A expectativa é de que a prospecção gere renda aos acreanos através da conversão desta atividade em forma de royalties, ICMS, ou qualquer outro recurso proveniente da prospecção, mas existe uma grande expectativa para a geração de emprego proveniente das empresas exploradoras.
{xtypo_quote} Esse pode ser um atalho na emancipação econômica das populações do Juruá, porque permitirá investimentos na região que variam da plantação de frutíferas, à atividades de uso da biodiversidade para produção de cosméticos. Podemos multiplicar as ações sustentáveis
Governador Tião Viana {/xtypo_quote}
A prospecção é algo tão sólido, que existe até uma escola profissionalizante do ramo instalada em Cruzeiro do Sul. A Petrogas, empresa de livre qualificação, entregou sua primeira turma agora com 200 alunos formados no curso de prospecção de gás natural e petróleo. O curso tem duração de um ano e agora deve formar uma turma por semestre.
“Hoje esse setor pertence a uma das áreas que mais cresce no Brasil. Não só as expectativas de geração de emprego para área são grandes, necessitando de muitos profissionais da área, como o petróleo e o gás são sempre responsáveis por um alto crescimento das cidades ao redor”, explica Jocemar da Silva, representante da Petrogas.
São novos rumos para pessoas como o estudante Gustavo Silva, que está concluindo este ano o ensino médio e se formará na próxima turma no curso de petróleo e gás. Ele acabou premiado com uma viagem ao Rio de Janeiro onde vai visitar usinas eólicas, a usina nuclear Angra I e plataformas da Petrobras. Silva está entusiasmado com as notícias referente à exploração e acredita que o impacto será grande na região. “Cruzeiro do Sul vai mudar. A exploração de gás vai contribuir para melhorar a infraestrutura da cidade e melhorar o índice de emprego”.
As profissões do futuro…
{xtypo_quote}Na cultura popular ninguém quer um filho pedreiro, pintor, encanador. Sendo que esses profissionais estão ganhando muito bem atualmente, mais do que muitas profissões que exigem nível superior
Geane de Farias, diretora do Senai {/xtypo_quote}
Com a diversidade de investimentos no estado, novos setores surgem e os velhos apresentam novas necessidades. Mas o mercado de trabalho acreano é capaz de oferecer todos os profissionais necessários hoje? Segundo o departamento nacional do Senai e seu Mapa do Trabalho, ainda não. Muitos postos de trabalho se encontram vazios por não terem profissionais qualificados para atuar.
A construção civil aparece em primeiro lugar. Segundo a diretora de Educação e Tecnologia do Senai Acre, Geane de Farias, “Temos vagas, mas elas não são ocupadas, ou porque as pessoas não tem formação, ou porque existe até um preconceito. Na cultura popular ninguém quer um filho pedreiro, pintor, encanador. Sendo que esses profissionais estão ganhando muito bem atualmente, mais do que muitas profissões que exigem nível superior”.
Operadores de máquinas pesadas também estão entre os profissionais mais desejados atualmente. Alguns profissionais da área chegam a tirar mais de R$ 5 mil mensais devido ao pouco número de pessoas capacitadas encontradas. O ramo das engenharias também está em crise em todo o país devido à falta de profissionais para atender o mercado de grandes obras. Mesmo com a Universidade Federal do Acre tendo os cursos de Engenharia Civil, Florestal, Elétrica e Agrônoma, os profissionais ainda são poucos e outras engenharias ainda fazem falta.
“Além disso, a área de construção civil mexe com diversas outras. Precisamos hoje de pessoas no setor de vestuário, que ainda é pequeno no Acre, pessoas da área de logística urgentemente e técnicos de segurança do trabalho, que tem poucas formações no estado e os que têm são absorvidos muito rápido”, completa Geane.
A área de agronegócios também precisa de profissionais, com técnicos em todas as áreas de atuação. Essa necessidade de mão de obra em especial tem surgido principalmente devido aos investimentos de agronegócios realizados pelo governo do Estado, como a piscicultura. O setor hoteleiro é outro que precisa de profissionais, principalmente devido aos três novos hotéis que devem abrir em Rio Branco em breve, todos pertencentes a redes consagradas. São cargos como recepcionistas, camareiras, motoristas e auxiliares de serviços gerais.
Geane ainda atenta para necessidades em Cruzeiro do Sul. Embora sejam praticamente iguais a da capital acreana, a segunda maior cidade do estado possui necessidade de profissionais na área da produção industrial de bebidas, além de se preparar para os futuros investimentos em prospecção de gás e petróleo.
... e as profissões do passado
E no momento em que se discute as profissões do futuro e as grandes necessidades do mercado para os dias de hoje, vale um olhar sobre o passado e profissões que muitas pessoas nem se questionam se ainda existem. São profissionais liberais que buscam seu sustento, lutando diariamente e mantendo vivas tradições que também os mantêm vivos.
É o caso de José Pereira que aos 63 anos ainda trabalha na mesma profissão há 35: catraieiro. “Esse foi o primeiro meio de transporte do Acre e ainda é muito reconhecido”, brinca o extrovertido senhor. Na época, José trocou um táxi que tinha por duas canoas e viveu muito bem. “Foi época de ouro, uma catraia aqui no rio valia muito mais do que um táxi na rua”. Mas hoje não é bem assim. “Eu sinceramente nem gosto mais, trabalho porque é daqui que eu tiro meu sustento”.
Hoje, José levanta às 5 horas da madrugada para começar a trabalhar e termina o dia apenas às 22 horas, num ponto do bairro Aeroporto Velho. A viagem de catraia custa R$ 1 e José chega a fazer de 80 a 120 reais por dia. E tanto faz o rio cheio ou seco, o catraieiro está sempre lá. “Eu nem me vejo em outro trabalho”.
Outra profissão que se encontra cada dia em menos atividade pelas ruas da cidade é a de ourives. Mozarth da Silva tem 58 anos e trabalha a 29 com a arte de moldar metais preciosos. “Começou como uma necessidade. Um amigo trabalhava e me convidou pra trabalhar junto. Tomei gosto e entrei de cabeça”. Mozarth fabrica, confecciona e vende. “É uma profissão muita boa. Tem que se dedicar. Você pega um pedaço de ouro e transforma numa joia. É muito gratificante”, conta o senhor que está há oito anos num box do mercado dos colonos.
Mozarth ainda tem clientes fixos. Gente que só produz suas joias com ele. O box é bastante movimentado e serviço não falta.
Vindo de Tarauacá para a capital, Edvaldo Albuquerque, 60 anos, é o mais famoso amolador de alicates e tesouras da cidade. Com um box no camelódromo ao lado do Terminal Urbano que as vezes possui fila de clientes esperando ter seus utensílios amolados. “Eu na verdade comecei a trabalhar como chaveiro, então as pessoas começaram a trazer seus alicates pra amolar e parti pra isso também”, diz Edvaldo.
O próprio Edvaldo admite que foi o pioneiro do ramo. Chega a amolar 60 alicates por dia e cobra R$ 2,50 pela amolação mais barata. O negócio já foi tão mais promissor, que chegou a abrir com o famoso Chico Elita, outro amolador, uma loja de amolação no período áureo da Galeria Meta, no começo dos anos 1990. Tímido e falando pouco, Edvaldo admite que, “Dá pra sobreviver e não penso em parar não”.
E a PEC das domésticas?
O país inteiro discute nas últimas semanas a Emenda Constitucional 72, conhecida como PEC das Domésticas, que iguala os direitos trabalhistas dos trabalhadores domésticos como os dos outros trabalhadores. Com a publicação da emenda, os trabalhadores domésticos (empregadas, babás, motoristas, caseiros) também garantiram direitos como controle da jornada de trabalho, com limite de 8 horas diárias e 44 horas semanais, pagamento pelas horas extras, FGTS obrigatório e seguro-desemprego.
A medida já está valendo e agora trabalhadores domésticos e patrões devem se adequar ao que determina a lei. O Sindicato das Domésticas do Acre espera aproveitar o momento de implantação da PEC entre as empregada domésticas tanto para fortalecer o sindicato quanto para mostrar as domésticas seus direitos agora garantidos por lei. “O Ministério do Trabalho e IBGE ainda não conseguiram fazer um levantamento do número de domésticas no Acre, principalmente porque a maioria ainda não tem a carteira assinada. Hoje temos 120 filiadas, mas queremos aumentar esse número”, explica Jane Aparecida Silva, presidente do sindicato.
A própria diretoria do sindicato é formada por ex-domésticas e todas comemoram a PEC. “A partir do momento que a PEC existe, a profissão se valoriza. Elas precisam saber essas informações. O próprio patrão vai tirar vantagens com o controle do ponto e a carteira assinada, evitando possíveis processos trabalhistas”, reforça Ângela Claudia, primeira secretária, que trabalhou como doméstica desde os 13 anos.
“Essa não é uma profissão qualquer. Você levanta cedo, cuida de uma família o dia inteiro e quando chega em casa ainda tem que cuidar da sua. Tem que ter amor. E a gente se apega”, ressalta Ângela. Jane ainda completa, “Passamos por muitas coisas. Até mesmo hoje vemos os filhos dos patrões se formando na faculdade, enquanto alguns filhos de domésticas se formam no crime”.
Galeria de imagens