Castanha já é o segundo produto da pauta de exportação do Acre

Chico Melo no entreposto da castanha no seringal Porongaba (Foto: Alexandre Carvalho)

Chico Melo no entreposto da castanha no seringal Porongaba (Foto: Alexandre Carvalho)

O extrativista Francisco Soares Melo tinha por volta de 20 anos quando conheceu o sindicalista xapuriense Chico Mendes em uma assembleia do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasileia. “Eu o vi algumas vezes, mas era meu pai que andava com ele (Chico Mendes) pelos seringais para organizar os extrativistas a lutarem por seus direitos”, disse Chico Melo, 49 anos, casado e pai de quatro filhos na faixa etária dos 17 aos 22 anos.

Poucas semanas antes do mundo lembrar em 22 de dezembro próximo os 25 anos da morte do sindicalista acreano, que lutou e morreu pelo desenvolvimento sustentável da floresta amazônica, Chico Melo testemunha que a luta de Chico Mendes valeu a pena. “E como valeu!”, diz ele.

Antes relegada a um complemento da renda dos seringueiros acreanos, que produziam borracha para o Brasil e o mundo, a castanha melhorou seu preço nos últimos anos e já se transformou no segundo produto da pauta de exportação do Acre, gerando receita anual de mais de R$ 30 milhões e renda para 4,2 mil famílias de extrativistas de todo o estado.

No interior da Resex Chico Mendes (Foto: Alexandre Carvalho)

No interior da Resex Chico Mendes (Foto: Alexandre Carvalho)

Produtor de castanha, borracha, milho, feijão, frutas regionais, animais domésticos, ovelhas e algumas cabeças de gado de leite e de corte, Chico Melo diz ter “muita satisfação” em mostrar hoje, em sua propriedade, o armazém cheio de castanha. São mais de 47 toneladas de castanha estocadas pelos 26 extrativistas da Associação dos Produtores Rurais do antigo seringal Porongaba, na Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, no ramal do km 5 da BR-317, saindo de Brasileia em direção a Assis Brasil.

Comandando a associação, Chico Melo logo enviará  toda a castanha, produzida na última safra do seringal, para a Usina de Beneficiamento de Castanhas de Brasileia,empreendimento reformado em 2011 pelo governo acreano, e administrado pela Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Estado do Acre (Cooperacre), da qual Chico Melo é associado e integrante do conselho fiscal.

Vendendo a castanha a R$ 30,00 a lata de 10 quilos para a Cooperacre, os produtores do seringal Porongaba e dos demais seringais que formam a grande Resex Chico Mendes têm no extrativismo uma das principais fontes de renda. Junto com a borracha e os outros produtos, a castanha já permitiu a Chico Melo e seus companheiros melhorarem de vida de forma significativa.

Segundo o extrativista, a castanha já contribuiu para ele colocar uma das filhas na faculdade, comprar uma motocicleta, reformar e mobiliar a casa e adquirir um motor para promover o abastecimento de água da casa e dos animais que cria na propriedade. Chico Melo também começa a plantar seringueiras e se prepara para investir na criação de abelhas. “Estamos indo bem com a valorização da borracha e a força da nossa cooperativa, que está tendo apoio do governo Tião Viana”, comemora Chico Melo.

Estado vai industrializar toda a sua castanha

O produtor de castanha Chico Melo é um dos dois mil extrativistas de Assis Brasil, Brasileia, Epitaciolândia e Xapuri que abastecem a Usina de Beneficiamento de Castanhas, que, usando alta tecnologia, beneficia, embala e exporta o produto para vários mercados consumidores do país.

Administrada pela Cooperacre, com o apoio da Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof), sob o comando do secretário Lourival Marques, que presta assistência técnica aos produtores e ajuda no transporte e comercialização, a Usina de Brasileia emprega 70 pessoas, é equipada com a mais moderna tecnologia do mundo e beneficia uma produção mensal que varia de 60 a 80 toneladas.

Vista externa da fábrica de castanha de Brasileia (Foto: Alexandre Carvalho)

Vista externa da fábrica de castanha de Brasileia (Foto: Alexandre Carvalho)

Antes do advento das indústrias de beneficiamento, toda a castanha colhida no Acre era vendida in natura para outros estados brasileiros e até para a Bolívia, onde era processada e industrializada, deixando os extrativistas acreanos com margem de lucro muito pequena pela falta de valor agregado ao produto.

Com a industrialização, a castanha acreana ganhou forma e volume e hoje é uma das atividades mais lucrativas e de maior sucesso no estado. Segundo o secretário de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis (Sedens), Edvaldo Magalhães, o avanço das indústrias de castanha, que vêm recebendo concessões de áreas e incentivos fiscais do governo Tião Viana, vai permitir em breve ao estado processar toda a sua produção. Além de, num futuro próximo, passar também a processar a castanha de outros estados, como Rondônia, Amazonas e Pará.

Como maior processadora de castanha do Acre, a Cooperacre conta com a indústria de Brasileia e a de Xapuri. Até o final deste ano, o governo do estado deve repassar à Cooperacre aquela que será a maior indústria do estado e uma das maiores da região Norte do país. Com capacidade para processar 150 toneladas de castanha por mês, a nova fábrica está sendo concluída no Distrito Industrial de Rio Branco. Com suas três usinas funcionando, a Cooperacre terá capacidade de industrializar mais de três mil toneladas de castanha por ano, gerando renda para 3,5 mil famílias de extrativistas e postos de trabalho para 350 trabalhadores.

Castanha entra na fábrica para ser processada (Foto: Alexandre Carvalho)

Castanha entra na fábrica para ser processada (Foto: Alexandre Carvalho)

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