Os balões podem assustar algumas crianças, causando choro e até pânico. De fato, o ruído das bexigas flutuantes quando estouram não é agradável. O som, o toque e a lógica das coisas para as crianças autistas são compreendidas de modo peculiar. Além disso, para os pais e adultos próximos, conhecer e entender os comportamentos relativos ao transtorno do espectro autista (TEA) não é simples, pois há muitas particularidades envolvidas, tendo em vista os graus de intensidade e as classificações.
Os especialistas destacam as variedades no TEA, compostas pelo autismo clássico, a síndrome de Asperger e o distúrbio global do desenvolvimento, contextos em que é preciso entender as principais características, incluindo as dificuldades, manifestas de modo leve, moderado ou severo; a comunicação, o campo emocional, o espaço de socialização e até as funções motoras.
A criança com TEA se expressa de modo diferente das demais, de modo que sua linguagem é literal. O comportamento dos pequenos autistas varia, cada qual tem um mundo interior e, a depender do diagnóstico e da intensidade do transtorno, pode haver diferenças notáveis. Nesse contexto, os estímulos e o acompanhamento multiprofissional podem gerar progressos no campo cognitivo, emocional e na interação social.
A abordagem sociointeracional de Vygotsky trata de relacionar a educação e a aprendizagem por meio das relações humanas, e isso é uma convenção social. O ato de tocar alguém é comum em muitas culturas, principalmente, na brasileira, e demonstra, na maioria das vezes, afeto e intimidade, porém, não é dessa forma que os autistas recebem essa atitude. Um abraço, por exemplo, pode ser visto de forma invasiva ou até insignificante, e isso não é voluntário, é apenas um jeito de ser. O sentir da criança autista é singular, isso é notório? Para algumas pessoas, sim, por conta da experiência com algum parente próximo, mas, para muita gente, não, daí a importância de se conscientizar e procurar entender o autismo e suas facetas.
A vida é feita de uma explosão de sentimentos, eles se mesclam facilmente, e para os autistas na fase infantil, as emoções são potencializadas. O riso, o choro e as lágrimas podem não ter um filtro de alegria, dor ou tristeza, eles podem surgir naquele momento, sem razão aparente. Como sei isso? Convivi com um autista por um ano, então, recordo inúmeros detalhes; e no dia a dia podem-se notar sinais que poderiam passar despercebidos para quem não sabe como se manifesta o TEA.
Nesse universo dos incontáveis autistas, a atenção em pessoas fica de fora, a concentração passa a ser sobre os objetos, e a diversão se concentra nos carrinhos, nas bonecas, animais de brinquedo e objetos geométricos. Geralmente, não há fantasia nesses objetos, não se brinca de imaginar situações com o outro, mas existe uma repetição de movimentos.
Essa realidade é um tanto dolorosa para mães e pais, principalmente se for projetada para o futuro, visto que a educação importa e as convenções sociais também, e, num espaço de ensino, certa vez escutei: “Meu filho não é preguiçoso, isso não é manha, mas tem dias que ele acorda e não quer ir à escola”. Nesse desabafo, há uma mescla de dor e tristeza, que só se pode ver na expressão de quem a falou.
Muitos pais não conhecem o tratamento, não sabem quem procurar, não sabem o que fazer, e, às vezes, até negam, muitos por medo. Medo da indiferença, da rejeição e do preconceito. É preciso estar consciente sobre as nuances do TEA, procurar ajuda médica e assistência dos centros especializados. Existe uma lei que garante todos os direitos do autista, o acesso à saúde, à educação e ao trabalho. É preciso vencer as barreiras, disseminar o respeito e a informação.
Danna Anute é estudante de Jornalismo é estagiária na Fundação Hospitalar do Acre