É um engano achar que a meditação está relacionada a alguma religião específica. O senso comum normalmente associa essa prática, sobretudo, à religiosidade oriental, ao budismo, ao hinduísmo e etc. Mas isso não é verdade. Para meditar não importa a religião a qual se pertença. Qualquer um, seja cristão, muçulmano, budista, hinduísta, espírita, umbandista, daimista, ou de qualquer outra linha religiosa, ou até mesmo um ateu, pode e deve meditar. A meditação é um processo de autoconhecimento e de auto-observação que não tem nenhuma relação com religiosidade.
O momento que o mundo atravessa com a pandemia do Covid-19 traz muitas incertezas. E o isolamento social pode gerar incontáveis problemas psicológicos. O tempo ganhou uma nova dimensão na vida de todos que pode levar a um apego ao passado ou à ansiedade com a expectativa de um futuro incerto. Mas nenhum desses dois estados psicológicos extremos é aconselhável por não serem reais. Só é possível viver o presente. O passado já se foi e o futuro é uma projeção psicológica. A meditação funciona exatamente para frear essas divagações e estabelecer o indivíduo no presente.
Mas como conseguir manter-se fixado no presente? Através da observação da própria respiração. Esse é o primeiro conhecimento de qualquer ser humano logo ao nascer. Com um tapinha na bunda o recém-nascido aprende a respirar. Mas apesar da respiração ser essencial à sobrevivência no decorrer da vida as pessoas vão se esquecendo desse conhecimento primordial. Passam a respirar automaticamente sem prestarem mais atenção no elo que as liga com a eternidade.
Muitas vezes comem o ar e se sufocam em pensamentos descontrolados. A matemática é simples, se a sua respiração for consciente e suave você estará tranquilo e saudável. Por outro lado, uma respiração ofegante e agitada denota medo e descontrole e, consequentemente, a doença. E para aprender controlar o fluxo da respiração não é preciso ter nenhum mestre ou coach do outro mundo. Basta você parar por alguns minutos no seu dia com o propósito de se autoconhecer.
Se puder tome um banho e arrume-se para encontrar-se consigo mesmo. Escolha um lugar tranquilo dentro da sua casa e sente-se, numa cadeira ou no chão, com a coluna reta, os braços relaxados e as mãos sobre as pernas espalmadas. Feche os olhos e respire por três vezes fortemente pelo nariz e solte o ar pela boca com energia. Depois deixe a sua respiração se estabilizar e só observe o ar que entra e sai do seu corpo. Permaneça assim por alguns minutos.
Durante essa prática certamente virão muitos pensamentos, mas não se importe com eles. Eles virão e irão naturalmente. Volte novamente a sua atenção para a sua respiração a cada pensamento indesejado. Você pode ainda associar cada inspiração pelo nariz e expiração pela boca a uma palavra a ser repetida mentalmente. Que seja algo que represente pra você a eternidade, o que está além da vida e da morte. Por exemplo, você pode repetir Sol mentalmente a cada respiração para ajudar a firmar a sua mente. O Sol já estava por aqui quando o seu corpo chegou a esse mundo e continuará brilhando depois que você se for. Mas pode ser algo espiritual, o nome de um mestre, de um santo, ou o que te for mais confortável conforme as suas crenças.
Mas resista à tentação de achar que fazer essa prática é besteira e que você tem muito mais a fazer do lado fora, porque pode ter a certeza que não tem. O seu mundo interior é um universo muito mais amplo do que você pode imaginar. Se dê tempo para se conhecer, se auto-observar. Serão alguns minutos no seu dia que se tornarão preciosos para todo o resto da sua jornada diária. Ainda mais num momento de medo e de incerteza como o que estamos vivendo.
A meditação trará segurança pra você fazer a travessia. Aos poucos irá te colocar em contato com o seu verdadeiro Ser. Porque muito do sofrimento humano deriva da falsa identificação com o corpo. As pessoas pensam serem apenas um corpo e a perspectiva de envelhecimento e da morte, desencadeia processos de medos terríveis. Mas que não passam de estados psicológicos ilusórios. Porque o Ser que habita o nosso corpo (o verdadeiro Eu) não irá se acabar com a decadência da matéria.
Estabeleça-se no presente aqui e agora. Não espere para ser feliz em algum paraíso prometido no futuro. Realize-se nessa vida e aproveite o seu tempo para se autoconhecer. Seja feliz com os dons que Deus te deu e não condene as suas imperfeições. Por mais voltas que um rio possa dar durante o seu curso certamente chegará ao Oceano. Despertando através do conhecimento de si próprio, e consequentemente de Deus, com seus infinitos nomes, você estará realizando a sua verdadeira natureza.
Nelson Liano Jr. é jornalista, escritor e diretor de comunicação da Secom.