Por Charlene Carvalho*
Devorei com paixão os stories, feed, textos e coments do Pablo Charife na semana passada durante sua viagem a Cruzeiro do Sul. Talvez por minha conhecida paixão pelo Juruá, seus vales e igarapés. Talvez seja pela minha paixão pela floresta. Talvez, e é provável que seja, só saudade mesmo.
Lembrei de minha primeira viagem ao Juruá em um longínquo Natal de 1992. Sério. Foi paixão à primeira vista.
Não. Não foi paixão.
Foi amor.
É. Foi amor.
Amor de verdade. Daqui até a eternidade.
E a viagem do Pablo me trouxe à memória uma vida inteira de paixão, dor e amor pelo Juruá, notadamente pela serra.
É, baby.
Sou do tempo em que o Parque Nacional da Serra do Divisor era só a serra, para onde apenas poucos incautos se aventuram para um bom banho no Buraco Quente, na Formosa e na Cachoeira do Amor, amorosas.
Não tinha pousada, mirante, mas tinha céu de estrela. Lagos perdidos (porém encontrados) na imensidão verde da floresta encantada.
E, deixa te dizer, sou do tempo em que foram escritas as músicas mais lindas canções sobre a região. Uma delas diz: pássaros livres no ar, o Moa beijando o Juruá… Samaúmas-pessoas e flores, um vale cheio de amores, igual não há.
Tive o privilégio de ser uma das primeiras pessoas a ouvir o Alberto Loro cantar “Vale do Juruá”, quando a letra nem estava pronta. Naquela época ninguém sabia onde ficava o Tejo, Bajé, Acuriá (e até mesmo Cruzeiro, Feijó e Tarauacá). Imagine então falar do Amônia (a aldeia dos Ashaninka era até em outro lugar, acredite.
Mas éramos livres. E felizes.
É, meu Juruá, você (até) me faz cantar!
Logo eu que nem sei bater palmas.
Mas voltando, enquanto escrevo esse artigo lembro do amigo Loro (de saudosíssima memória) cantando: vocês precisam ouvir a voz, que vem de lá/ vocês precisam ver a beleza do lugar.
Toda essa memória faz parte da minha identidade. Uma identidade acreana (com e mesmo, porque jamais serei acreana com i) díspar para alguns, mas autêntica. Real, absoluta, afirmativa, vívida. Uma acreanidade que me permite entender bem o significado das samaúmas-pessoas da canção do Loro.
Isso me remete a outra música. Seu nome: Benke. Seu autor: Milton Nascimento. Benke é um poema. Um poema maravilhoso de amor à floresta. Ao Juruá. Como diz a letra: Tem a água, tem a água, tem aquela imensidão/ Tem sombra na floresta, tem a luz no coração.
Parafraseando Milton, o Juruá é um belo e raro beija-flor de amor que me leva como o vento leva a folha.
Sabe, o amor não tem explicação. Ou se vive, ou se morre. E há amores que mesmo enterrados permanecem vivos. Amar o Juruá é um pouco disso. O Beija-flor pode até te mandar embora para que desapareças na curva do rio. Mas a floresta de joia que é esse vale encantado de lagos poucos conhecidos não tem só estrelas no firmamento.
Ouvir a voz quem vem de lá e a beleza do lugar é ter esse sentimento de pertencimento sobre ser acreano. O lugar não é só o vale cheio de amores. É o Acre inteiro com seu relevo, sua relva, sua floresta, seu povo.
Não sei quantos lugares você conhece no Acre. A mim falta o Jordão, mas passei da idade de andar de teco-teco. Fica para outra oportunidade. Conhecer o Acre foi e é uma das experiências mais maravilhosas que vivi nos meus quase 52 anos de vida. O jornalismo me proporcionou isso. E sou grata.
Por isso te convido a aproveitar melhor 2022 para conhecer a beleza de um lindo lugar onde nascemos crescemos, vivemos. O Acre é muito mais que Rio Branco e Brasileia. Não desmerecendo Rio Branco, que amo, e muito menos Brasileia. Mas porque temos belezas naturais maravilhosas, um povo acolhedor, e graças a Deus, uma infraestrutura turística bem mais eficiente que nos primeiros anos dessa jornada.
Talvez você não se apaixone pelo Juruá como eu, mas caia de encantos pelo Purus, por Sena Madureira, Tarauacá (o Gregório é de uma beleza extravagante), Yawanawa, Ashaninka, Katukina, Apolina-Arara ou pelo açaí da sorveteria ao lado quartel do corpo de bombeiros de Feijó.
Não sei. São muitos talvez. De certo, só posso dizer: mergulhe fundo nessa experiência e apaixone-se pelo Acre como o Pablo e a Maxine se apaixonaram pela Serra e como o suíço Kevin, namorado da Ana Clara Campelo, uma acreana que vive na Suíça, se apaixonou pela Clara, pelo tacacá, o açaí e o buriti.
Lá tem Estrela d’Água que molha a alma e a Serra do Divisor é uma dessas experiências que lhe permitem conhecer melhor.
Com amor,
Charlene
Charlene Carvalho é jornalista, acreana de Sena Madureira e, obviamente, apaixonada pelo Juruá