Projeto de vídeo mostra como os Empates lutaram contra a máquina do capital
No início da década de 70, a tradicional atividade extrativista da borracha e da castanha, já em forte queda, estava fadada a desaparecer rápida e definitivamente pela ação desenfreada das motosserras. Assim, a floresta exuberante e rica parecia destinada a desaparecer, sendo trocada pelos campos com pastagem para gado. Até que seringueiros e extrativistas passaram a se reunir em movimentos contra as motosserras, chamados de Empates.
Para registrar esse importante momento da história acreana, o professor Valdir Calixto comanda o projeto “Empate: Uma Consciência Ambiental na Contramão da Modernização”, que objetiva a criação de um documentário contando a história e retratando como esse movimento lutou não só contra a destruição da floresta e o sustento do extrativista, mas também contra a máquina do capitalismo. Como disse o professor Calixto, “Por trás da motosserra está a mão do capital”.
O projeto apresentado ao Fundo Municipal de Cultura da Fundação Garibaldi Brasil foi selecionado e desde o final de 2008 encontra-se em desenvolvimento. Uma versão não finalizada do documentário, com 25 minutos, já foi apresentado no Sindicato de Xapuri, seguido de palestra e debate. O professor Calixto é o proponente do projeto, que está sendo tocado junto com o grupo de pesquisa Gaia.
Empates contra Capitalismo
O projeto defende a ideia de que os Empates não foram só protestos contra a derrubada da floresta pelas motosserras. Existe uma mão invisível por trás dessas máquinas de destruição que é o capitalismo. O “grito” do Empate está, no fundo, impedindo o ideal do capitalismo de destruir a floresta por objetivos simplesmente financeiros, mesmo que os seringueiros e extrativistas não tivessem consciência disso nos primeiros empates, se tornando algo muito maior em seguida, com o apoio do sindicato e a figura de Chico Mendes.
Seringueiros e extrativistas se organizaram inicialmente sem a ajuda do sindicato, quando eles como trabalhadores rurais tiveram a noção do que as motosserras estavam para fazer com o ambiente em que viviam e tiravam o sustento. Após os primeiros Empates e suas repercussões, é que o movimento começa a crescer e se articular ainda mais, gerando conflitos, violência e assassinatos da parte dos jagunços que queriam tirar os seringueiros de suas terras.
Para se ter uma ideia, em seus depoimentos para o documentário, seringueiros e extrativistas afirmam que o primeiro empate não objetivava a violência. Ainda assim, todos foram preparados para qualquer forma de agressão que pudessem sofrer. “A necessidade de sobreviver dessas pessoas estava contra a modernidade e o capitalismo”, afirma o professor Valdir Calixto.
A proposta é que até o final do ano o documentário esteja finalizado. Atualmente está sendo feita a apuração de mais de 5 horas de material em vídeo. Quando pronto, o documentário será apresentado à população em sessões especiais e para os alunos do Ensino Fundamental e Médio como uma forma de mostrar-lhes a história e a luta dos Empates no Acre. Também se estuda a possibilidade de apresentar o vídeo para a comunidade europeia, levando-o para Portugal.
Retratando a História
O professor Valdir Calixto está no Acre desde 1980, mas se considera um legítimo acreano. Em 1984, após ingressar como professor na Universidade Federal do Acre (Ufac), lançou o livro “Acre – Uma História em Construção”, que também contou com a parceria de Josué Fernandes e José Dourado. Foi o primeiro livro didático acreano, lançado originalmente para o 2º grau, mas sendo utilizado também na Universidade.
Em 2003 lançou o livro “Plácido de Castro e a Construção da Ordem no Aquiri”, que foi sua tese de Doutorado em História Social na Universidade de São Paulo (USP). Calixto também planeja lançar a história dos Empates em livro, além da realização de outros projetos junto ao grupo Gaia.
A Historiografia e Ciências Humanas
O professor Valdir Calixto ministrará a palestra "A Historiografia e Ciências Humanas: O Combate dos Annales”, que tem como objetivo discutir de forma mais aprofundada a Historiografia e as Ciências Humanas a fim de debater a necessidade de políticas públicas voltadas para estas áreas. Uma iniciativa da Câmara Temática de Historiografia Acreana, visando à elaboração do Plano Municipal de Cultura para Rio Branco em parceria com Grupo de Pesquisa Gaia da Ufac.
Quando: Dia 27 de maio, às 19 horas
Quanto: Entrada franca
Onde: Anfiteatro Garibaldi Brasil, campus da Ufac