Medula óssea: a ajuda que pode estar dentro de você!

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Um em um milhão, acredita? Esta é a probabilidade de se encontrar doador de medula óssea compatível para transplante. Mas para ganhar na loteria, por exemplo, a chance é de uma em 50 milhões, e mesmo assim quase toda semana um apostador se torna milionário da noite para o dia.

O sucesso de tantos acertos na Mega-Sena não é simplesmente a sorte dos que ganham, mas a quantidade de apostas que são realizadas todos os dias. Se a doação de medula óssea seguisse esse ritmo, a fila de transplante não seria tão extensa e histórias como a da pequena Debora Rauane, de 3 anos, poderiam ser contadas com bem mais frequência.

A menina foi diagnosticada com leucemia aos quatro meses de vida, e de lá para cá uma intensa jornada entre idas e vindas ao hospital teve início. A cura da doença de Debora podia estar na família, caso algum parente fosse compatível. Pai, mãe, avós, irmãos fizeram o teste. Nada! Dois anos de espera para um doador compatível aparecer e voluntários, cadastrados em todo o Brasil, mesmo assim não houve compatibilidade segura para a doação.

“É uma experiência que ninguém quer passar. Como muitas mães aqui, larguei tudo para ficar com ela, acompanhar no tratamento. Cada ciclo de quimioterapia e radioterapia, exames, agulhadas, mal-estar, choro e sofrimento. Passar por isso, receber a cura, e de repente, a doença volta. A fé não se abala, mas o coração sangra em ver sua filha, tão pequena, passar por tudo outra vez”, desabafa Luiza Vasconcelos, mãe de Debora Rauane.

Foi então que o telefone da casa tocou, há cerca de duas semanas. Do outro lado da linha, a médica de Debora pediu que a mãe fosse até o hospital. Chegando ao consultório da doutora Ana Rita Prado, oncologista da Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia do Acre (Unacon – Hospital do Câncer), a mãe recebeu a boa notícia. Encontraram um doador compatível. O transplante deve ocorrer nos próximos dias.

“Quase desmaiei de felicidade. Quando a médica disse que o sistema de cadastro havia localizado um doador tive, a mesma sensação de quando peguei a Debora no colo pela primeira vez. É aquela certeza de que tudo vai ficar bem agora. A esperança veio de longe – um doador estrangeiro, que vai proporcionar a minha filha uma nova chance de vida”, relata.

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A doação de medula óssea pode salvar uma vida. Mas os mitos em torno deste ato de amor fazem com que muitos deixem de ajudar, por isso a luta contra a desinformação é tão importante. Para muitas mães que acompanham o tratamento dos filhos na Unacon, é preciso que a sociedade tenha um olhar de compromisso e solidariedade para doação de medula óssea.

“Quando você expõe a gravidade da doença, mostrando que um simples gesto pode mudar a vida daquela criança, dar chance dela sobreviver, muitas pessoas se sensibilizam, dizem que vão ajudar. Mas passado aquele momento, vem o esquecimento, o deixar para depois. O que vemos, em se tratando de doação, seja de medula óssea, ou até mesmo sangue, é que existe muita decisão sem atitude”, diz Elcilene da Rocha, que perdeu o filho Jorge Muller há seis meses, em decorrência da leucemia.

Para a mãe, enlutada pela morte tão prematura do seu único filho aos dois anos e meio de idade, a dor não tem um nível suportável. “Não vai passar, nem diminuir. Estou vivendo um dia de cada vez. Apreendendo a conciliar todo esse sentimento. Jorge passou quase toda a vida aqui no hospital. Deu seus primeiros passos, as primeiras palavras, fez amigos. Encontrei aqui uma verdadeira família, a doutora Ana, sua equipe, as mães. Foi com esse suporte que consegui passar por toda essa jornada. Infelizmente, não teve doador compatível, e a cura não chegou a tempo. Mas o que me motiva, me dá forças para continuar a viver é saber que um dia vou estar com ele outra vez”, diz emocionada.

A escassez de doadores de órgãos é um obstáculo para os transplantes no Brasil. A quantidade ainda é pequena diante do número de pessoas que esperam pela cirurgia. No Acre, a realidade não é diferente. Menos de 1% da população é doadora de medula óssea. Até abril de 2017, constavam no sistema do Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome) 5,4 mil doadores cadastrados. É um número baixo, levando-se em consideração a população do Acre – cerca de 800 mil habitantes.

A médica Ana Rita ressalta que existe uma necessidade urgente de promover campanhas conscientes sobre a doação de medula óssea, uma vez que ela está muito mais além do envolvimento emocional com um paciente, seja ele parente ou amigo. “Quando cheguei aqui, há 15 anos, não existia tratamento de câncer no Acre. Hoje existe e funciona. Estamos, anos após anos galgando novas conquistas, com investimento e profissionais. Mas as pessoas precisam entender, onde entra os meios de comunicação para trabalhar essas campanhas de uma forma consciente e esclarecedora, é que esse é um trabalho conjunto”, esclarece.

Ainda de acordo com a oncologista, a falta de informação prejudica e acaba trazendo frustrações para as famílias que aguardam por um transplante de medula óssea. “Já houve casos de encontrarmos um doador compatível e ele se negar a fazer o transplante, porque quando foi fazer o teste de compatibilidade, meses ou anos atrás, ele acreditou que com aquela amostra de sangue que foi retirada para o teste de (HLA), ele já tinha feito a doação. Outros casos, o doador fica com medo do procedimento. Mas vale destacar que ele não corre nenhum risco, e o desconforto é mínimo”, explica.

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Primeiro, o doador voluntário precisa procurar o Hemoacre. Lá, ele vai preencher um cadastro e colher uma amostra de sangue para um teste de compatibilidade (HLA), procedimento simples e rápido.

O resultado obtido por meio de um exame de laboratório bastante comum é colocado num banco de dados do Ministério da Saúde, o Registro dos Doadores de Medula (Redome) que liga dados com o mundo inteiro.

Qualquer pessoa entre 18 e 55 anos, em bom estado de saúde, pode ser doadora de medula óssea. Não existe nenhum outro critério para exclusão.

Se você está sem tempo, imagine esses pacientes, cujos relógios da vida parecem andar bem mais depressa. Não pense. Não deixe para depois, porque o tempo urge e a vida, lá fora e aqui dentro, não pode esperar. Seja um doador!

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