Promover o resgate cultural dos povos da floresta tem sido uma das bandeiras de lutas encabeçadas pelo governo do Estado do Acre. No último mês de junho, a primeira-dama Marlúcia Cândida visitou a aldeia Nova Esperança, na Terra Indígena Yawanawa do Rio Gregório. O designer Marcelo Rosenbaum, acompanhado de sua equipe, também esteve no local, bem como os titulares das secretarias de Estado de Habitação de Interesses Social (Sehab) e de Políticas para as Mulheres (SEPMulheres).
A ida, que a principio era para dar continuidade ao trabalho de produção das luminárias yawanawas, rendera uma discussão sobre os costumes e o modo de vida daquele povo, esquecidos ao longo dos séculos. Numa reunião organizada pelo cacique da aldeia Nova Esperança, Biraci Yawanawa, com todas as lideranças das outras comunidades indígenas, do Rio Gregório, e a equipe de governo presente, foi decidido o modelo de casa que a tribo pretende voltar a habitar.
Segundo o cacique Biraci Yawanawa, a possibilidade de construção dessas casas surgiu a partir de uma conversa dele com o governador Tião Viana. “Numa ida minha a Rio Branco, estive no gabinete do governador Tião Viana para cumprimentá-lo e falei da vontade que eu tinha de reavivar a nossa cultura indígena e o modo vida dos nossos ancestrais. Foi quando ele me falou a respeito do programa de habitação, ou seja, uma possibilidade real de reconstruímos nossas casas de acordo com os nossos costumes”, disse.
A tipologia da casa escolhido pelo povo Yawanawa e apoiada pelo governo do Acre é a construção de vários cupixais, espécie de oca comunitária que será habitada por cerca de sete famílias. O Estado irá promover esse reavivamento habitacional cultural, por meio do Programa Nacional de Habitação Rural (PNHR), que é executado pela Sehab. O PNHR integra o Programa Minha Casa Minha Vida e busca garantir subsídio financeiro para a produção de moradia aos agricultores familiares e trabalhadores rurais.
“A parceria do governo com Marcelo Ronsenbaum tem dado muito certo. Exemplo disso são as luminárias yawanawas, que foram expostas até em Milão. Desse modo, resolvemos continuar juntos, também, nesse processo de melhoria das casas indígenas. Não no sentido de melhorar aquilo que está pronto, mas de descobrir uma nova tipologia do passado desse grupo de etnia. Trata-se de um resgate histórico e cultural, buscando neles como era a forma de moradia dos seus antepassados. Queremos garantir que eles possam sonhar e assegurar-lhes que o Estado tornará esse desejo real”, ressaltoua primeira-dama Marlúcia Cândida.
O secretário da Sehab, Rostênio Sousa, explicou que o resgate da memória da cultura indígena é algo inovador, pois conta com a participação das comunidades. Ele citou o exemplo de duas comunidades – Colônia 27, em Tarauacá, e Colônia Luis Campina, em Cruzeiro do Sul – que criaram sua tipologia e hoje já estão no processo de construção das moradias.
Já a titular da SEPMulheres, Concita Maia, acredita que o PNHR somará forças com outras ações que já estão sendo desenvolvidas. “Estamos executado um projeto na área de inclusão socioprodutiva com as mulheres indígenas, que também promove esse resgate cultural. É importante ressaltar que essas são ações que partem de dentro para fora, ou seja, são desejos compartilhados por todos os índios e índias yawanawas, que são acolhidos pelo nosso governador Tião Viana”, afirmou.
Marcelo Rosenbaum enfatiza que não pretende criar modelos de casas para os índios, mas ajudá-los a resgatar essa tipologia de moradia, habitada pelas gerações primitivas indígenas. “Estamos construindo junto com eles a arquitetura dos cupixais, tipologia de casa escolhida pela tribo. Nesse sentido, parabenizamos o governo do Estado pelas ações que desenvolve com os povos indígenas. De todos os Estados que tenho conhecido, o Acre é que mais se preocupa e trabalha na preservação da cultura desses povos, que nos ensinam que é possível viver em comunhão com a natureza e o meio ambiente”, ressaltou o designer.
Para ilustrar a ideia e o estilo arquitetônico das moradias, o grupo de arquitetos e engenheiros do governo, em parceria com o designer Marcelo Rosenbaum, construiu uma maquete, baseada na planta do projeto, que fora desenhada a partir dos anseios e desejos da comunidade indígena nesse processo de resgate e fortalecimento cultural de sua identidade.
“Este é um sonho compartilhado por todos os nossos irmãos índios: transformar as marcas históricas de perdas, sofridas nas mãos dos nossos colonizadores, em ganhos coletivos. Queremos esquecer a influência cultural que tivemos dos seringalistas, deixando de morar nos moldes de casa que eram deles, para enfim resgatar a nossa origem, o nosso estilo de vida e vivermos dentro dos nossos cupixal, assim como nossos pais e avós”, disse Biraci Yawanawa, emocionado.