O Natal já chegou?

É a pergunta que meu menino mais me tem feito nas últimas duas semanas. Pois ele viu um vídeo com luzes e cores das festas natalinas e, depois de todos os piscas-piscas enfeitando tudo quanto é parede e monumento, o meu baby, chuchuzinho, bebezão, no auge de seus quatro anos recém-completados, só quer saber se o Natal já chegou.

Tenho certeza de que ele não é o único ansioso pela data. Depois de toda a intensidade de 2023, muita gente só quer saber quando o grande dia vai chegar e o décimo terceiro cair na conta. Todos ansiosos por um momento de descontração na data festiva validada universalmente, ou, pelo menos, comemorada pela maioria.

E não estou aqui para apresentar o já manjado discurso sobre como a data deve ser um momento de agradecimento, reflexão e união da família e de amigos. E de como alguns estão de mal com os consanguíneos e os de fora é que são mais chegados que irmãos. Como chatos se transformam em anjinhos nas festas e amigos secretos são uma bela surpresa. Alguém ainda acredita que vai receber um presente melhor do que deu?

Pior ainda seria voltar à deliciosa delinquência de colocar uva-passa no arroz branco, ou à grega, carreteiro, doce, de risoto, ou seja lá que tipo de arroz você come nas festas de fim de ano. Não estou aqui apenas pavê a retrospectiva do ano, ou pacumê os banquetes assados em brasa. Estamos aqui para falar sobre o que realmente importa. Nossos filhos.

Ah, mas eu não tenho filhos! E aí? E aí que.. mesmo que herdeiros estejam fora da sua programação de vida, todos somos crias da humanidade. E você pode até não ter um descendente só seu nesse passeio coletivo chamado sociedade, mas é, de certo modo, responsável pela experiência daquele par de olhos miúdos que percebem magia no mundo. Já parou para pensar nisso?

Somos exemplos para uma penca de crianças que brotam aos montes em árvores nas ruas e quintais. Pode ver qualquer galho de frutífera ao alcance das mãos que eles logo se penduram e montam em cima. E ficamos nós, os adultos, a contemplar aquele cacho de minigente, e a nos perguntar: quando foi que a última vez que me senti assim?

Virou rotina de adulto agendar mil e um compromissos, ficar chateado com tudo, se enrolar com os trabalhos de casa. E aí vem mais aquela pessoinha me fazendo a mesma pergunta o tempo todo. Foi então que eu olhei bem nos olhos dele. Abri a vista para os meus dois meninos e lembrei um pouco da minha experiência natalina. Era tão bom esperar o dia de acender as luzes da árvore e abrir os presentes.

E foi então que nós três sentamos no chão da cozinha, unimos farinha, ovo, leite, manteiga e fermento, com pouco açúcar, é claro. Com os meninos devidamente enfarinhados, acertamos a massa do bolo no forno e partimos para o banho.

E aí falamos do nosso dia, enrolamos mais um pouco por ali, mordiscamos uns pedaços quentes da obra assada e fomos dormir. Todo mundo aninhado, pertinho um do outro. Uma bela cena. Acho que é por isso que o 25 de dezembro lembra bem a imagem de admiradores em torno do bebê Jesus na manjedoura. E me traz a memória de como é bom esperar aquele momento, como criança curiosa a perguntar: o Natal já chegou?

O meu já!

Mãe de dois, Karolini Oliveira é natural de Rio Branco, no Acre. É jornalista e mestra em Letras: Linguagem e Identidade, pela Universidade Federal do Acre (Ufac). Em 2022, idealizou o Clube do Livro Prateleira, de discussão da literatura acreana. Na rádio Aldeia FM 96.9, é uma das locutoras do Minuto Mulher e, às sextas-feiras, fala sobre livros e autores acreanos no Jornal do Meio-Dia

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