEM)

Cabeludos, coloridos, alegres e responsáveis por uma revolução musical que misturou os ritmos do Brasil com as influências do rock internacional da década de 1970. Estes eram os Novos Baianos, que tiveram sua história narrada em cordel num livro cheio de arte assinado pelo cantor e compositor Moraes Moreira.

A ideia de escrever o livro História dos Novos Baianos e Outros Versos surgiu da curiosidade dos fãs, principalmente os mais jovens, que queriam saber como foi a história do grupo, a convivência e o dia-a-dia em comum. “Decidi escrever em cordel. Quando vi tinha 300 versos e nem a metade da história contada. Entrei madrugadas escrevendo, revivi todas as lembranças, algumas vezes precisei recorrer a um amigo pra lembrar de um detalhe, e terminei a obra com 966 versos”, contou o autor.

O grupo Novos Baianos se formou em 1969, em plena ditadura militar. Todos, com exceção de Baby Consuelo, eram baianos. Baby era carioca de Niterói, mas fugiu de casa e se “baianizou”. “A gente entra na história da música depois do tropicalismo – porque os artistas desse movimento já tinham sido exilados – nossas maiores influencias foram embora – Gil, Caetano, Tom Zé, Gal Costa, Torquato Neto. O show Barra Sessenta e Nove, que eles fizeram pra se despedir e arrecadar dinheiro pro exílio, marcou nossa carreira. Ali nós absorvemos a responsabilidade de não deixar tudo aquilo morrer, aquele movimento acabar. Os Novos Baianos entram nesse momento”, conta Moreira.

O grupo revolucionou a música brasileira, segundo o cantor, por acrescentar novos instrumentos à sonoridade. “A música brasileira era muito fechada. Uma guitarra era praticamente uma ofensa e nós chegamos misturando tudo. Depois vieram novas influências, como o João Gilberto, que trouxe o samba, o cavaquinho. Até então jovem não gostava de cavaquinho, achava brega”, disse. O grupo resolveu arrumar a mala e partir para o Rio de Janeiro, mudança necessária para acontecer no cenário cultural. A Bahia daquele tempo não era capaz, ainda, de impulsionar uma carreira artística.

Apesar da batuta do militarismo, os Novos Baianos não foram perseguidos pela ditadura e seguiam protestando pelas ruas. “Não nos identificavam. Não entendiam direito o que éramos. Um bando de cabeludos, coloridos, alegres. Nosso protesto era estético. Nossa cara era o nosso protesto, depois vinha a nossa música e a censura não sabia identificar isso. Naquela época havia um motivo muito forte para reafirmar a cultura brasileira. A juventude estava trazendo outra proposta. A gente era rebelde com causa e a música exercia uma influência. Era isso que nos sustentava, que não nos deixava afundar e que fazia o limite entre a nossa loucura e o mundo real”, comentou Moreira.

Karla Martins, da Fundação Cultural Elias Mansour, avisa aos interessados que o livro está disponível na Biblioteca Pública e nas casas de leitura. “Já vim ao Acre várias vezes mas passei um bom tempo sem vir e estou feliz em encontrar a cidade desenvolvida. Fiquei impressionado e orgulhoso com um espaço como este, maravilhoso, impressionante. Vocês são privilegiados”, disse Moreira referindo-se à Biblioteca Pública.

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Na década de 70
Viveu o mundo um momento
De uma grande ebulição
Quem fala assim não inventa
Traduz o seu sentimento
Revela a sua emoção

Em muitos pontos da Terra
Realizando quimeras
Fatos fizeram história
Tirando o sangue da guerra
Que mancha todas as eras
O tempo foi de vitória

Nosso Brasil deu a prova
Da grandeza do seu povo
Da força dos seus artistas
A nossa bossa foi nova
O nosso cinema novo
Noviços tropicalistas

Televisão, festivais
Teatro, literatura
Jovens quebrando tabus
No tempo dos generais
Da repressão, da tortura,
Exílio e urutus.

Foi dentro desse contexto
Que uma tribo Paz e Amor
Tramou a sua viagem,
O sonho como pretexto
E no lugar do temor
Talento e muita coragem

Trecho do livro Os Novos Baianos

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