Número de transplantes de córnea realizado no Acre em 2024 é o maior em 15 anos e muda a vida de centenas de pacientes

Habilitado para fazer transplante de córnea desde 2009, o Acre já registra, até o mês de setembro, um número recorde desse procedimento na série histórica. Valéria Monteiro, coordenadora do Serviço de Transplantes da Fundação Hospital Estadual do Acre (Fundhacre), explica que, após uma pausa para readequações em 2022, no ano seguinte as cirurgias voltaram a ser feitas e atualmente a unidade se tornou uma referências nacional.

“Desde o início de 2023 já trabalhamos para reorganizar a estrutura, com compra de insumos e instrumentais cirúrgicos novos, e renovar as habilitações junto ao Ministério da Saúde. Então, no final de 2023 tudo já estava em ordem e voltando a fazer o transplante de córnea, por isso que naquele ano de 2023 foram só seis procedimentos”, explica.

A coordenadora explica ainda que é feito um trabalho, pela Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre), de conscientização e garantia desses serviços à população.

“A Fundhacre tem trabalhado com empenho, tanto na conscientização da importância da doação, quanto na manutenção e ampliação dos programas de transplantes. Prova disso é o crescimento do serviço e o aumento do número dos transplantes, mantendo sempre a qualidade da assistência. Enquanto equipe, destacamos como é fundamental o apoio e empenho dos nossos gestores, porque faz toda a diferença”, explica.

Valéria Monteiro fala sobre recorde de transplantes de córnea no estado do Acre. Foto: Gleison Luz/Fundhacre

Número de transplantes de córnea ano a ano:

-2009: 8 transplantes

-2010: 4 transplantes

-2011: 18 transplantes

-2012: 39 transplantes

-2013: 20 transplantes

-2014: 26 transplantes

-2015: 19 transplantes

-2016: 19 transplantes

-2017: 24 transplantes

-2018: 19 transplantes

-2019: 23 transplantes

-2020: 17 transplantes

-2021: 15 transplantes

-2022: 26 transplantes

-2023: 6 transplantes

-2024 até setembro: 40 transplantes

-Total – 323

Durante participação do GovCast, Valéria também reforçou a importância deste ato para ajudar a salvar a vida de outras pessoas. “Sem doação, não há transplante. Sem doador, não conseguimos salvar uma vida. Um doador pode salvar até oito pessoas. Por isso, temos uma gratidão imensa às famílias doadoras, que ressignificam a dor da perda de um ente querido e fazem esse gesto de amor”.

Aos 77 anos, professora aposentada recebe transplante de córnea e tem visão restaurada pela Fundhacre. Foto: Gleison Luz/Fundhacre

O impacto na vida das pessoas

Na zona rural de Mâncio Lima, interior do Acre, dona Maria Ventura, de 77 anos, viveu anos de dificuldade com a visão. Acometida por uma ceratopatia bolhosa no olho direito, a professora aposentada pôde receber um transplante de córnea na Fundação Hospital Estadual do Acre (Fundhacre), em Rio Branco, em julho deste ano.

“A visão começou a piorar com o tempo. Os médicos disseram que foi um milagre eu estar viva”, recordou. A dor e a dificuldade de enxergar limitaram sua vida em muitos aspectos: “Eu via algumas coisas de perto, mas, de longe, nada”.

A médica oftalmologista Natália Moreno, que conduz esses procedimentos, fala da importância do gesto da doação.  “A demanda é de acordo com as doações, então, quanto mais oferta de tecido tivermos, mais possível é realizar a cirurgia. Temos toda a logística para realizar o transplante, mas há épocas em que recebemos menos doações, por isso buscamos incentivar esse gesto”, detalhou.

Vítima de um acidente de trânsito em 2021, o jovem Carlos Daniel Barbosa, de apenas 23 anos, também foi um dos beneficiados. Morador de Sena Madureira, ele estava aguardando pelo transplante há dois anos. “O meu [caso] foi acidente em 2021. Deu uma pancada no olho aí, teve o trauma de córnea que rasgou, e eu tive que fazer uma cirurgia e agora vou fazer o transplante de córnea (….) eu fiquei esperando, e me mandaram mensagem falando pra que ir me internar”, relembrou ao passar pelo procedimento em junho deste ano.

Ao todo, só este ano, foram 40 transplantes de córnea no Acre. Foto: Gleison Luz/Fundhacre

Neste mês, o Ministério da Saúde inicia a campanha Setembro Verde, para conscientizar a população sobre a importância da doação de órgãos. O Sistema Nacional de Transplantes (SNT) é o maior programa público do mundo, responsável pela regulamentação, controle e monitoramento do processo de doação e transplantes realizados no Brasil. Cerca de 88% do financiamento é custeado pelo SUS, que atualmente conta com 728 estabelecimentos habilitados para a realização de transplantes em todos os estados.

Para a coordenadora-geral do Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde, Patrícia Freire, o processo de doação/transplantes é complexo e precisa de ações que contemplem a diversidade e a heterogeneidade da população brasileira.

“Novos projetos estão em andamento para contemplar essa complexidade e fazer com que nos próximos dois anos o Brasil possa continuar se destacando no cenário mundial de transplantes”, afirma.

Facilidade para doar

Em abril deste ano, o Ministério da Saúde se tornou parceiro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Cartório Notarial do Brasil, em uma iniciativa que permite a autorização para doação de órgãos e tecidos por meio de uma plataforma eletrônica. A manifestação individual ficará registrada nos cartórios nacionais, por meio da implementação da Autorização Eletrônica de Doação de Órgãos, Tecidos e Partes do Corpo Humano (AEDO).

Para manifestar interesse, basta se registrar no aplicativo ou no site www.aedo.org.br.

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