Com 1,7 trilhões de dólares em volume de exportações por ano, a China já é o país com a segunda maior economia do planeta e o maior em número de exportações de produtos manufaturados. Com um sistema socialista de mercado, o país abriu as portas para o mundo e teve conquistas estratosféricas nas últimas décadas. Por isso, uma comitiva de empresários chineses, liderada pelo embaixador da China no Brasil, Li Jinzhang, está em visita o Acre desde esta segunda-feira, 11, para conhecer os potenciais do Estado e possibilidades de novos investimentos.
Após ser recebida pelo governador Tião Viana no Palácio Rio Branco, a comitiva chinesa se dirigiu ao Complexo de Piscicultura do Acre, que é o maior projeto de piscicultura do Brasil. Enquanto a China produz 50 milhões de toneladas de peixe por ano e o Brasil apenas 400 mil, ainda assim o país asiático não consegue vencer sua demanda devido a uma população de mais de 1,3 bilhão de habitantes.
A Peixes da Amazônia é uma parceria público, privada e comunitária. Cerca de 70% do complexo já está executado, constituindo-se de um laboratório de produção de alevinos, fábricas de ração e de filetagem, com capacidade de produzir 20 mil toneladas por ano em peixes para comercialização.
O embaixador Li Jinzhang ficou interessado em quanto dessa futura produção acreana está voltada para a exportação, que deve ficar em 50%. Ele também ficou impressionado com a taxa de lucro prevista a partir do quinto ano de funcionamento do complexo, que deve ficar em torno de 30%. Jaime Brum, consultor da empresa responsável pelo Complexo de Piscicultura, afirma: “Nós não olhamos para a China apenas como um mercado. A China tem tecnologias de produção que nos interessam, mas queremos negociar com a Ásia e nos conectar por meio da Rodovia Transoceânica e o Pacífico”.
Mesmo que os peixes amazônicos sejam novidade para os chineses, o interesse nas espécies foi grande. Principalmente em relação ao imponente pirarucu, maior peixe de água doce do mundo e considerado o “bacalhau da Amazônia”. Durante a visita, o almoço servido foi preparado por um prestigiado restaurante acreano, em cujo cardápio figuravam apenas peixes da região. A aprovação foi geral.
ZPE
A visita da comitiva chinesa também se expandiu pela Zona de Processamento de Exportação (ZPE), localizada em Senador Guiomard. Segundo Edvaldo Magalhães, secretário de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis (Sedens), “O Brasil ainda está dando os primeiros passos em relação as suas ZPEs. Existem 22 aprovadas no país e a do Acre foi a última, mas a primeira alfandegada”.
Isenta de impostos, a obrigatoriedade a uma empresa instalada numa ZPE é que 80% de sua produção seja exportada e apenas 20% seja comercializada no país. A ZPE acreana está em sua última etapa: atrair indústrias. Quatro projetos já foram aprovados e a primeira indústria deve começar a ser instalada a partir de dezembro.
O embaixador ficou preocupado, principalmente em entender a legislação tributária e trabalhista em relação à ZPE, além das taxas de importação e insumos e se a nacionalidade para a mão de obra tem de ser obrigatoriamente brasileira. Para ele, a ideia de uma ZPE na porta de entrada do país, pelo Pacífico, é empolgante. “Com o sucesso da ZPE, o Acre terá aqui um grande exemplo para o país. O caminho que vocês estão seguindo é muito bom”, opinou o embaixador.
Madeira certificada
O último ponto de visita da comitiva de empresários chineses na segunda-feira foi a empresa Laminados Triunfo. Recebidos pelo proprietário da beneficiadora de madeira do Acre, Jandir Santim, os chineses descobriram que apenas 20% da produção é exportada e o restante vai para o mercado nacional, usada principalmente em projetos de construção de casas populares pelo programa federal Minha Casa, Minha Vida.
Só a empresa ocupa 40 mil m² de área construída e pode beneficiar até 100 mil m³ de madeira por ano das 55 espécies comerciais no Acre. “A gente fica feliz em contar com a visita de representantes de países como a China. Hoje no mercado não temos mais a visão de individualismo, mas de parcerias. Precisamos de parceiros que pensem igual à gente, que queiram investir não só pelo lucro, mas pela geração de emprego e renda, aliada à preservação do meio ambiente pela sustentabilidade”, explicou Jandir.
A Laminados Triunfo também possui um dos projetos mais audaciosos no ramo empresarial acreano, o da geração de sua própria energia a partir do vapor de caldeiras que aproveitam os restos de madeira da produção. A nova caldeira que a empresa está instalando será capaz de produzir 150 toneladas de vapor por hora, gerando 30 megawatts por hora. Os chineses ficaram bastante empolgados diante da possibilidade de negócios com a fábrica e prometeram propostas em breve.