Quando se fala em Cruzeiro do Sul, automaticamente vem à memória a imagem da Catedral Nossa Senhora da Glória, uma das construções mais lindas e únicas que já vi. Conversei com o historiador cruzeirense Antônio Franciney de Almeida Rocha, a fim de saber mais sobre a história da construção do templo e fiquei impressionada com tudo o que ouvi e aprendi. Vimos muitas fotos antigas, comparamos com as atuais e é inegável a grandiosidade histórica e arquitetônica do lugar.
Apesar de ser cruzeirense e sempre ouvir muitos relatos sobre a catedral, eu não sabia de muita coisa; por exemplo, o primeiro templo cristão da região foi construído em 1914, a conhecida Igreja Matriz, localizada no alto do Morro da Glória. Com o crescimento da religião, surgiu a vontade de construir a catedral em outro local e, dada a grandiosidade da estrutura pretendida, padres alemães contrataram o arquiteto Jorge Rugardo Bercth. As obras se iniciaram em 15 de agosto de 1957 e em 15 de novembro de 1965 aconteceu a primeira missa na atual Catedral Nossa Senhora da Glória, celebrada pelo padre Dom Henrique Ruth. Bom, não é sem motivos que o dia 15 é tão importante para a Diocese.
O formato octogonal da parte superior da igreja sempre me chamou atenção, o que poucos sabem é que a cobertura, que possuía um formato novo para a época, foi montada no chão para ser erguida aos poucos, com a subida das paredes. Outra coisa que não passa desperecida pelos visitantes do local é a enorme pintura de Nossa Senhora do Apocalipse, inspirada no capítulo 12 do livro do Apocalipse. A imagem, de tirar o fôlego, assim como os umbrais, foram pintados pelo artista Lorenz Johannes Heilmair.
O que me surpreendeu nesse mar de informações foi saber que o sino que hoje faz parte da catedral foi retirado da antiga Igreja Matriz, antes que ela fosse demolida. O enorme artefato foi doado por J. M. Ruela e consagrado em 2 de março de 1947. Durante mais 60 anos, o famoso sino foi tocado pontualmente às 6 horas, ao meio-dia e às 18 horas, pelo senhor Alberto Rodrigues de Brito, que iniciou essa tradição quando tinha apenas 20 anos, quando a igreja ainda era de madeira, localizada no alto do Morro da Glória. A primeira badala aconteceu em 15 de novembro de 1965. O “seu Alberto”, como era conhecido, morreu no dia 22 de junho de 2023.
E o que dizer do famoso Novenário? A sua primeira edição teria acontecido em 1915, organizada pelo padre Luiz Domic, e um fato curioso é que a procissão ainda não seria em honra a Nossa Senhora da Glória. Possivelmente a tradição de honrar Nossa Senhora durante o evento se iniciou apenas em 1918. Até hoje, milhares de fiéis se reúnem tradicionalmente no dia 15 de agosto, na segunda maior festa religiosa da Região Norte; é o momento em que os católicos renovam a sua fé e honram a sua padroeira.
O que me chamou a atenção durante a conversa com o Franciney foi a sua paixão pela história, além da seriedade e respeito com que trata os fatos. Foi fácil conversar e gostoso ouvir tudo. Diego, Marquinhos e Demetrio estiveram comigo e, assim como eu, saíram ainda mais apaixonados pelas histórias de Cruzeiro do Sul. Mal posso esperar para descobrir muito mais!
Emily Vitória é repórter da Secretaria de Estado de Comunicação no município de Cruzeiro do Sul