A hanseníase é umas das doenças mais antigas da história da medicina. Mesmo com a descoberta da cura, os portadores da patologia ainda vivem diante de um desafio maior: a luta contra o preconceito social, geralmente relacionado à falta de informações sobre o assunto.
Inconformado com a realidade em que os hansenianos estavam subjugados na década de 1980 em Rio Branco, Francisco Vieira Nunes, o “Bacurau”, fundou o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase no Acre (Morhan). O movimento já existia em São Paulo e foi reproduzido no estado em 1982, com a urgência de ressocializar os pacientes mantidos em hospitais-colônias, sob uma lei federal de 1949, que determinava o isolamento compulsório e levou à desintegração de milhares de famílias. Hoje existem mais de 50 núcleos da instituição em todo o país.
A entidade, entre muitos feitos, conseguiu o fim do isolamento dos pacientes. Hoje, vinculado à Central de Articulação das Entidades de Saúde do Acre (Cades), o Morhan realiza atividades como seminários, debates e palestras em escolas, com o propósito de conscientizar as novas gerações a se desprenderem dos paradigmas do preconceito.
Outra conquista para a classe foi a aprovação da lei 11.520 de 2007, de autoria do então senador Tião Viana. A lei designa a concessão de pensão especial para os portadores que ficaram isolados. No Brasil, aproximadamente dez mil pessoas são beneficiadas. “Hoje nós buscamos o reconhecimento do sofrimento dos filhos que foram separados dos pais para garantir a eles a indenização”, afirma Élson Dias, coordenador do movimento no Acre desde 2008.
Filho de portadores da doença, Élson começou sua trajetória no Mohan como voluntário e conta que “ser coordenador do movimento traz muito aprendizado, eles são cheios de histórias pra contar, são pessoas marcadas pelo sofrimento, mas muito felizes”.
Terezinha da Silva, viúva de Bacurau, ainda carrega no olhar as duras lembranças do tempo em que foi obrigada a deixar os filhos com a mãe enquanto se isolava na Colônia Souza Araújo. “Foi um baque receber o diagnóstico, pensar que dali em diante a minha vida ia começar a diminuir e eu teria que abandonar meus filhos”, comenta, em lágrimas.
Todas as superações e melhorias conquistadas a duras penas hoje são motivação para que os portadores recém-diagnosticados com a patologia realizem o tratamento e encarem o preconceito de cabeça erguida. “Tudo o que já conquistamos foi com muita luta e dificuldade, mas não me prendo mais ao passado de sofrimento, eu olho pro meu presente”, acrescenta Terezinha.
Sobre a doença e tratamento no Estado
A hanseníase é causada por uma bactéria e se manifesta com o aparecimento de manchas dormentes, de cor avermelhada ou esbranquiçada, em qualquer região do corpo. Uma vez avançada, também pode comprometer os nervos, causando deformações. Caroços, inchaço, fraqueza muscular e dor nas articulações podem ser outros sintomas.
Os casos de hanseníase no estado são tratados com prioridade nos atendimentos e, por isso, seguem diminuindo a cada dia. Atualmente, com a melhoria do tratamento aliado ao diagnóstico precoce, os pacientes não desenvolvem mais sequelas. Em todo o Acre, hoje existem menos de 200 casos.
É uma conquista para o Serviço de Dermatologia de Rio Branco, instalado no Hospital das Clínicas, equipado com laboratório, consultório e sala de cirurgias. “Aqui o paciente que chega com suspeitas da doença tem prioridade, não precisa encarar filas de agendamentos”, afirma a gerente do Departamento de Dermatologia, Franciely Gomes.
Para fortalecer o combate e prevenção à doença, a Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre), realiza campanhas em todos os municípios do Acre. Nesta sexta-feira, 27, é a vez do Centro de Atendimento Roney Meirelles, em Rio Branco, receber a equipe responsável pelos atendimentos. Até dezembro, a campanha será realizada em todos os centros da capital.