Brava Gente – Francisca Aragão, uma vida dedicada à cidadania em Tarauacá

“Só a educação transforma”, diz Francisca Aragão (Foto: Angela Peres/Secom)

“Só a educação transforma”, diz Francisca Aragão (Foto: Angela Peres/Secom)

Em 1976, a isolada Tarauacá ainda não tinha uma escola de “segundo grau” (ensino médio). Francisca Aragão Leite, inspetora de ensino, não se conformava. E correu atrás de seu sonho.

Com a cara e a coragem, viajou para Rio Branco e pediu uma audiência com o governador do Estado, Geraldo Mesquita. Esperou, esperou e conseguiu. Ele a ouviu e disse:

– A senhora é muito ousada de vir aqui pedir o segundo grau para Tarauacá! Nem Feijó, que é a minha cidade, tem!

Ela não se intimidou:

– Governador, o que eu sei é o que a minha cidade precisa…

– Mas quem foi que custeou a sua passagem até aqui?

– Eu mesma, governador.

E não arredou. Ele, diante da insistência daquela mulher que sabia muito bem o que queria, viu-se numa saia justa e tentou uma última cartada:

– Mas aí a senhora teria que ser a diretora.

Francisca, que já  trabalhava de manhã e à tarde, encarou o período noturno também:

– Aceito.

E voltou para sua Tarauacá com a sonhada vitória nas mãos.

Essa é apenas uma das histórias que demonstram a fibra dessa tarauacaense com 55 anos dedicados à Educação em seu município.

Formanda da segunda turma de Pedagogia da Universidade Federal do Acre (Ufac), Francisca iniciou sua carreira profissional em 1958, como professora municipal.

Além de atuar 36 anos em sala de aula, passou por diversos cargos em sua área: coordenadora, inspetora, diretora e, como não poderia deixar de ser para alguém do seu gabarito, secretária municipal. Também foi presidente da União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime).

Devido à sua iniciativa, escolas foram construídas e reformadas no município. E faz questão de mencionar um parceiro constante: “O Exército nos ajudou muito”.

Os obstáculos não têm sido poucos, nem pequenos. A educadora narra o esforço de fazer chegar os programas educacionais até as escolas de mais difícil acesso no município. Relata expedições de burro e de barco. Há localidades que estão distantes oito dias, rio acima.

Não bastasse, durante anos, ao perceber que os alunos da escola que dirigia não tinham opções de lazer, promovia, nos fins de semana, atividades recreativas em sua rua.

Ainda, visando aprimorar a qualificação profissional do corpo docente da rede pública, conquistou o primeiro curso superior para sua cidade, em 1992. Pedagogia, naturalmente. E, hoje, mais de 90% dos professores de Tarauacá são formados.

Como resultado, Francisca é testemunha dos progressos do Estado: “Os programas de idade-série fazem uma grande diferença na Educação. Também a sequência lógica do conteúdo e um currículo útil na vida do cidadão ajudam muito. Graças a todas essas iniciativas, hoje estamos bem mais estruturados. E continuamos trabalhando, pois ainda há muito o que fazer.”

E há conquistas mais subjetivas, mas igualmente relevantes: “A noção de cidadania está se desenvolvendo. A gente está conscientizando a família sobre a educação dos filhos. As pessoas hoje pedem escolas e reclamam da atuação de profissionais quando não estão satisfeitas”, observa.

Assim, pelas suas palavras e atitudes, Francisca transmite credibilidade, determinação e satisfação consigo própria. Poder afirmar, com sinceridade “gosto muito da minha vida e do que faço”, como ela faz, olho no olho, é um dos maiores patrimônios que um ser humano pode desfrutar, aos 70 anos.

Tarauacá – e o Acre – precisam tirar o chapéu para uma pessoa assim. Que, com simplicidade, ideais e muito trabalho ajudou a construir uma realidade melhor para o mundo em que vive.

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