Com o objetivo de incentivar a cadeia produtiva do mel e o desenvolvimento da agricultura sustentável, o governo do Acre, por meio da Secretaria de Estado de Agricultura (Seagri), ofereceu, durante esta semana, na Reserva Extrativista Chico Mendes, um curso avançado de apicultura. Com apoio do Programa REM e da Prefeitura Municipal de Assis Brasil, uma equipe multidisciplinar da Seagri atendeu a solicitação que partiu dos próprios extrativistas e, ao longo de quatro dias, capacitou moradores do Seringal Guanabara.
Biólogos, veterinários, economistas, agrônomos e engenheiros florestais instruíram 16 produtores em boas práticas do mel, abordando o processo de captura, reprodução de enxames, higiene, utilização dos equipamentos de proteção individual e outros conhecimentos essenciais para que a criação seja bem-sucedida.
As abelhas ajudam na polinização e a polinização aumenta a produção local, alavancando o lucro tanto dessa produção, no caso, o café, quanto do mel.
Jorge Pereira é produtor de café a partir da recuperação de áreas degradadas da resex e revelou que os produtores identificaram uma nova alternativa e fonte de renda na produção de mel.
“O governo do Estado proporcionou esse curso, e a criação de abelhas vai agregar valor ao nosso negócio. A gente captura as abelhas e delas tira o mel no processo de florada para, além de comercializar o café, poder comercializar o mel de café”, explicou.
Jorge relatou, ainda, que participou, com o seu café, do 1° Concurso de Qualidade do Café Robusta Amazônico do Acre, o Qualicafé, e considerou a iniciativa importante para impulsionar a produção do grão.
Especialista em abelhas sem ferrão, a médica-veterinária da Seagri, Edna da Costa, trabalha desde 1990 com meliponicultura e informou que as Meliponas (abelhas sem ferrão ou com ferrão atrofiado) fortalecem a biodiversidade das espécies nativas da resex e ajudam a agricultura do local.
“A [abelha] com ferrão produz mais; já o mel da sem ferrão é considerado medicinal, que a maioria dos extrativistas e indígenas usam como remédio. A gente tem certeza que muitas espécies florestais dependem desses animais para a sua polinização, e a partir daí vem o mel, que milenarmente tem sido utilizado pelas pessoas como alimento e medicina”, contextualizou.
Edna já esteve no Seringal Guanabara anteriormente, ministrando o curso de abelhas sem ferrão, e nessa nova oportunidade, acompanhou a equipe da Seagri durante a capacitação.
Bruno Flangini, professor do curso de abelha com ferrão e mestre em Mel de Abelhas pela Universidade Federal do Acre (Ufac), trabalha com apicultura há 12 anos e garantiu que os produtores saem da capacitação, que abordou aspectos teóricos e práticos, aptos a aumentar os enxames para posterior produção do mel.
“A Apis Mellifera [abelha com ferrão] tem preferência pela cultura do café, o que traz um benefício tanto para o apicultor quanto para o produtor de café”, disse.
Iranilce Lanes, que é presidente da Associação de Pequenos Agroextrativistas Nossa Senhora dos Seringueiros, vinculada à Associação de Produtores Extrativistas de Brasileia, contou que a produção dentro da Resex segue toda a legislação vigente, e que áreas degradadas e vegetações de capoeira são preferencialmente os locais de criação do plantio.
“Nós ganhamos um café [mudas] e capacitação do governo do Estado, com o objetivo de incentivar a produção feminina, e tivemos seis mulheres beneficiadas com a ação. Nossa intenção é fortalecer a cafeicultura na reserva de forma sustentável, reaproveitando áreas onde já era capim ou capoeira”, afirmou.
Iranilce esclarece que a descoberta e reprodução das abelhas é importante, pois vai melhorar o desenvolvimento da floresta e da produção local, que vinha diminuindo há algum tempo: “Nós observamos a redução da nossa produção por falta de polinização, e é onde a abelha entrou em cena na nossa comunidade, o que é maravilhoso para a gente”.
Diferença entre apicultura e meliponicultura
Tanto a apicultura quanto a meliponicultura trabalham com a criação de abelhas e, posteriormente, com a produção do mel e seus derivados, mas as duas práticas são distintas.
Enquanto a apicultura refere-se à criação de abelhas com ferrão, principalmente para a produção de mel, própolis, pólen, cera de abelha e geleia real, a meliponicultura se utiliza da abelha sem ferrão.
Programa REM
O programa Global REDD+ para Early Movers (REDD+, sigla em inglês para Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal para Pioneiros) é fruto de cooperação financeira entre os governos do Acre, da Alemanha e Reino Unido, por meio do Ministério Federal de Cooperação e Desenvolvimento Econômico da Alemanha (BMZ) e do Departamento de Segurança Energética e Net Zero do Reino Unido (DESNZ), por meio do KfW, para implementação de projetos voltados à conservação das florestas que beneficiam milhares de produtores rurais, ribeirinhos, extrativistas e indígenas no Acre.