Quando o governador Gladson Cameli participa, como palestrante, de um evento voltado para o debate sobre como integrar fatores sociais, ambientais e de governança no mercado de capitais e as experiências bem-sucedidas no Acre dos últimos anos, não busca apenas glamourizar seu currículo pessoal.
Ele coloca o Acre atual em destaque como protagonista das boas práticas ambientais e preparado para o mercado global, sem os resquícios de um vergonhoso passado recente, quando éramos conhecidos mundialmente como o estado onde a disputa de terra, aliada ao desmatamento em grande escala, chamava a atenção do mundo, principalmente após a morte do líder sindical Chico Mendes.
Na última semana, Gladson Cameli esteve no centro das atenções de um importante debate com empresários no Fórum Lide ESG de práticas ambientais e governança, onde palestrou sobre as políticas públicas na defesa da biodiversidade na Região Norte, com ênfase no Acre. E essa participação ganha ainda mais envergadura por ter sido realizada em um dos endereços mais nobres da economia brasileira, o Edifício Plaza Iguatemi, na Avenida Faria Lima.
Gladson foi recebido por um grupo importante, ouviu, falou, respondeu a muitos questionamentos, apresentou perspectivas e alternativas e saiu de lá com a certeza de que mais uma batalha foi vencida na mudança de paradigma sobre a importância do Acre para a economia do país e não só como corredor de passagem para grandes empresas levarem seus produtos aos mercados asiáticos pela estrada do Pacífico.
E não, isso não é merchandising governamental. É constatação da importância das participações de Cameli no cenário econômico do Brasil nos últimos quatro anos e meio, participando de reuniões, seminários, congressos e debates com empresários dos mais diversos setores, sobre a viabilidade econômica de se investir no Acre.
É um trabalho longo, árduo e que talvez (e provavelmente) não tenha resultado pleno na sua gestão, mas isso não é o mais importante. O importante é a semente plantada e regada para dar bons frutos no futuro do povo acreano.
Quem colherá as tâmaras?
Nisso, lembro-me de uma sabedoria do mundo árabe (acalme-se, não falarei sobre guerras) que trago comigo há muitos anos: o ditado da tamareira, árvore da tâmara, que é para o mundo árabe, judeu e muçulmano, tal qual a nossa banana ou mangueira.
O ditado, de muitos séculos, diz que ‘quem planta tâmaras não colhe tâmaras’, isso porque um pé de tâmaras tradicional leva em média 100 anos para dar os primeiros frutos. Vou transcrever aqui o diálogo mais tradicional dessa história:
Conta-se que, certa vez, um senhor de idade avançada plantava tâmaras no deserto, quando um jovem o abordou perguntando:
– Por que o senhor perde seu tempo plantando o que não vai colher?
O senhor olhou nos olhos do jovem e, calmamente, respondeu:
– Se todos pensassem como você, ninguém colheria tâmaras.
É sobre isso.
Gladson, na sua persistência em “vender” as boas práticas do Acre e colocar o estado como protagonista da governança ambiental na Amazônia, não está trabalhando para o hoje, o agora. Está trabalhando para o Acre do futuro.
E aí, talvez, você, caro leitor, entenda porque ele gosta tanto de dizer que sua maior prioridade são as crianças, ou, nas palavras dele, suas “autoridades”.
Mas isso é história para outro artigo.
Charlene Carvalho é acreana, jornalista de profissão, cientista social com habilitação em Antropologia de formação e apaixonada pelo Acre.