No bairro Mauri Sergio, ruas que hoje são intransitáveis serão asfaltadas e urbanizadas
O bairro Mauri Sergio está inserido em uma Zona de Atendimento Prioritário (ZAP), conceito criado pelo Governo do Estado para levar serviços básicos e estruturantes às comunidades carentes do Acre, e a história de sua formação remonta às invasões de terra, muito comuns na década de 1980 e 1990 por falta de uma política habitacional séria e objetiva.
O bairro tem sua como sua região central um fundo de vale, divisor de bacia hidrográfica, onde o esgoto corre a céu aberto. Com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) o bairro será urbanizado e receberá obras de saneamento básico, rede de água e esgoto, drenagem, remoção de famílias das áreas de fundo de vale com realocação em unidades habitacionais de qualidade, recuperação ambiental com tratamento do fundo de vale para uso comunitário e projeto social com a comunidade.
Ali, o Governo do Acre estará investindo ao longo de 18 meses mais de R$4,9 milhões em recursos do PAC impondo o fim do sofrimento para centenas de famílias que vivem no bairro Mauri Sergio, como a de Rosineide Rodrigues, que vive com outras cinco pessoas -o marido e quatro filhos -numa casa de madeira de 4mx5m -ou três metros quadrados para cada membro da família. Ela e a família devem ser removidos para o conjunto habitacional que estará sendo construído numa área de campo de gado no meio do bairro. Rosineide mora na esquina da Travessa São Vicente com Travessa São Matheus numa casa sem banheiro e sem água encanada. As dificuldades, diz ela, são muitas. Tudo por falta de estrutura de urbanização. "Mas eu tenho esperança de que o que vão fazer será para melhorar as coisas para a gente", disse.
Moradora antiga, a ex-seringueira Maria Lopes se diz ansiosa pelo início das obras, previsto para os próximos dias. Ela relata o sofrimento para manter-se longe da água escura e fétida que corre "de verão a verão" em frente a sua casa na Travessa São Matheus, uma via completamente tomada pelo e pela água que praticamente não seca mesmo sob intenso verão. "Quero mesmo que saia logo uma rua aqui. No inverno, chego a colocar barro no portão para evitar que a água do esgoto chegue no meu quintal", disse.
As Zonas de Atendimento Prioritário (ZAPs) são um conceito de política pública para levar serviços básicos e estruturantes às comunidades mais necessitadas do Acre. As ZAPs surgiram a partir do Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE), o mapeamento mais detalhado que o Estado produziu acerca de seu território, população e recursos, naturais ou não. Junto com as Zonas Especiais de Desenvolvimento (ZEDs) as ZAPs compõem os eixos do projeto sócio-econômico-ambiental que farão do Acre o melhor lugar para se viver na Amazônia em 2010.
As ZAPs urbanas estão localizadas em fundos de vale e as rurais estão em terras indígenas, unidades de conservação, assentamentos tradicionais e assentamentos diferenciados. Nas cidades, as ZAPs apresentam baixa urbanização, assentamento precário com baixo capital social, vulnerabilidade ambiental, elevado número de pessoas vivendo em condições de pobreza e miséria, e com alto índice de pessoas envolvidas em infrações, contravenções e crimes.
PAC: significa Programa de Aceleração do Crescimento e se constitui em mais que um programa de expansão do crescimento. Ele é um novo conceito de investimento em infra-estrutura que, aliado a medidas econômicas, vai estimular os setores produtivos e, ao mesmo tempo, levar benefícios sociais para todas as regiões do país. O PAC irá investir, nesta primeira fase, R$103 milhões em cinco ZAPs de Rio Branco, transformando áreas que estão socialmente e ambientalmente degradadas em mini-Parques da Maternidade.
Esgoto contaminou poços de água
A falta de drenagem e de esgotamento sanitário provocou a contaminação de alguns poços artesianos na Travessa São Mateus e alguns moradores mudaram de bairro. A contaminação ocorreu durante o inverno, quando as águas inundam os quintais.
Um dos atingidos é irmão e vizinho de Maria de Jesus, cuja exposição ao esgoto a céu aberto acabou provocando problemas de saúde que a impedem de trabalhar como empregada doméstica, meio pelo qual ganhava algum dinheiro. "Tenho fé que essa rua vai ficar boa e vamos poder montar algum negócio, um salão de beleza, um comércio para ganhar dinheiro", planeja Maria de Jesus. Vizinhos com problemas de água usam o poço dela abastecer suas casas.
Rocilda Sena dos Santos mora há três anos no bairro e afirma que, por causa do esgoto e do matagal, os quintais da redondeza são frequentemente visitados por cobras e outros bichos. "Aqui dá de tudo, principalmente no inverno, quando fica alagado", disse.
Quando chove, água suja invade quintais
Depois de quase quarenta anos produzindo borracha no Seringal Mercês, em Rio Branco, Francisco Gomes dos Santos decidiu morar na Travessa São Matheus em uma época que sequer nome a rua tinha -e lá se vão 18 anos desde o dia da chegada ao Mauri Sergio. Observador, ele marca na memória os níveis que a água chega na cerca de sua casa. "Quando acontece alagação, aparece tudo quanto é bicho por aqui", conta ele, que já foi mordido de cobra enquanto saía de casa. "Muita coisa mudou e acredito que muitas ainda irão mudar mais", afirmou.
O sistema de drenagem irá colocar um fim a essa situação, assegura o técnico de campo Marlon Jones, que atua naquela ZAP.