Governo vai construir Polo de Indústria Naval no Juruá

Polo irá concentrar construtores de barcos grandes e pequenos da região, como a típica bajola (Foto: Onofre de Souza Brito)

Polo irá concentrar construtores de barcos grandes e pequenos da região, como a típica bajola (Foto: Onofre de Souza Brito)

Quem se coloca em local estratégico sobre uma das colinas ribeirinhas de Cruzeiro do Sul ou mesmo de cima da ponte sobre o Rio Juruá pode observar a intensidade do trânsito de canoas, lanchas, bajolas, batelões, regatões, barcos médios e grandes descendo ou subindo o rio. Em consequência de toda essa atividade fluvial, desenvolveu-se uma indústria local de embarcações e peças, além de uma rede de serviços de manutenção, muitos deles localizados no bairro da Lagoa ou ao longo do rio.

O governo do Estado, na execução do Programa de Fortalecimento da Indústria Naval do Acre, decidiu apoiar essa rede de trabalhadores ajudando-os a se organizar em forma de cooperativa, a Cooperativa dos Construtores Navais de Cruzeiro do Sul (Cooperbajola) e, em seguida, construindo um local que pudesse abrigar a todos em um único endereço.

Na última quinta-feira (6), foi dada a ordem de serviço para a construção do local, ainda sem nome definido (pode ser polo naval ou shopping naval), situado no bairro Miritizal, em terreno de dois hectares adquirido pelo governo. Muitos trabalhadores navais e moradores do bairro Miritizal prestigiaram o encontro realizado em barraca montada na praia do rio. Também estiveram presentes o secretário Edvaldo Magalhães e técnicos da Secretaria da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis e Desenvolvimento Florestal (Sedens).

Ordem de serviço para a construção do Polo foi assinada na quinta-feira (6) em solenidade que contou com a participação de trabalhadores navais e do secretário Edvaldo Magalhães (Foto: Onofre de Souza Brito)

Ordem de serviço para a construção do Polo foi assinada na quinta-feira (6) em solenidade que contou com a participação de trabalhadores navais e do secretário Edvaldo Magalhães (Foto: Onofre de Souza Brito)

Serão construídos quatro galpões em madeira e alvenaria. Para a construção foi aproveitada a tecnologia dos ribeirinhos de forma que os galpões fiquem elevados ao nível do rio quando cheio, possibilitando que no verão o atendimento seja feito debaixo dos galpões, já em terra. O investimento do governo do Estado é de cerca de R$ 3 milhões divididos entre a construção dos galpões e compra dos equipamentos. Terminada, a obra será repassada para a Cooperbajola. A entidade conta hoje com 26 associados e seu maior sucesso é, sem dúvida, a fabricação de bajolas.

O secretário Edvaldo Magalhães exaltou o talento dos trabalhadores que constroem e mantém a navegação na região: “São pessoas capazes de desenvolver coisas que nem na escola se aprende. O Rio Juruá é de intensa navegação e tem excelentes prestadores de serviço e construtores navais, desde o construtor de pequenas canoas até barcos grandes; e instrumentos de navegação como as palhetas e peças de reposição. Agora todos esses serviços terão o mesmo endereço, haverá mais rapidez e melhor produtividade.

Bajola, embarcação típica do Juruá

O presidente da cooperativa, Nivaldo Coelho, explica o que é bajola: “Bajola é uma mini-lancha, uma canoa feita de madeira, de transporte rápido. Navega em pouca água; em lâmina de 30 até 20 centímetros de profundidade ela passa. É boa para navegar em igarapés, boa para passear; você sozinho a pega e leva para o seco, bota na garagem. É um transporte que, além de rápido, é fácil de lutar com ele. É um produto genuinamente aqui de Cruzeiro do Sul, foi inventado pelos construtores do bairro da Lagoa e caiu nas graças do povo daqui. O povo gosta dela para passear, pescar, subir o Rio Moa”.

A Cooperbajola constrói atualmente de 20 a 25 bajolas por mês e, nas condições atuais, não está dando conta da demanda, principalmente porque agora também está recebendo encomendas da capital. Na última Expoacre, realizada em Rio Branco, a Cooperbajola mostrou suas bajolas e agradou, gerando muitas encomendas, que começaram a ser entregues. O presidente da cooperativa diz que o apoio do governo do Estado chegou em boa hora e a construção do polo vai possibilitar atender a todos.

Convidado ilustre

 Mário Costa (centro) começou a construir barcos aos 13 anos e hoje, aos 81, continua ensinando o ofício (Foto: Onofre de Souza Brito)

Mário Costa (centro) começou a construir barcos aos 13 anos e hoje, aos 81, continua ensinando o ofício (Foto: Onofre de Souza Brito)

O senhor Mário Costa é o mais antigo construtor de barcos vivo em Cruzeiro do Sul e foi especialmente convidado pelo secretário Edvaldo Magalhães para participar do ato da assinatura da ordem de serviço. Ele começou na profissão aos 13 anos de idade e hoje, com 81 anos, ainda trabalhando construindo ou ensinando outros a “fazer como eu faço”. O velho construtor garante que o serviço de calafetagem que faz nos barcos que constrói dura dez anos. “Não me conformo com o calafeto (sic) que fazem hoje em dia”, externou. Ele diz que só gosta de usar madeiras de qualidade como o louro preto, o tarumã e a itaúba, mas não tem idéia de quantos barcos já construiu.

“Durante vinte anos eu tive três galpões e a cada semana, de cada um deles, descia um barco. No período em que morei no Seringal Uruburetama, a cada duas semanas descia um barco do estaleiro”.

A construção do polo naval foi elogiada por ele: “Esse governo está fazendo uma coisa muito importante para nós”.

Compartilhe:

WhatsApp
Facebook
Twitter