Criador do Sempre Um Papo fala ao Acre

Escritor, produtor cultural e empresário, o mineiro Afonso Borges também já se aventurou na música, tocando violão em bares na juventude, mas a literatura sempre foi mais forte em suas atividades e a inquietude, ousadia e criatividade lhes permitiram que ele criasse um projeto nessa área. A idéia começou com um show e logo se expandiu. Hoje o Projeto Sempre Um Papo (SUP) saiu de Belo Horizonte, ultrapassou fronteiras e chegou a outros Estados, entre eles o Acre.

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Afonso participa do Sempre Um Papo com Zuenir Ventura em Rio Branco, nesta segunda-feira (Foto: Divulgação)

 

Afonso já recebeu vários prêmios pelas suas ações em prol da cultura, foi membro da Câmara da Indústria da Cultura, trabalhou no Itamaraty / Ministério das Relações Exteriores como consultor para assuntos de cultura entre várias outras atividades que exerceu ao longo da carreira. Desde 1986, dirige os trabalhos da AB Comunicação e Cultura. É o responsável pela criação, coordenação e desenvolvimento do "Sempre Um Papo". Em conversa com a Agência de Notícias, ele fala do projeto no Acre, e do último encontro de 2008, em Rio Branco, com Zuenir Ventura, segunda-feira, 15, no Teatrão, do qual participa.

 

Como surgiu a proposta de fazer o projeto Sempre Um Papo e porque esse nome?

 

Aos 23 anos de idade, eu era poeta e ganhava a vida tocando violão em bares de Belo Horizonte, no melhor estilo “um banquinho e um violão”. Durante o dia, era poeta; não só daqueles de apenas escrever, mas de andar pelas ruas buscando argumentos para um novo texto. A literatura estava diretamente ligada à minha rotina. E foi por acaso que ela se tornou o meu ideal de vida. Em março de 1986 resolvi fazer um show diferente. Convidei um escritor para conversar com o público nos intervalos de minhas apresentações musicais. O padrinho foi Oswaldo França Jr., que, por amizade, aceitou meu chamado e falou sobre seu livro “Jorge, Um Brasileiro”. A casa ficou lotada. E assim vieram outros, até que Frei Betto – um ídolo distante para mim naquela época, que acabou se tornando um grande amigo – profetizou: “Isso aqui é Sempre Um Papo”. Minha vida começava a mudar. Larguei o violão e passei a me dedicar exclusivamente aos livros. Não aos meus, mas os dos outros. Minha missão, a partir de então, era promover autores e títulos através da conversa, em um projeto batizado por Frei Betto meio que sem querer.

 

A leitura no Brasil é sempre um desafio. Em quanto tempo o projeto conseguiu se consolidar em Belo Horizonte?

 

Hoje, nosso desafio é nunca parar de trabalhar para a consolidação, uma vez que nosso objetivo é formar público leitor e que ele está sempre se renovando. Mesmo em Belo Horizonte, cidade onde estamos há mais de 20 anos, todos os dias nossa missão é atrair um novo público, principalmente o jovem. É nisso que acreditamos.

 

Como foi o processo de expansão para outros Estados?

 

A partir de 2003, começamos nossa expansão pelo Brasil, começando pelo Rio de Janeiro. Hoje são 25 cidades de 9 estados. O que mais nos impressiona é que os eventos acontecem com o mesmo formato, independente do local, e o público participa ativamente. Seja em São Paulo, onde acontecem centenas de atividades culturais simultâneas, ou no interior do Pará, os eventos são pensados com a mesma qualidade e os resultados são incríveis.

 

O SUP vai além de encontros entre escritores e leitores. Quais suas outras ações?

 

O que antes era somente os bate papos com escritores, hoje é uma rede de programas e projetos relacionados ao livro e à leitura. Temos um projeto de bibliotecas comunitárias, programas de TV e rádio, séries de DVDs educativos, entre outros. Em todos eles, o escritor é a principal estrela. É bom mostrar para todo mundo que temos bons escritores brasileiros e que eles falam tão bem quanto escrevem.

 

E as expectativas para sua primeira visita ao Acre?

 

Estou muito animado, principalmente porque o Acre é um dos estados que mais nos dá alegria. Apesar de ainda não ter participado presencialmente dos eventos, trabalho diariamente na escolha dos convidados e  temas oferecidos em Rio Branco. Para a operação, temos o Fred Perillo que é um parceiro excepcional e trabalha muito bem para o sucesso dos eventos.

 

Você imaginava essa consolidação do projeto em Rio Branco?

 

A consolidação do projeto em Rio Branco é mérito do Fred Perillo e da própria cidade, por meio do poder público, iniciativa privada, imprensa e moradores. Se depender de nós, o projeto nunca vai deixar a cidade. Queremos também expandir nossa atuação no interior, principalmente com o programa de TV e a série de DVDs educativos. Esse é um dos objetivos da minha viagem ao Acre.

 

Fechar o ano com Zuenir Ventura, exatamente 20 anos depois do assassinato de Chico Mendes, trata-se de um evento especial, emblemático… O que você espera e o que os escritores podem esperar desse encontro?

 

Sou amigo do Zuenir Ventura desde que ele foi ao Acre cobrir a morte do Chico Mendes para o jornal. Acompanhei de perto os bastidores da cobertura e hoje me sinto honrado em participar de um evento em homenagem ao Chico, entrevistando um dos melhores jornalistas brasileiros, no Acre. Acredito que será uma aula de história, ética, lealdade. Um evento para nos encher de orgulho pelo que melhoramos e para nos alertar sobre o que ainda temos a fazer – e isso não é pouca coisa. Além disso, o Genésio Ferreira da Silva ficou escondido na minha casa, a pedido do Zuenir, durante seis meses.

 

Quais os rumos do Sempre Um Papo em 2009 no Acre e nos outros Estados?

 

Nossa expansão continua pelo Brasil e agora se consolida na Europa. Este ano, realizamos eventos com escritores brasileiros em Madri, na Espanha, e, em 2009, a expectativa é levar também para a Itália. No Acre, temos que consolidar as relações de parceria com o poder público e iniciativa privada para conseguirmos viabilizar mais eventos no próximo ano. Tem muito escritor consagrado querendo conhecer o Acre e também temos que valorizar a cultura da região. Queremos investir nisso.

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