O registro documentário sobre um dos patrimônios imateriais mais ricos de Tarauacá: o Novenário de São Francisco faz parte de um projeto do Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural (DPHC) da Fundação Elias Mansour (FEM). Durante nove dias, a equipe do DPHC esteve na cidade para realizar o registro, que se transformará num documentário de 20 minutos e que terá até o fim deste ano lançamento em sessão de exibição para os moradores de Tarauacá.
Todo o trabalho é coordenado pela historiadora Irineida Nobre, gestora do DPHC. Quem assina a direção é Assis Freire. As filmagens foram concluídas na última sexta-feira, 4, com a procissão de São Francisco.
O projeto de registro idealizado como uma das ações do programa Cultura e Comunidade da FEM passará por outras cidades com o propósito de garantir a salvaguarda dessas manifestações culturais.
“Outras tradições são importantes para Tarauacá, mas a escolha pelo novenário veio de uma pesquisa com a própria comunidade. A ideia com o projeto é reconhecer a sociedade como a principal mentora de todo o processo”, disse Irineida.
“O papel do poder público é de fomentar, pois quem garantirá a manutenção das tradições, é a própria comunidade. Para salvaguardar o patrimônio imaterial é preciso o envolvimento das comunidades, elas são de importância para a preservação das tradições, e por um outro lado, as tradições preservam as comunidades”, comenta Francis Mary, presidente da FEM. Ela participou do processo do registro no município.
O documentário – O material constrói a narrativa sobre o Novenário de São Francisco. Por que São Francisco e não São José? Há cerca de 80 anos fiéis de todos os cantos pagam suas promessas ao santo. Mesmo sendo São José o padroeiro de Tarauacá, por homenagem aos dois primeiros padres da cidade, os primeiros migrantes nordestinos que aportaram na região para a extração do látex trouxeram consigo a devoção a São Francisco, santo popular no Nnordeste.
O roteiro não envolve somente a história do novenário, com seus personagens principais. A ideia, segundo Irineida, é poder contar, por meio da celebração, a história da cidade, que este ano completa um século de existência. Professores de renomada ação na educação do município, comunidades indígenas, párocos, ribeirinhos e outros passeiam pelo registro dando conta da história de São Francisco e da cidade.
“Eles têm uma relação muito intima com São Francisco, o chamam de ‘Velho Chico’, e com a natureza, com os animais, algo bastante curioso, que vem da própria história do santo. Isso fica muito claro no documentário. Além dessa construção narrativa da história de Tarauacá. Agora é esperar a estreia”, explica a historiadora.
Uma das personagens é a professora Madalena Ferraz. Na sua devoção a São Francisco ela diz: “O padroeiro da cidade é São José, mas quem manda é São Francisco”.
Assim, o padre Sebastião Bonjour, pároco da cidade, explica: “A devoção é tão grande e fantástica que é natural a presença dos indígenas e ribeirinhos no novenário como algo que faz parte de suas vidas. É uma tradição que a comunidade cuida e traduz”.