Mães, exemplo de amor e superação

Conheça histórias de mulheres de diferentes personalidades, mas com um detalhe em comum: o amor aos filhos

Dos 17 filhos que teve, Maria Reinalda Duarte conseguiu criar apenas 13. Perdeu quatro. Hoje, é mãe também de um filho adotivo, de 11 anos, e ajuda a criar mais 23 crianças na creche que gerencia, a Unidade de Apoio Infantil Nova Vida, no bairro Jorge Lavocat. Além do trabalho e da representação de uma indústria de cosméticos, Kethleen Maklaine também “gerencia” uma casa, um marido e duas filhas – cada uma de um casamento -, além de estar noiva e se preparando para ter gêmeos.

Edmê Gomes, 23, e Eloíne Barbosa, 11, convivem numa relação de mãe e filha, apesar da pouca diferença de idade. Em comum elas dividem um sentimento com outros milhões de mulheres no mundo: o amor incondicional aos filhos. Todo dia é Dia das Mães, mas neste domingo a data é especial, um domingo dedicado a elas. Conheça a história dessas três mulheres, três mães que são um exemplo de amor e superação.

Aos trancos e barrancos

Todos os filhos de Maria Reinalda, 69, menos a caçula, nasceram nos seringais acreanos, um em cada ano. O mais velho tem hoje 50 anos e a mais nova, 22. Alguns vieram ao mundo sem a ajuda das parteiras, vizinhas ou mesmo a presença do pai, que estava trabalhando nas estradas de seringa. Além dos filhos sanguíneos, o tempo se encarregou de providenciar outros filhos para Maria. Hoje ela cuida de 23 crianças na Unidade de Apoio Infantil Nova Vida, no bairro Jorge Lavocat, e esse número já foi maior. A creche que ele começou em casa chegou a ter 60 crianças.

A história de Maria não é apenas a história de uma mãe, parecida em sofrimento com tantas outras histórias. Sua vida traduz um exemplo de superação de dificuldades. Grávida da filha mais nova, viu a casa e os poucos pertences serem consumidos pelo fogo. Ela, que já não tinha quase nada, agradeceu a Deus por ter livrado todos os filhos do incêndio e partiu para Feijó, cidade mais próxima do seringal em que morava.

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Maria com as crianças na creche que fundou. Para ela, todos são seus filhos. (Fotos Gleilson Miranda/Secom)

História de filha – Em Feijó, grávida de oito meses, ficou abrigada numa casa da Igreja Católica até conhecer uma senhora, Regina, que a ajudou a achar a família, que não via há 20 anos.

{xtypo_quote_right}"Todos os meus filhos estudaram e a maioria tem o segundo grau [ensino médio] completo… Sou feliz e agradeço a Deus e as pessoas que me ajudaram por isso.

Maria Reinalda{/xtypo_quote_right}“Não tinha notícia nenhuma da minha mãe, nem do meu pai nem dos irmãos. Tinha irmãos que eu sequer conhecia. A única coisa que sabia era que eles tinham vindo embora para Rio Branco. Dois ou três dias depois, com a ajuda da Rádio Difusora, recebi a notícia de que eles haviam sido localizados e ganhei as passagens para vir para a capital com seis dos meus filhos. Os mais velhos ficaram com o pai e vieram depois”, relembra.

Maria teve que esperar uma semana para rever a mãe. “Ela achava que eu não estava mais viva. Eram 20 anos sem ter notícia alguma. Casei, fui embora para o seringal com meu marido e nunca mais pude voltar. Deus sabe que não fiz isso por vontade, foi o curso que a vida tomou”, conta.

Maria lutou para recuperar o tempo perdido junto à mãe, que pouco tempo depois morreu. “Perder minha mãe foi a maior dor da minha vida. É um pedaço de mim que nunca vou esquecer. É inesquecível o dia que ela saiu de perto de mim."

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História de mãe – Em Rio Branco, Maria Reinalda ficou hospedada, com os seis filhos que vieram com ela, na casa de uma irmã. Mas não foram tempos fáceis. “Via meus filhos todos sentados num cantinho encostados na parede vendo os filhos dos outros comerem, enquanto eles estavam com fome. Não tem dor maior para uma mãe”, relembra.

Mesmo diante de tanto sofrimento, ela nunca perdeu a fé ou renegou seu destino. Entre uma frase e outra de sua história, sempre agradecia pela vida que teve.

“Um dia saí de casa, sentei na calçada com todos eles – a essa altura, o marido e os outros filhos já estavam em Rio Branco – e passou um cego por mim. Perguntou o que tinha, ouviu minha história e me apresentou para um senhor que pagou o aluguel de um quarto e fez um rancho muito bom. A partir daí comecei a receber ajuda de algumas pessoas, ganhei roupas e botei as crianças na escola”, contou.

Hoje Maria Reinalda se diz a mãe mais feliz sobre a Terra. “Todos estudaram e a maioria tem o segundo grau [ensino médio]. Cada um tem sua profissão. Criei todos, mas sou feliz e agradeço a Deus e as pessoas que me ajudaram por isso. Deus só me deu semente boa.”

História de amor – Um dia Maria viu um garoto procurando comida no lixo para comer. “Aquilo me apertou o coração e fui conversar com ele. Levei-o para casa, dei algo para comer do pouco que tinha para os meus filhos e decidi abrir uma creche para cuidar desses meninos que ficam soltos pela rua, com fome, sem amparo, enquanto as mães trabalham. E assim começou a história. Fundei uma creche – a primeira com chão de terra batida e cobertura furada, que chovia e molhava todo mundo que estivesse embaixo. Esse foi o início da Creche Jairo Júnior, que tempos depois a prefeitura assumiu”, relembra.

A Unidade de Apoio Infantil Nova Vida, que hoje tem uma sede em alvenaria e estruturada, começou em casa e já chegou a abrigar 60 crianças. Hoje são 23 e todos chamam Maria de “vó”. “Para mim, são todos meus filhos. Esses e todos os outros que passaram pela minha mão. Tem criança aqui que nem quer ir para casa, quer dormir comigo. Minha vida foi muito sofrida, quero fazer o possível para melhorar a vida de quem eu puder”, disse.

Os seus, os meus, os nossos, e muito trabalho a fazer

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Kethellen recebe as duas filhas todos os dias no trabalho, após as aulas.(Fotos Gleilson Miranda/Secom)

{xtypo_quote_right}Uma coisa que eu estabeleci como sagrada em casa é o horário do almoço. Almoçamos juntos todos os dias.

Kethleen Maklaine{/xtypo_quote_right}Com os tempos modernos e a divisão de tarefas, as mães deixaram para trás o posto de “do Lar” e assumiram novos papéis na sociedade. Hoje são executivas, secretárias de Estado, médicas, advogadas. Ao lado do papel de profissional bem sucedida está o papel de mãe e “gerente” da vida doméstica – casa, secretária, afazeres domésticos. Kethleen Maklaine, mãe de Letícia, 9, e Isadora, 5, trabalha, pelo menos oito horas por dia com gerenciamento de projetos – um horário que sempre se estende. Além do emprego formal, ela representa uma indústria de cosméticos e precisa visitar os clientes – tarefa que fica quase sempre para o fim de semana, quando a mais nova fica com a avó e a mais velha pode acompanhá-la.

Durante a manhã as meninas ficam com a secretária e à tarde vão para a escola, de onde saem direto para o trabalho da mãe. “Uma coisa que eu estabeleci como sagrada em casa é o horário de almoço. Almoçamos juntos todos os dias. O café da manhã e a janta já são mais dispersos. Trago elas ao meu trabalho para que saibam o que eu faço, entendam minha rotina. Também procuro passar a elas que trabalho nesse ritmo porque gosto, e não porque preciso de dinheiro para sustentá-las e oferecer o melhor, para que não pensem que o trabalho é um fardo e elas me sacrificam”, disse.

Para dar conta do papel de mãe e de profissional, Ketheleen montou um aparato ao redor, com motorista, secretária, avós, tias e pais prontos para serem acionados a qualquer momento. “Além do trabalho, há as viagens que preciso fazer, algumas para regiões isoladas e sem comunicação. Então preciso ter esse apoio. Para me ausentar, a madrinha da mais velha precisa vir de Sena Madureira para ficar as meninas”, explica.

Mesmo com este ritmo corrido, Ketheleen – formada em História e pós-graduada em Psicopedagogia e Inovação e Tecnologia – consegue acompanhar as filhas. Participa de todos os eventos na escola, conversa com os professores uma vez por mês, verifica as lições de casa, impõe limites. “Toda mãe é culpada. Se nos dedicamos exclusivamente aos filhos, achamos que deveríamos trabalhar para dar uma vida melhor. Se trabalhamos fora achamos, que precisamos ficar mais tempo com eles”, disse.

Família moderna – Letícia e Isadora são filhas de pais diferentes e têm irmãos apenas por parte de pai. Além dos irmãos, há também os filhos das atuais esposas. Ketheleen se prepara para engravidar de gêmeos, do atual marido. “Somos a típica família moderna e as crianças já convivem bem com isso. É mais uma coisa para gerenciar, essas relações da modernidade, mas temos dado conta. Meu marido pediu permissão a elas para me namorar. Temos um relação muito boa, de amizade e companheirismo, de diálogo e respeito”, disse.

Mãe amiga

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Edmê e sua "filha" Elô num dos momentos de lazer que as duas compartilham. (Fotos Gleilson Miranda/Secom)

Edmê Gomes, 23, é “mãe” de Eloíne Barbosa, a Elô, 11. Há seis anos a menina, que na verdade é prima de Edmê, veio morar em Rio Branco e iniciou uma amizade que evoluiu para uma relação de mãe e filha. “Minha mãe a trouxe devido às dificuldades que ela estava passando com a família no interior do Estado e passou a criar a Elô como minha irmã. Nós nos apegamos muito. Quando minha mãe morreu, há três anos, não aceitei mandá-la de volta e decidi assumir a responsabilidade. Hoje sou eu que acompanho o andamento escolar, que levo ao médico, que educo. Eu a chamo de filha, mas ela me chama de “Mê”, como todos os meus amigos”, disse Edmê, que é jornalista.

Apesar da relação de amizade, há os limites e até mesmo os castigos. “A educação dela é algo que me preocupa. Sou muito nova e estou aprendendo a lidar com isso. Tenho medo quando eu precisar lidar com a adolescência e todos os cuidados que ela exige. Ela não faz tudo o que quer, tem horários, só navega na internet se eu estiver por perto, mas tudo é um aprendizado”, conta.

 

{xtypo_quote_right}Hoje sou eu que acompanho o andamento escolar, que levo ao médico, que educo

Edmê Gomes{/xtypo_quote_right}Elô não se incomoda com as restrições: “Ela não é chata, faz o serviço que toda mãe deve fazer. Ela é minha amiga”, disse a criança. Assim como toda mãe deve ser.

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