Com o neto no colo, Francisco, nascido na floresta de Tarauacá, no Acre, aproximou-se do governador Tião Viana, que visitava sua cidade no último sábado, 26, querendo dizer algo. Parecia ansioso e tinha um brilho de felicidade no semblante que chamava atenção.
O governador parou e se iniciou a conversa sobre o programa Quero Ler. “Obrigado”, disse Francisco. “Já aprendeu a ler e escrever?”, perguntou Tião Viana.
Era exatamente o que aquele homem simples, profundo conhecedor da mata e da natureza queria dizer. Sim, ele já sabia escrever o nome e ler muitas coisas, um mundo novo estava sendo descoberto por ele.
Prontamente, respondeu: “Sou aluno do Quero Ler e estou muito feliz em estar estudando e aprendendo cada dia mais. Assino meu nome e já leio qualquer coisa, não sou mais o analfabeto de antes”.
Era fácil imaginar o que se passava na cabeça daquele homem. Ele segurava firme a criança como se estivesse carregando o futuro e se sentia orgulhoso de ajudar o neto em suas primeiras palavras.
Como ele, milhares de homens e mulheres que viviam sem saber ler e escrever vivem, agora, um tempo de mudanças, que fortalece a família e a autoestima. Principalmente, daqueles que por décadas se dedicaram ao corte da seringa desenvolvendo e preservando a Amazônia.
Reeleito em 2014, o governador Tião Viana anunciou durante uma entrevista para a Rede Pública de Comunicação que o novo desafio de seu governo era zerar o analfabetismo no Acre. Durante a campanha, enquanto percorria os municípios e comunidades, ele percebeu a necessidade desse desafio.
O Quero Ler é executado com um investimento de R$ 42 milhões do governo do Estado, com apoio do Banco Mundial. A meta é de, até 2018, reduzir de 16,5% para 4% (ou menos) o índice de pessoas que não conseguem ler e/ou escrever no Acre.
22 mil pessoas já passaram por esse caminho de salas de aula, livros, lápis e troca de experiências. Neste mês de setembro, mais de 15.500 começam a trilhar essa história. Com isso, o governo do Estado chega a mais um avanço na educação pública, que tem no governador um grande entusiasta.
Em sua gestão, criou o Centro de Estudos de Línguas (CEL), que já atendeu mais de 12 mil alunos, com o ensino de inglês, espanhol, francês e italiano. Foi criado também o Instituto de Matemática, Ciência e Filosofia, além de, recentemente, colocar em prática o Ensino em Tempo Integral em sete escolas públicas.
Sempre que menciona o programa, o governador fala em quitar uma dívida histórica com aqueles que ajudaram a construir este estado. O mesmo fez quando, ainda senador, criou a lei que indeniza pessoas vítimas da hanseníase em todo o Brasil, isoladas à força, que prontamente foi sancionada pelo presidente Lula.
Aqueles que não acompanham os resultados desses programas, por divergência políticas ou inocência, manifestam que são ações populistas para arrebanhar votos. Mas, quem enxerga um senhor, em Tarauacá, nervoso e ansioso ao agradecer por poder ler, escrever e ajudar seu neto, sabe que esse é o dever de um Estado que respeita sua história e seu futuro.
É dever de todos, argumenta o governador, parar para ouvir mais esses senhores e senhoras de idade avançada que estão em cada sala de aula para aprender a ler e escrever. Eles já viram muita coisa nesse Acre e no Brasil, e suas histórias merecem receber atenção e com o olhar despido do preconceito político.
O Brasil merece ouvir os Franciscos de Tarauacá, Feijó, Brasiléia e de todos os seringais. Aliás, ler suas palavras aprendidas com tanto esforço.
O Francisco da Silva, de 63 anos e morador de Tarauacá, foi muito expressivo ao afirmar: “Desejo, governador, que tenham muito mais programas para a pobreza. Para pessoas que não tem como pagar a faculdade e não tem como fazer o segundo grau”. Não é uma reivindicação justa?
Eu, como jornalista e testemunha dessa história, procuro difundir essa realidade para ajudar seu Francisco e o neto a serem reconhecidos como protagonistas da mudança.
- Arison Jardim é jornalista da agência Notícias do Acre