Movimento dos atingidos pela hanseníase faz homenagem a Tião Viana

Governador recebe homenagem das pessoas que foram beneficiadas por lei apresentada enquanto senador  (Foto: Gleilson Miranda/Secom)
Governador recebe homenagem das pessoas que foram beneficiadas por lei apresentada enquanto senador  (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

Quem teve seu destino cruzado com o da hanseníase e foi segregado compulsoriamente viu a história escrever outro final quando a lei 11.250, de autoria do então senador Tião Viana, foi aprovada pelo presidente Lula. Nove mil pessoas no Brasil, entre elas, mais de 500 no Acre, foram beneficiadas com a indenização e na manhã desta terça-feira, 14, o governador foi homenageado pelo Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan).

“Foi muito sofrimento. Eu vi mães que não puderam amamentar os filhos, não puderam acalentar seus filhos. Vi pais separados. Famílias. Nada repara o que nós sofremos e toda aquela tristeza, mas agora nós fomos reconhecidos e isso nos alegra”, disse Maria de Jesus Nascimento, que escreveu uma carta em homenagem ao governador Tião Viana.

A homenagem aconteceu no auditório da Biblioteca Pública e mais de cem pessoas participaram do ato que trouxe muita emoção aos presentes. Parte das histórias de vida que foram partilhadas com a plateia traduzem um pouco do sofrimento e da falta de compreensão que os atingidos pela hanseníase sofreram.

Maria de Jesus entrega carta em agradecimento ao governador Tião Viana (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

Maria de Jesus entrega carta em agradecimento ao governador Tião Viana (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

“Eu não queria aprender a mexer em computador porque eu pensava que nunca poderia ter um em casa. Também não queria aprender a dirigir porque achava que nunca teria um carro. Hoje eu tenho computador e carro. Não há dinheiro que repare o que nós passamos, mas podemos viver com mais dignidade graças a essa lei do Tião Viana e do Lula”, disse José Barros, o Barroso.

O presidente do Morhan no Acre, Élson Dias, explica que a indenização é de dois salários mínimos, pagos mensalmente, com pagamento retroativo a 2007. “Então quem está recebendo agora recebe R$ 70 mil referente aos meses em atraso. Mais de cem pessoas aqui já compraram carro próprio, outras compraram casas e a gente que acompanha consegue ver as mudanças na qualidade de vida dessas pessoas. E durante as nossas visitas elas nos cobravam uma homenagem ao governador, um momento para dizer muito obrigado por tudo que ele fez e faz pelos mais necessitados, pelos excluídos”, disse.

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Excelentíssimo senhor governador Tião Viana,

As lembranças feitas que mancham a nossa história são indeléveis como as marcas que trazemos no corpo e na alma.

Ainda hoje, quando nossas deficiências são analisadas pelo olhar de quem desconhece a hanseníase nos faz pensar que num passado não tão distante as pessoas nos olhavam com medo, com repulsa, por preconceito ou desinformação.

A condição de hanseniano nos tornou “os indesejáveis”  que deviam ser excluídos do convívio social. A doença havia mudado a nossa anatomia e isso feria os olhos da sociedade.

A dormência que a hanseníase causa deixou várias lesões e mutilações no nosso corpo, sim. Mas foi a insensibilidade de muitas pessoas que provocou as feridas que mais doem e que ninguém vê porque estão alojadas nas nossas almas.

Quantos de nós desejávamos um abraço ou um aperto de mão no lugar de uma dose de remédio. E quantas vezes isso nos foi negado porque as pessoas repeliam nossa aparência sem imaginar, sem imaginar que nossas almas agonizavam com a solidão e o abandono.

Até que alguém passasse a nos olhar além das nossas deficiências, muitas migalhas nos foram atiradas. Mas nós não queríamos fragmentos de pretensa caridade. Queríamos a oportunidade para lutar contra o medo de ser rejeitado e sair da condição de confinados.

Governador, como político vossa excelência não mediu esforços para que fossemos contemplados com a pensão vitalícia, por segregação compulsória. Esse benefício tem nos proporcionado uma qualidade de vida bem melhor, algo jamais imaginado por nós.

Portanto senhor governador, nossa gratidão ao político que se preocupou com o bem estar do seu povo, nossa gratidão ao homem que, apesar de tantas décadas depois, foi capaz de descobrir um jeito de colocar uma moldura bonita na velha fotografia em preto e branco…

Nada pode reparar a dor que já foi sentida. Mas, mesmo quando a ferida é profunda com um bom tratamento é  possível suavizar as cicatrizes…

Obrigado por tudo que tem feito em prol dos ex-asilados das colônias.

Maria de Jesus

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