Em muitos lugares do país, a flexibilização social está ocorrendo, mesmo com o nível alto e crescente de contaminação pelo coronavírus. Em Rio Branco, o governador do Estado, Gladson Cameli, disse que o comércio será reaberto em breve. Não sejamos pessimistas, mas vejamos nossa realidade. A maioria da população é composta de servidores públicos e não abastece nenhum mercado que não seja o da alimentação e de medicamentos.
No afã de sair de casa, algumas pessoas nem precisam fazer compras, ou gastar dinheiro. O que elas querem, o que estão desesperadas para “consumir” é interação social. Não com aqueles seres humanos das suas redes sociais, com quem, de certa forma, o contato virtual mantém algum vínculo. As pessoas estão desesperadas de carência por convívio com pessoas de fora do seu mundinho. Isso é mais que compreensível, mas nem tudo o que pode ser entendido pode ser justificado.
Estive relendo a biografia de Tchaikovsky e entendi como uma atitude suicidária ele ter, voluntariamente, bebido água contaminada com a bactéria que causa a cólera. Pode ter sido, sim. Mas pode ter sido, também, apenas uma sede louca e a falta de um palito de fósforo para ferver a água. Por que ele não ferveu aquela água ninguém nunca vai saber. Mas cabe a cada um de nós tentar não ceder a esse impulso de interação social, tão primário quanto a sede, mas que pode significar não só um passo rumo à própria morte, como um passo rumo à morte de outra pessoa.
Não sei quanto tempo cada um suportará. Não estou falando da necessidade de trabalhar nem do consumo por necessidade de sobrevivência, fique bem claro. Estou falando de uma necessidade básica do ser humano, como espécie, que é a interação social.
É duro se privar como seria jejuar ou seguir uma dieta muito restritiva. É de ficar doente, sim. Mas a razoabilidade é o imperativo que nos coloca nesse caminho por um instinto natural: o da sobrevivência da espécie.
Desejo, mais que força, bravura a todos, tanto os que são obrigados a enfrentar a pandemia para trabalhar quanto os que são obrigados a enfrentar o confinamento para colaborar com a coletividade. Sem força de vontade real, ninguém conseguirá. Nem uma coisa, nem outra. O caminho é puro espinho, seja ele qual for. Sejamos bravos!
Beth Passos é jornalista