Tarauacá busca alternativas econômicas para superar marcas do isolamento

A cidade, cuja beleza natural se destaca, nasceu na confluência dos rios Tarauacá e Muru (Foto: Angela Peres)

A cidade, cuja beleza natural se destaca, nasceu na confluência dos rios Tarauacá e Muru (Foto: Angela Peres)

selo-tkTarauacá completará cem anos na próxima quarta-feira, 24, e nesta sexta, 19, dá início às comemorações à data. Em homenagem a esse município de grande representatividade histórica e cultural, a Agência de Notícias do Acre publica, a partir de hoje, uma série de matérias sobre o lugar, as pessoas, os fazeres e as tradições tarauacaenses.

Conhecida popularmente no estado como “terra da mulher bonita e do abacaxi grande”, Tarauacá, cujo nome, indígena, significa “rio dos paus ou das tronqueiras”, desenvolveu uma história intimamente ligada às suas condições climáticas e geográficas.

Devido à natureza extremamente argilosa do solo acreano, somada às abundantes chuvas do inverno amazônico, a exemplo de outras cidades do estado, Tarauacá sofreu, social e economicamente, com o isolamento físico gerado pelas estradas intrafegáveis por conta do barro. Isso contribuiu para que os rios da região tivessem grande importância no deslocamento de pessoas e mercadorias. Ainda assim, o transporte fluvial é sazonal, devido à variação do nível das águas do Rio Tarauacá.

Entre a população, a condição de se estar apartado do resto do estado fez com que fosse desenvolvido o espírito de iniciativa e o envolvimento com as questões de interesse comum. A professora Francisca Aragão Leite, referência em educação na cidade – e no Estado, afirma que um dos principais traços do povo de Tarauacá é a politização e a participação nos processos sociais. “Aqui as pessoas pedem escolas e reclamam da atuação de profissionais do serviço público quando se sentem lesadas. Isso é muito nosso”, relata. Mulheres vaidosas e gosto pela vida noturna também são apontados como pontos marcantes da cultura local.

BR-364 e a economia

Com a abertura permanente da rodovia BR-364, o isolamento vai sendo superado e cria novas perspectivas para a cidade: “Essa estrada é o maior bem que nos foi dado”, avalia Francisca Aragão.

Tradicionalmente o maior produtor de banana do estado, o município também tem “uma pecuária forte”, na avaliação de Francisco Chagas Batista, vice-prefeito: “Nosso rebanho bovino tem 200 mil cabeças, superior ao de Feijó e da região do Juruá juntos”, diz.

Vice-prefeito de Tarauacá, Chagas Batista (Foto: Angela Peres)

Vice-prefeito de Tarauacá, Chagas Batista (Foto: Angela Peres)

A produção de farinha também se destaca e Tarauacá vem disputando o mercado com Cruzeiro do Sul, especializando-se na qualidade “milito”, em flocos. Em consonância com a atividade comercial, o cultivo da macaxeira vem recebendo incentivo oficial.

Embora a fama do município remonte à dimensão dos abacaxis ali gerados, que chegam a pesar 15 quilos, a produção, que ainda não tinha representatividade econômica, também vem recebendo atenção especial.

Em parceria com o governo do Estado, o município também investe numa fábrica de empacotamento de grãos de feijão e farinha, que deverá iniciar suas atividades em agosto. Com instalações independentes, no mesmo prédio está sendo ativado um centro de beneficiamento de polpa de frutas regionais, como cupuaçu, buriti e açaí.

Já os planos de manejo comunitário do Complexo Florestal do Gregório abrangem três florestas estaduais: a do Rio Gregório, do Mogno e do Rio Liberdade, num total de 520 mil hectares. Ainda este ano, essas comunidades deverão fornecer, em conjunto com a iniciativa privada, matéria-prima para a indústria de beneficiamento de madeira para exportação e venda local, que está em construção.

A indústria de beneficiamento de madeira está sendo construída (Foto: Angela Peres)

A indústria de beneficiamento de madeira está sendo construída (Foto: Angela Peres)

A iniciativa deverá significar uma nova divisa comercial e social para o município. “A conclusão da obra e da instalação dos equipamentos está prevista para setembro, e, a partir de outubro, será iniciada a produção em caráter pré-operacional”, afirma Edvaldo Magalhães, titular da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis (Sedens). “A ação representará papel fundamental na economia da região do Juruá e especialmente de Tarauacá”, complementa.

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Chico Sérgio é figura legendária em Tarauacá

Foto: Angela Peres/Secom

 

Aos 81 anos, o amazonense Francisco das Chagas Tomás, o “Chico Sérgio”, é filho de imigrante sírio e o mais antigo comerciante de Tarauacá, dono da tradicional Casa Aurora. “Cheguei aqui em 1947, era meninote. Já vi muita crise e muita fome. Comercializamos muito pirarucu seco. Com a Transamazônica, nos anos 70 a coisa melhorou, começou a vir gente pro Acre. Eu lucrei aqui e apliquei aqui mesmo.” 

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