Alunos do Colégio Militar Dom Pedro II, de Rio Branco, replicaram em sala de aula, a experiência inovadora de produção de grafeno a partir da esfoliação mecânica do grafite, material utilizado no lápis. Tal façanha científica recebeu a premiação máxima na área, o Prêmio Nobel de Física de 2010.
Os cientistas Andre Geim e Konstantin Novoselov da Universidade de Manchester produziram o grafeno isolando camadas de carbono de grafite utilizando uma fita adesiva e mostraram ao mundo como era possível extrair de forma simples um novo material, altamente rentável e de diferentes aplicações. Para se ter uma ideia, um quilo do grafeno custa em média quinze mil dólares.
“Os cientistas conseguiram extrair uma camada de átomos, de carbono, e conseguiram fazer o material mais resistente do mundo, duzentas vezes mais resistente que o aço, o melhor condutor elétrico do mundo. E nós, conseguimos reproduzir esse experimento dentro da sala de aula. Esta é a primeira vez que isso ocorre em uma escola pública de nível médio”, detalhou o professor de Ciências e Biologia, Rodrigo Eberhart.
Durante a demonstração da experiência científica, os alunos mostraram à nossa equipe de reportagem como as aulas têm sido atrativas e despertado o interesse de se buscar novas informações e aprender além do conteúdo trabalhado na sala de aula.
O material pode ter utilizado no campo da eletrônica, em telas touchscreen extremamente finas. Computadores equipados com grafeno, por exemplo, seriam muito mais velozes.
“Temos como exemplo, também, o uso do grafeno em tintas usadas nas roupas dos bombeiros na Coreia do Sul, que permitem a exposição ao calor, por mais tempo, sem se queimar. Estou impressionada com tudo o que estamos aprendendo. O ensino aqui é de qualidade e eficiência”, disse a aluna Beatriz Silva.
A próxima etapa do projeto é utilizar o grafeno para se criar um filtro capaz de eliminar as impurezas da água. Para isso, a proposta é transformar o óleo de soja em grafeno e depois se criar o filtro. Para se colocar em prática o experimento científico, a escola necessita da criação de um laboratório.
“Uma gota de óleo de soja pode contaminar mil litros de água. Aquecendo o óleo, vamos conseguir fabricar o grafeno. Estamos desenvolvendo este trabalho de pesquisa de forma adaptada para a realidade do Acre. Nossa proposta é mostrar que a ciência pode mudar o mundo, com uma inovação cientifica, podemos aumentar a qualidade de vida das pessoas, que poderão ter acesso a uma água puríssima”.
Desenvolvimento das potencialidades
O Colégio Militar Dom Pedro II foi criado por uma lei ordinária em dezembro de 2017, é subordinado ao Corpo de Bombeiros do Acre e conta com apoio técnico pedagógico e estrutura logística da Secretaria de Estado da Educação, Cultura e Esportes (SEE).
Atualmente, atende a 781 alunos do ensino fundamental II e do ensino médio em dois turnos. A proposta da escola é oferecer ao educando a formação necessária ao desenvolvimento de suas potencialidades, auto realização e preparo para o exercício consciente da cidadania. Dentro deste contexto, a unidade aposta na elaboração de projetos que incluam os alunos em aulas práticas.
De acordo com a coordenadora pedagógica do Colégio Militar, Angélica Batista, uma cópia do Projeto de Ciências “Água Limpa para a Amazônia com o uso do filtro de grafeno” que vem sendo desenvolvido na escola foi encaminhado ao Ministério do Meio Ambiente e eles já obtiveram como retorno a promessa da vinda do ministro ao Acre para conhecer a iniciativa. “Este é um projeto inovador. Sempre falo para os professores, nós não vamos inventar a roda, mas podemos mostrar de que outras formas a roda pode ser utilizada. Pegar algo que já existe e transformar em algo inusitado”, disse.
Empolgação que contagia
A busca por desenvolver a ciência e a tecnologia e o amor pelo compartilhamento de conhecimento fazem do professor, um profissional diferenciado e respeitado pelos alunos. A empolgação em ir além das aulas teóricas contagia a comunidade escolar. Ao explicar o passo a passo do experimento cientifico Rodrigo demonstra o amor que tem pela ciência e pela escola.
O trabalho vem sendo reconhecido pelos alunos. O estudante Arthur Matias, de 13 anos, é um dos mais envolvidos com as aulas de ciências. Ele gosta do assunto e auxilia o professor com os demais colegas. “Estamos falando do futuro da humanidade. Tenho muito interesse em conhecer a estrutura das coisas. Nosso professor faz toda a diferença, o desempenho dele vai além, contagia”.