Governo incentiva plantio de mandioca no entorno das casas de farinha

O comerciante José Francisco Feitosa vende principalmente farinha no mercado municipal de Cruzeiro do Sul (Foto: Flaviano Schneider)
O comerciante José Francisco Feitosa vende principalmente farinha no mercado municipal de Cruzeiro do Sul (Foto: Flaviano Schneider)

O comerciante José Francisco Feitosa vende principalmente farinha no mercado municipal de Cruzeiro do Sul (Foto: Flaviano Schneider)

Grande consumidor de farinha, o cruzeirense ultimamente anda reclamando do preço do produto, que até pouco tempo era encontrado a R$ 1,50 o quilo e hoje custa de R$ 3,5 a R$ 5. Os atravessadores disputam a pouca farinha disponível nos ramais, cada vez oferecendo melhor preço. No ano passado se pagavam cerca de R$ 50 a saca (de 50 quilos) ao produtor, e hoje a Central de Cooperativas paga aos seus cooperados R$ 150 a saca.

Em todo o Brasil, o preço da farinha está  subindo. Segundo informação do IBGE, o produto teve alta de 151%, superior à do tomate, considerado o vilão nos novos índices de inflação. A farinha é um dos mais importantes produtos da economia acreana, movimentando mais de R$ 200 milhões por ano. O Vale do Juruá é a região de maior produção do Estado.

O pequeno comerciante José Francisco Feitosa vende principalmente farinha no mercado municipal de Cruzeiro do Sul. Ele conta que na última semana teve que sair de moto para comprar o produto nos ramais e conseguiu apenas duas sacas ao preço de R$ 180 cada. Feitosa lembra que também era produtor de farinha há quatro anos, mas desistiu da profissão por que o preço era muito baixo e o trabalho e tempo despendidos não davam o retorno necessário. Ele acha que o preço da farinha vai subir ainda mais, por outro lado, vai animar as pessoas a voltarem à cultura do plantio da mandioca.

O presidente da Cooperativa Agrícola Mista dos Produtores Rurais de Cruzeiro do Sul (Camprucsul), Antônio Azevedo, conta que já viu um atravessador pagando R$ 55 por meio paneiro, o que corresponde a meia saca de farinha – portanto, uma saca sairia por R$ 220. “Hoje a gente compra de um preço e amanhã já está outro. Isso é bom para o produtor, mas ruim para o consumidor”, disse.

Para Azevedo, alguns fatos contribuíram com o aumento do preço: a atividade de piscicultura, que fez com que muita gente deixasse a farinha para abrir os tanques de criação de peixes, e o aumento da exportação, potencializado pela abertura definitiva da BR-364, a partir de 2011. “Temos a melhor farinha, e com a abertura da BR-364 a procura aumentou em Cruzeiro do Sul”, afirma.

O gerente do porto do governo em Cruzeiro do Sul, José Cláudio Oliveira, explica que no período invernoso, que vai de outubro a junho, com a melhor navegabilidade no Rio Juruá, a exportação de farinha aumenta. As balsas sobem carregadas de mercadorias diversas e descem normalmente com cargas do produto. De outubro de 2012 até agora Oliveira calcula que já tenham saído por balsas cerca de 120 mil sacas para Manaus (AM) e Porto Velho (RO). “E até junho ainda vai sair muita farinha”, complementa.

Oliveira, que tem contato permanente com compradores de farinha, conta que o Pará e o Paraná, dois Estados grandes produtores, tiveram forte queda na produção, contribuindo para a alta dos preços, já que a farinha do Juruá passou a ser muito requisitada.

Seaprof vistoria casas de farinha

O gerente da Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof) em Cruzeiro do Sul, Franco Severiano, diz que o governo vê com preocupação a atual situação. Os técnicos da secretaria estão percorrendo as casas de farinha da região para avaliar o estado delas e a produção. No último fim de semana foram visitados 20 produtores no Ramal do Pentecostes e na BR-307.

Em todo o Brasil, o preço da farinha está subindo (Foto: Angela peres/Secom)

Em todo o Brasil, o preço da farinha está subindo (Foto: Angela peres/Secom)

Desde o governo de Jorge Viana, foram construídos no Vale do Juruá cerca de 300 casas de farinha. Dessas, 71 continuam funcionando só em Cruzeiro do Sul e servem a pequenas comunidades. Severiano explica que o governo pretende que no entorno de cada uma dessas casas de farinha sejam plantados 50 hectares de mandioca. Além disso, o governo também vai prosseguir o apoio com mecanização agrícola e aplicação de calcário.

Para Severiano, houve queda na produção de farinha no Juruá e um aumento na exportação, apesar de não saber especificar os números exatos. De família tradicional produtora de farinha no Ramal do Pentecostes, Severiano diz que os produtores de envelheceram e os novos estão sendo atraídos para outras atividades. “Somente no Pentecostes, 60 filhos de produtores se empregaram na Georadar, empresa que faz a prospecção de gás no Vale do Juruá.”

Outra situação que preocupa o governo é a recente enchente no Rio Liberdade. Segundo Severiano, o Vale do Liberdade era um dos maiores produtores de farinha na região, e a alagação destruiu quase toda a plantação demandioca nas margens do rio, restando apenas a que foi plantada emterra firme.

Técnicos da Seaprof estão percorrendo o Rio Liberdade visando ajudar a recompor as perdas.

Governo investiu na farinha

O governo do Estado investiu R$ 2 milhões na formação da Central de Cooperativas do Juruá, visando o fortalecimento da cadeia produtiva de feijão, farinha e outros produtos agrícolas. Com incentivo da Sedens, três cooperativas se reuniram e formaram a Central: a Camprucsul, a Cooperfarinha, de Cruzeiro do Sul, e a Coopersonhos, de Marechal Thaumaturgo.

Desde o governo de Jorge Viana, foram construídos no Vale do Juruá cerca de 300 casas de farinha (Foto: Arquivo Secom)

Desde o governo de Jorge Viana, foram construídos no Vale do Juruá cerca de 300 casas de farinha (Foto: Arquivo Secom)

Em Cruzeiro do Sul, o governo reformou a sede da Camprucsul – que agora também é o espaço onde funciona a Central -, recuperou parte do armazém da Cageacre que foi doado para a Central, bem como do maquinário lá existente.

O presidente da Central de Cooperativas, Germano da Silva Gomes, conta que, quando a cooperativa começou a funcionar em 2011, o preço que se pagava por saca, no mercado, era de R$ 25 a R$ 30, e a Central já começou pagando R$ 50 por saca e com o diferencial de buscar o produto nos ramais. Gomes lembra que antes toda a farinha produzida era comercializada no mercado, mas desde que a Central começou a atuar, já exportou mais de 20 mil sacas.

“O projeto visa melhorar a vida do produtor, mas extrapolou a expectativa que a gente tinha. Acho que se a farinha ficasse a uns R$ 100 ou R$ 110 a saca, estaria mais do que bom”, avalia. Gomes diz que já vendeu o a farinha a R$ 170 a saca: “Está bom para o produtor, mas vamos pensar também nas pessoas que moram na zona urbana, que vive de salário mínimo. Como é que se vai manter uma família de cinco ou seis pessoas comprando a farinha a esse preço?”.

Segundo Gomes, a Central paga no máximo R$ 150 a saca, visando estabilizar os preços. Para ele, se a Central fosse disputar o preço com os atravessadores, daí, sim, os aumentos da farinha não teriam limites. Mas a alta dos preços também já está provocando efeito inverso com a volta de colonos à atividade. A previsão da Central é de que a área plantada aumente, já que muitos estão deixando empregos onde ganhavam até R$ 800 por mês para voltar a plantar mandioca. Afinal, lembra Gomes, produzindo dez sacas, o colono já tem R$ 1.500 de faturamento.

Dificuldade para cumprir entregas

Em Cruzeiro do Sul, o governo reformou a sede da Camprucsul - que agora também é o espaço onde funciona a Central (Foto: Flaviano Schneider)
Em Cruzeiro do Sul, o governo reformou a sede da Camprucsul - que agora também é o espaço onde funciona a Central (Foto: Flaviano Schneider)

Em Cruzeiro do Sul, o governo reformou a sede da Camprucsul – que agora também é o espaço onde funciona a Central (Foto: Flaviano Schneider)

A Central costuma comercializar 100 toneladas por mês, mas vem enfrentando dificuldade até para cumprir os contratos já feitos e está recusando outros por falta do produto. O Supermercado Araújo de Rio Branco, por exemplo, compra, por mês, 600 fardos de farinha, de 25 quilos cada um, da Central. No mês de março só conseguiu comercializar 40 toneladas.

Uma rede de mercearias de Cruzeiro do Sul está pedindo farinha à Central, que está tendo dificuldade para atendê-la. Há lugares em ramais em que a pouca farinha existente está sendo retirada em carro de boi. De Belém do Pará vêm insistentes pedidos de farinha, mas a Central está impossibilitada de atender: “Estamos lutando para manter pelo menos os pedidos aqui do Acre.”

Fim da nota fiscal avulsa

Desde o dia 1º deste mês de abril, a Secretaria de Fazenda (Sefaz) orienta às pessoas que costumam exportar farinha com o uso de notas fiscais avulsas que o procedimento não será mais aceito. Segundo o gerente de Fiscalização da Sefaz em Cruzeiro do Sul, Valdenilson Costa de Moura, a emissão de notas fiscais avulsas era uma solução paliativa. A Sefaz pretende que as pessoas que trabalhem no segmento se formalizem, constituindo uma empresa e obtendo a inscrição estadual.

Assim a Sefaz vai parar de emitir notas avulsas aos clientes regulares vendedores de farinha. A exceção é apenas para o produtor que eventualmente faça uma venda.

Ele lembra que a credencial para comercializar dentro do Estado do Acre é uma inscrição estadual, e se a pessoa continuar a fazer movimentação através do CPF pode acontecer uma fiscalização em cima desse documento. “Existem impostos federais, e os vendedores poderão ser alvo de uma investigação da Receita Federal. A gente sempre fornecia essa nova avulsa às pessoas pelo CPF, mas isso era apenas uma medida provisória. “As pessoas que têm história nessa prática devem constituir uma empresa e emitir suas próprias notas”, recomenda.

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