Localizada às margens do Rio Amônia, um dos mananciais que banham Marechal Thaumaturgo, no interior do Acre, a Terra Indígena Apiwtxa, onde habita o Povo Ashaninka, recebeu, durante esta semana, uma ação cívico-social promovida pelo governo do Estado e parceiros, numa demonstração da valorização da cultura dos povos originários e do reconhecimento da sua rica contribuição para a formação da identidade acreana.
Atendimentos odontológicos, consultas médicas e atividades culturais, além da realização de palestras e entrega de medicamentos, entre outros serviços, beneficiaram uma média de dois mil indígenas da Apiwtxa e de aldeias vizinhas. Um efetivo de aproximadamente 180 pessoas, além de duas toneladas e meia de equipamentos e uma tonelada de alimentos formaram a estrutura disponibilizada durante a ação.
“Eu disse ao meu Povo Ashaninka: ‘Aproveitem a oferta dos serviços, pois é um trabalho voltado para nós. A maioria de vocês não tem condições de ir à cidade, pois a logística dificulta tudo’. Combinei com todos para que participassem e estamos felizes e agradecidos”, disse o cacique Antônio Pyãko.
Para a execução da força-tarefa, o governo do Estado, por meio do Gabinete do Governo em Cruzeiro do Sul, das secretaria de Saúde (Sesacre), de Administração (Sead), de Comunicação (Secom), de Assistência Social e Direitos Humanos (SEASDH), de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) e de Educação, Cultura e Esportes (SEE), além da Fundação Elias Mansur (FEM) e do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf), uniu esforços ao 61º Batalhão de Infantaria de Selva (BIS), ao Poder Judiciário do Estado, à Defensoria Pública do Acre (DPE), à Polícia Federal (PF), ao Ministério Público do Estado, à Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) do governo federal, ao Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei), à Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá (Opirj) e à prefeitura municipal.
“O governo do Estado, por meio dos esforços do governador Gladson Cameli e sua equipe, destina uma atenção especial aos acreanos das zonas urbana e rural, como é o caso de ribeirinhos e indígenas, garantindo o acesso aos serviços públicos a essas populações. Quero externar meus agradecimentos aos parceiros que colaboraram para o sucesso da iniciativa que propiciou ao Povo Ashaninka usufruir de serviços essenciais, promovendo mais cidadania e dignidade à região”, ratificou Raquel Batista, representante do Gabinete do Governo em Cruzeiro do Sul.
O comandante do Comando de Fronteira do Juruá do 61º BIS, coronel Gustavo Mathias, reforçou que o trabalho em parceria fez a diferença. “Ninguém faz nada sozinho. Neste caso, somente com união foi possível deslocar o efetivo e materiais para cá. Há 30 dias, iniciamos o planejamento dessa ação e hoje, levando em conta os desafios e a quantidade de atendimentos, considero que alcançamos os nossos objetivos”, destacou.
Promovendo dias mais dignos
O acesso dos indígenas da Apiwtxa ao centro urbano mais próximo, que é Marechal Thaumaturgo, leva aproximadamente quatro horas de viagem pelo sinuoso Rio Amônia, por meio embarcações (canoas, bajolas e outros), o transporte mais utilizado na região. Além da logística, a falta de recursos financeiros e outras dificuldades tornam a busca por serviços ainda mais desafiante.
Yara Luiza Pyãko levou para casa medicamento para tratar alergia que afeta um familiar. “É de extrema importância para nós, indígenas. Que outros eventos como esse aconteçam mais vezes. Cheguei cedo para consultar a minha filha, que foi muito bem atendida, e já peguei o remédio pra ela”, frisou.
“Eu, minha família e resto do nosso povo estamos felizes, alegres e satisfeitos”, proferiu Shãpe Pyãko, após seus familiares receberem atenção médica e outros serviços da ação.
O que disseram
“Por meios dos esforços do titular da Sejusp, coronel José Americo Gaia, disponibilizamos apoio aéreo do Ciopaer, além do Gefron, que atuou para garantir a segurança das atividades e inibir a prática de crimes transfronteiriços na região. Além disso, contamos também com a participação de agentes da Polícia Civil e do Corpo de Bombeiros. Uma verdadeira união entre as instituições, demonstrando que esse é um caminho para melhorar a vida da população.”
Major Clélio Moura Pinto, coordenador da Sejusp no Juruá
“O Corpo de Bombeiros trouxe para cá uma capacitação sobre primeiros-socorros, com técnicas atualizadas de como proceder em casos de engasgos e paradas cardiorrespiratórias, além de instruções sobre procedimentos de reanimação cardiopulmonar. São orientações práticas, para que os indígenas tenham conhecimento para salvar membros da aldeia que estejam em situação de emergência.”
Edmilson da Silva Damasceno, sargento CB
“Encabeçado pela Sejusp, o programa Acre pela Vida tem o objetivo de estimular, por meio de prática esportivas como futebol, voleibol, jiu-jitsu e outros, os jovens, promovendo-lhes qualidade de vida e distanciando-os do uso abusivo das redes sociais e da criminalidade. O esporte é um investimento a longo prazo, que oferece condições necessárias para uma melhor formação dos nossos jovens. Aqui, na aldeia, realizamos um torneio, que premiou os participantes com medalhas e troféus.”
Josiane de Souza, capitão CB, representando coronel James Clai de Carvalho, coordenador do programa no Juruá
“A FEM trouxe para a Apiwtxa atividades que promoveram interação entre as crianças, como brincadeiras com uso de cordas, balões e a participação do nosso palhaço. Além de intercâmbio cultural, o nosso objetivo é trazer alegria e estimular o riso desse povo, que, assim como outros etnias, usa esse artifício como caminho para a busca do equilíbrio e para a cura de enfermidades.”
Cordolino Mota, coordenador da FEM no Juruá
“Em parceira com a pasta municipal de Assistência Social, a SEASDH realizou palestras sobre o Benefício de Prestação Continuada (BPC) para pessoas pessoas com deficiência e idosos a partir dos 65 anos. Além disso, realizamos o cadastramento no CAD Único. É uma troca de experiências, que fortalece ou cria políticas em prol dos povos originários.”
Carem Carvalho, coordenadora da SEASDH no Juruá
“A Organização em Centrais de Atendimento beneficiou os indígenas com o serviço digital. É uma forma de auxiliá-los com impressão de certidões estadual e federal e de segunda via de CPF e de cartões do SUS.”
Natalino Paulo de Souza, chefe de divisão da OCA em Cruzeiro do Sul
Ashaninkas do Acre
Os ashaninkas migraram do Peru para o Acre no final do século XIX. Atualmente, cerca de 2, 5 mil pessoas desse povo vivem em terras homologadas no estado.
Sua rica cultura apresenta traços únicos, como por exemplo a kushma, uma vestimenta tradicional deste povo, produzida por mulheres.
Entre 2018 e 2022, a Prefeitura de Marechal Thaumaturgo foi gerida pelo ashaninka Isaac Pyãko.