Cooperacre: uma amostra da Xapuri do futuro

Tião Aquino dirige a Cooperacre em Xapuri (Foto: Elson Martins)

Quem visitar Xapuri por estes dias pode se surpreender com a mudança que ocorreu no ponto mais central da cidade, onde, por algum tempo, funcionou a Fundação Chico Mendes, criada logo após a morte do líder seringueiro. Porque, no referido local, o que se vê hoje é um novo e bem construído  prédio da Cooperacre (Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre),  empreendimento que caminha com sucesso na direção do Desenvolvimento Sustentável do Acre e, portanto, homenageia seu patrono.

Não dá pra sentir saudade do que existia antes porque, infelizmente, a Fundação Chico Mendes vinha encontrando dificuldades de manutenção e de gestão, deixando de corresponder à memória do saudoso líder defensor da floresta e dos que vivem nela.

As instalações da Cooperacre são ótimas: tem um auditório com 42 lugares, todo informatizado; uma lojinha que oferece produtos de qualidade das cooperativas extrativistas – como castanha desidratada, sandálias de borracha, polpas de frutos da floresta, sabonetes e óleos medicinais, além de camisas, canecas e pequenas esculturas. A sede tem ainda uma cantina onde se pode saborear petiscos e sucos regionais.

Quem comanda o promissor empreendimento em Xapuri, que tem como título Casa do Extrativista, é o Tião Aquino, filho de um velho amigo de Chico Mendes que desde criança acompanha as lutas dos povos da floresta. Ele faz parte do Conselho de Gestão da Cooperacre, é coordenador das regionais de Xapuri e Brasileia, no Alto Acre, e gerente de compras da castanha e da borracha produzidas na região.

Borracha valorizada

Tião Aquino informa com orgulho que a sede local foi toda construída com recursos próprios. Ele fala da produção e comercialização com entusiasmo : em 2014 a central comprou 300 toneladas de borracha nativa pagando R$ 7,42 por quilo (dois reais estabelecidos pelo mercado, mais 2,30 de subsidio do governo estadual e outros 3,42 garantidos pelo governo federal) representando importante renda para as famílias extrativistas.

Em 2015 a aquisição caiu para 200 toneladas, mas voltou a subir para 300 em 2016. A previsão para 2017 é de 500 toneladas, e será absorvida pela fábrica de processamento de borracha instalada em Sena Madureira, com capacidade para processar até 800 toneladas/ano.

A indústria de granulado escuro brasileiro (GEB) localizada em Sena Madureira foi construída pelo governo de Tião Viana e já entrou em operação, passando a enviar amostras para potenciais compradores do Sul e Sudeste.

Castanha sob controle

O produto representa a principal renda dos extrativistas, seguido da polpa de frutas e da borracha (Foto: Angela Peres/Arquivo Secom)

A Cooperacre adquiriu junto ao Banco do Brasil créditos para financiar a compra de 50% da produção acreana de castanha, o que equivale a 600 mil latas (10 kg cada) ao preço de R$ 80 por unidade. Tal qual a borracha, a quantidade caiu em 2016 (para 400 mil latas) e em 2017 (para 200 mil), mas a expectativa para 2018 é de recuperação (600 mil).

O produto representa, atualmente, a principal renda dos extrativistas, seguido da polpa de frutas e da borracha. O avanço se deu com apoio do governo estadual que afastou os monopólios da compra da castanha regional, primeiro por importadores do Pará, depois pela Bolívia, favorecendo a organização e controle dos extrativistas locais. Hoje o Acre conta com três modernas indústrias de beneficiamento de castanha em Xapuri, Brasileia e Rio Branco, mas a Bolívia continua disputando a compra das safras.

A venda anual do produto beneficiado cresce dentro do Brasil e em países como Escócia e Estados Unidos. Atualmente, a cooperativa possui 250 colaboradores em seus espaços de beneficiamento, com três mil famílias extrativistas fornecendo as amêndoas.

Nacionalmente, o produto é comercializado em estados do Sul e Sudeste como Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. A castanha que saia daqui como matéria-prima, hoje sai toda processada.

De vento em polpa

Vale a pena o trocadilho do subtítulo, porque a polpa de frutos (açaí, cupuaçu, acerola, graviola) se transformou no segundo maior negócio da Cooperacre. A central já comprou até um caminhão frigorífico que vai transportar, de 15 em 15 dias, um carregamento para São Paulo. Em 2016 ela comercializou 800 toneladas, tendo até que importar graviola da Bahia e maracujá de Rondônia, para atender seus clientes nacionais. Este ano, a produção de polpa local atingirá 1 milhão de toneladas.

O estímulo à produção de polpa se ajusta à ideia de reflorestamento que a Cooperacre desenvolve com apoio da Secretaria de Estado de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof). Os extrativistas cooperativados plantaram mais de 40 mil mudas de castanheira e 400 mil de seringueiras nos últimos anos, consorciando com espécies frutífera. Trata-se do aproveitamento de áreas já abertas através do programa do governo Florestas Plantadas.

Otimismo crescente

A Cooperacre atua há 15 anos cumprindo todos os seus compromissos em dia com bancos, fornecedores e cooperados. A partir de agora, com a nova diretoria sindical extrativista, suas atividades tendem e melhorar e crescer, gerando emprego com largo aproveitamento da mão de obra originária da floresta.

Até meados dos anos 80, durante o inverno, desciam pelo Rio Acre montanhas de castanha em balsas com destino a Belém, onde eram beneficiadas gerando emprego e lucro por lá. Essa história mudou e hoje a riqueza fica no Acre. As indústrias da Cooperacre beneficiam toda a castanha produzida no estado e ainda recebem o produto in natura de Rondônia e Amazonas.

Com o reflorestamento com seringueiras, castanheiras e espécies frutíferas, bem como madeireiras, a Cooperacre, que está presente em 14 dos 22 municípios do estado, poderá impulsionar a economia acreana nas próximas décadas, oferecendo emprego e renda de forma direta e indireta para milhares de famílias, principalmente moradoras das reservas e assentamentos extrativistas, e dos filhos e netos que vivem na cidade.

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