Promovido pelo Acre Solidário e amigas, o encontro Inspiração Feminina – Histórias de Vida, ocorrido na quinta, 24, no Afa Jardim, foi um compartilhar de histórias promovendo um momento de escuta, de energia transformadora onde pessoas convidadas apresentaram suas narrativas de vida.
Durante duas horas, espectadores puderam ouvir histórias universais. Foram sete narrativas reais entremeadas por intervenções artísticas criando um ambiente de acolhimento, colaborativo e transformador.
Uma mostra de artesanato e comida regional foi montada no espaço de lazer. Os convidados foram recebidos pela clown Sinira, personagem da atriz Carol Di Deus e Maria Bonita em perna de pau, de Romualdo Freitas.
Histórias de vida
A primeira história foi narrada pela transexual e militante de direitos humanos Rubby Rodrigues. Ao subir ao palco sua apresentação foi conduzida pela canção Todo Homem de Zeca Veloso. A ativista falou sobre coragem, superação e na afirmação do outro compreender que ele pode sim ser feliz a partir do que ele é e do que se identifica.
“Toda essa energia transformadora vem de minha mãe. Nós podemos sim construir algo bom para o coletivo com respeito ao outro, ao que ele é, de como se situa no mundo, se identifica, independente de classe, gênero, raça, etnia etc”, disse.
Em seguida dona Raimunda de Assis falou de sua experiência de voluntariado. Há mais de quinze anos, às quartas-feiras, ela serve sopa para mais de 300 pessoas na Baixada do Sobral.
“Não tem tempo ruim. Tem gente que diz que tem depressão, eu não tenho nada disso. Nós estamos aqui nesse mundo é para servir, pois qual sentido seria se não fosse para isso. Acumular riquezas? Não iremos levar nada daqui. O que podemos levar é o cuidar com o outro, isso sim, tem um valor divino”, comentou.
Com seu canto, a jovem indígena Bismani Huni Kuin narrou a história de vida das mulheres na aldeia, passando pela cultura e ancestralidade, o artesanato e cânticos de seu povo. “Esse espaço do Inspiração me fez olhar para mim e pensar no passado e no meu presente. Na aldeia e na cidade. Agradeço”.
Uma das narrativas foi contada pela ex-empregada doméstica, técnica contábil, Maria Preta. Para ela a democracia racial é uma farsa.
“O preconceito está na minha vida desde que nasci. Preta e pobre. Muitas vezes pedi para não ter um filho, não queria que ele passasse pelo que passei. Mas hoje, tenho o maior orgulho de minha luta e de ter conseguido com que ele entrasse na universidade, em outubro ele se forma em Direito. A luta pela igualdade de raça, direitos da mulher e fim do preconceito a pessoa negra é constante”.
As histórias se seguiram com Jersey Brasil, gestor público, que ao perder sua primeira esposa teve que buscar forças para criar seus dois filhos fruto dessa união. “Essa energia transformadora que é o feminino foi que me moveu a chegar até aqui”.
A assistente social Lídia Sales fez sua narrativa sobre uso da bicicleta como alternativa para mobilidade urbana.
O evento encerrou o ciclo de histórias com a funcionária pública aposentada, Neide Mesquita. Ela falou da luta para conseguir livrar sua filha Patrícia do vício das drogas, uma saga que durou 25 anos.
“O amor materno não tem como ter dimensão. Ele é além e capaz de tudo, inclusive de abrir mão de si mesma para cuidar da sua prole, e principalmente de algo que ameaça sua vida”, disse.
Artes – O Inspiração Feminina – Histórias de Vida contou também com a participação dos artistas Regina Cláudia com um número de dança embalado pela música Beatriz; apresentação de Slam com Jhulia Z e a performance da drag queen de Cesar Deluck em “Geni e o Zepelim” de Chico Buarque.
“Quem cuida, quem ajuda, quem tem confiança e amor aos filhos e ao ser humano, tem uma história linda para contar. O Inspiração vem de algo construído do coração, do coletivo, da vontade de compartilharmos a luta política e a liberdade, o amor. Um espaço de diálogo e da sabedoria. Esse é o primeiro e iremos construir uma agenda até o final do ano”, disse a primeira-dama Marlúcia Cândida, coordenadora do Acre Solidário, no encerramento do evento.
O encontro contou com o apoio do governo do Estado, por meio da Fundação de Cultura Elias Mansour e Secretaria de Estado de Comunicação (Secom).