O marcheteiro Maqueson Pereira desvenda mais um mistério na obra de um dos maiores gênios da história: a faca na mão de Pedro, na pintura ‘A Ceia’
O aeroporto de Cruzeiro do Sul tem características regionais que o tornam único no Brasil, dentre elas o formato de oca, lembrando os primeiros habitantes da região: os índios. Inaugurado na última terça-feira pelo presidente Lula, o novo aeroporto – que já funcionava em caráter experimental há três meses – propiciou um salto de qualidade no atendimento aos passageiros que se utilizam dele. Isto sem contar que ampliou as condições de embarque e desembarque para cerca de 300 mil passageiros por ano, quase quatro vezes superior ao atual movimento do aeroporto.
Dentre as novidades do aeroporto, chama atenção a loja onde estão expostos os trabalhos em marchetaria do artista cruzeirense Maqueson Pereira. Ele é motivo de orgulho para a região. Suas obras em marchetaria estão espalhadas pelos cinco continentes, sendo considerado um dos melhores marcheteiros do mundo. Recentemente, ele foi incluído entre os Top 100 do artesanato brasileiro, escolhido num universo de 1.025 concorrentes. No ano passado foi integrante de missão no Itamaraty que participou de intercâmbio cultural no Afeganistão, em Dubai Nepal, Índia, Sri Lanka e Tailândia.
Com 20 anos produzindo e ensinando arte na região, não foi surpresa, portanto, o convite dos projetistas para que ele produzisse murais, que dão um toque original à decoração do aeroporto. Um deles retratando a floresta e outro uma onça, o maior felino amazônico.
A faca de Pedro
Durante a inauguração do aeroporto, no salão de eventos, ficou exposta uma obra que chamou a atenção de todos: o quadro ‘A Ceia’, reprodução da obra original de Leonardo da Vinci, que foi desenhada numa parede do convento Santa Maria Delle Grazie em Milão, Itália.
A obra significou um grande desafio para o artista cruzeirense e exigiu seis meses em pesquisas e experimentações para sua concepção e descoberta de quais madeiras poderiam ser utilizadas. Segundo Maqueson, a reprodução é fiel ao traço de Leonardo da Vinci, inclusive com um detalhe até pouco tempo ignorado, inclusive por museólogos e estudiosos do assunto: a faca que São Pedro segurava em sua mão direita. Segundo o relato do Novo Testamento, a ceia foi a última antes da prisão e crucificação de Jesus. A faca na mão de Pedro teria sido a mesma utilizada logo depois pelo discípulo para cortar a orelha do soldado romano.
Maqueson descobriu o detalhe da faca na mão de Pedro graças a uma imagem de alta definição da pintura original existente no convento divulgada em site europeu.
As obras de Maqueson são únicas. Na loja também estão em exposição várias outras peças, entre elas, os porta jóias, sempre com ilustrações da vida amazônica.
As obras todas são produzidas na oficina de marchetaria situada no bairro Formoso. A oficina que teve o apoio do Governo do Estado na implantação, hoje emprega 20 pessoas e ainda promove um curso de marchetaria para 20 alunos em parceria com o Senai.
Segundo Maqueson, é uma conquista e um orgulho estar presente no aeroporto de Cruzeiro do Sul, a porta por onde as pessoas de fora adentram o mundo mágico do Juruá. "Cruzeiro do Sul parece um final de rota mas exatamente neste final a gente consegue conceber idéias belas e aprender uma profissão de arte que é a marchetaria. E conseguir transferir para uma tela de marchetaria – que por ser feito em madeiras é mais limitado – o gênio de Leonardo da Vinci foi para mim um desafio enorme. Foi preciso estudar seis meses para criar coragem e produzir o trabalho" – disse.