Os clientes que não tinham condições de adquirir um vidro de perfume compravam apenas a dose da fragrância que mais gostavam (Gleilson Miranda/Secom)
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Não são apenas as ladeiras, morros e a qualidade da farinha produzida que fazem de Cruzeiro do Sul, a aproximadamente 750 quilômetros da capital Rio Branco, um lugar diferente dos demais municípios do Acre. Lá, há pelo menos 40 anos, uma modalidade de venda de perfumes faz sucesso na comunidade: o perfume a retalho.
A ideia veio de José Ferreira Lima, que garante diferentes fragrâncias na medida do bolso do cliente. “Eu uso uma seringa e retiro a quantidade que o cliente quer do perfume. Cada medida custa R$ 0,50 centavos. O valor máximo por seringa é R$ 2”.
Conhecido pelos clientes como “seu Taveira”, ele conta que começou a venda de perfume a retalho porque na cidade do Vale do Juruá era difícil chegar perfumes e os que chegavam tinham alto custo graças ao isolamento que, naquele tempo, viviam os moradores de Cruzeiro do Sul. A ligação terrestre via BR-364 era apenas um sonho: os produtos comercializados chegavam somente por balsa ou avião.
“A ideia surgiu um dia na minha cabeça. Não sei dizer como. Apenas veio e eu comecei a oferecer na minha banca. Naquela época eu trabalhava no Mercado Municipal, que era o local mais movimentado da cidade. Para ter uma ideia de como as coisas eram difíceis aqui, naquele tempo a carne era transportada no lombo dos bois e a frente do mercado era só lama. Até boi atolava. Muitas vezes ajudei a descarregar a carga que vinha no lombo dos bois”, lembrou o comerciante.
Seus primeiros clientes foram ribeirinhos, seringueiros e mulheres que trabalhavam na noite. Os clientes que não tinham condições de adquirir um vidro de perfume compravam apenas a dose da fragrância que mais gostavam.
História de Sucesso
“O mais vendido sempre foi o perfume Toque de Amor. Até hoje vendo ele. Muita gente já comprou retalhos de perfume comigo. Até hoje tem gente que passa aqui e compra retalho de perfume e vai ao baile dos idosos. Gente de tudo que é jeito e lugar vem aqui e pede seu retalho de perfume. Uns vêm porque saem de casa avexado e esquecem-se de se perfumar, mas passam aqui, compram e saem por aí todo cheiroso”, comentou Taveira.
Atualmente o comerciante trabalha no mercado localizado às margens do Rio Juruá, num veículo modelo Kombi. Ao longo de 40 anos, ele vende além dos perfumes a retalho, balas, chicletes e tabaco.
“Foi com a venda de perfumes e dessas outras coisas que sustentei minha família e construí minha vida. Tenho, graças a Deus, oito filhos e estão todos criados. Criei todos só, sem mãe, contando apenas com a ajuda divina”, revelou Taveira.
Ele diz que mesmo depois que a cidade interligou-se a capital via BR-364 não perdeu seus fregueses. “Hoje tudo chega aqui em Cruzeiro do Sul, mas mesmo assim ainda tenho muitos fregueses. A maioria são homens. Acho que hoje eles são os mais vaidosos”.
