12º Festival Yawa – diário de bordo II

O Festival Yawa terminou esta semana (Foto: Sérgio Vale/Secom)

O Festival Yawa terminou esta semana (Foto: Sérgio Vale/Secom)

Depois de um dia de viagem, a partir de Rio Branco, finalmente colocamos os pés na Terra Indígena do Rio Gregório. Era o final da tarde de sexta-feira, 25, primeiro dia do 12° Festival Yawa. “Esta festa tem uma simbologia de gratidão, de agradecimento ao nosso Criador”, explica o líder Biraci Brasil Nixikawa, cacique da Aldeia Nova Esperança.

O grupo que, do rio, avistamos lá no alto do barranco, então formou uma fila. Andando e cantando, conduziu-nos pelo caminho. Após a recepção das autoridades do governo do Acre, é iniciada a nossa hospedagem.

Assim como nós, muitos turistas visitavam o Festival pela primeira vez. Por todo canto os comentários, as impressões de chegada.

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12º Festival Yawa – diário de bordo

Motivado por um grupo de amigos, o médico paulista Paulo Campregher comentou, emocionado, os momentos que estava vivendo ali. “É uma oportunidade única para as pessoas que não têm contato com a realidade indígena. Tô encantado com esta cultura, encontrar um Brasil que a gente não conhece, pessoas falando outras línguas vivas”, disse.

A bebida uni, ou ayahuasca, é parte da medicina indígena (Foto: Sérgio Vale/Secom)

A bebida uni, ou ayahuasca, é parte da medicina indígena (Foto: Sérgio Vale/Secom)

Em pouco tempo de contato, percebe-se que dois elementos são muito fortes entre as práticas do povo yawanawá: o uni, mais conhecida como ayahuasca, bebida feita com um cipó (Banisteriopsis caapi) e uma folha (Psychotria viridis), e o rapé (“humê”), um pó medicinal preparado para inalar. Os pajés se referem a essas substâncias como algo sagrado, com efeito de cura. Ali, a medicina está sempre relacionada à espiritualidade.

Eu e o humê

O contato com o rapé e o uni exige muita atenção às orientações, para que a experiência mística seja bem-sucedida, pois as reações podem ser fortes.

Pessoalmente, estive atenta a todos os passos. Antes de inalar, eu deveria consumir apenas alimentos leves; depois de o rapé ser soprado em minhas narinas, deveria respirar pela boca, sem engolir mais nada, nem saliva.

O rapé também é parte da medicina da floresta (Foto: Sérgio Vale/Secom)

O rapé também é parte da medicina da floresta (Foto: Sérgio Vale/Secom)

Com o primeiro sopro, a sensação foi de ardência, semelhante à da pimenta. Meu nariz e garganta ficaram irritados. No segundo, as pernas adormeceram e as outras partes do corpo ficaram bem pesadas. Explicaram-me que a pressão tende a baixar, e por esse motivo os indígenas utilizam o rapé quando precisam ficar por muito tempo expostos ao sol.

Demora um tempo para o efeito passar, permaneci sentada por pelo menos meia hora até ter a firmeza de caminhar sem apoio. Então ouvimos o som do puriti (corneta indígena): é hora de seguir pela trilha em direção ao kupixawa, lugar onde são vividos os momentos celebrativos.  O Festival Yawa está começando.

O puriti, corneta indígena, anuncia o início das celebrações (Foto: Sérgio Vale/Secom)

O puriti, corneta indígena, anuncia o início das celebrações (Foto: Sérgio Vale/Secom)

O kupixawa tem formato circular, é construído em madeira sobre o chão batido e coberto por palha. Enquanto se acomodavam naquele espaço as gerações de yawanawá, parentes indígenas de outras etnias, autoridades do Estado e turistas, os pajés cantavam e sopravam no uni, evocando os seres da natureza.

Em conversa com o cacique Biraci Brasil, fomos informados da participação frequente de lideranças religiosas vindos de diversas nacionalidades, fato que avalia como um movimento muito importante para a preservação do festival. “Valorizamos a presença de pessoas graduadas espiritualmente, nessa junção de vários líderes do mundo que buscam a espiritualidade”, afirmou.

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