Governo presta total apoio às famílias da região do Rio Liberdade

O Rio Liberdade, situado a 80 quilômetros de Cruzeiro do Sul, está passando pela maior enchente já registrada. Quem garante é o agricultor aposentado Francisco Pinheiro da Silva, 83 anos, morador de um bem cuidado sítio à margem direita do rio, pouco abaixo da ponte, na BR-364: “Nasci e me criei aqui no Liberdade. Nunca tinha visto nada parecido como isto; que aconteceu. Aqui em casa a água deu acima da metade da coxa”.

Francisco Pinheiro da Silva, 83 anos, morador de um sítio à margem direita do Rio Liberdade. (Foto: Flaviano Schneider)

Francisco Pinheiro da Silva, 83 anos, morador de um sítio à margem direita do Rio Liberdade. (Foto: Flaviano Schneider)

Estimativa preliminar feita pelo Corpo de Bombeiros aponta que 200 famílias, totalizando mais de mil pessoas, foram atingidas pela enchente, muitas delas de maneira dramática como o comerciante João Silva, conhecido na comunidade da Ponte do Liberdade por Joãozinho, que viu sua casa, onde funciona seu comércio, ser arrastada pela águas. Outro comerciante, Carlile de Sarah, teve seu estabelecimento comercial próximo à ponte invadido pelas águas. Ele estava com 200 sacas de farinha armazenadas quando o rio começou a encher na quinta-feira, 28. Foi uma correria, mas com a ajuda dos vizinhos conseguiu salvar quase toda a farinha, enviada no mesmo dia para Cruzeiro do Sul.

O governador Tião Viana tomou conhecimento do que estava acontecendo por volta das 16 horas de quinta-feira. Logo acionou o coordenador estadual da Defesa Civil, coronel Gundim, e no mesmo dia o enviou para Cruzeiro do Sul para coordenar as ações de socorro. Em Cruzeiro do Sul juntaram-se o Corpo de Bombeiros, a Polícia Militar, o 61º BIS, Deracre, Secretaria Estadual de Saúde, a Secretaria de Articulação Institucional e o gabinete do governador representado pelo vereador Valdemir Neto.

O governo também enviou médicos e colocou o helicóptero à disposição (Foto: Flaviano Schneider)

O governo também enviou médicos e colocou o helicóptero à disposição (Foto: Flaviano Schneider)

Na reunião ocorrida entre estes envolvidos foi decidida uma estratégia de atuação para apoio imediato às famílias e solicitação ao governo de alimentos e colchões. O governo enviou para o local 250 cestas básicas e 100 colchões, pois muitas famílias perderam todos os mantimentos que tinham em casa e outras perderam móveis e colchões.

Solidariedade

A solidariedade que se formou foi marcante. O comandante do 61º BIS, coronel Guerra, o comandante da PM em Cruzeiro do Sul, coronel Aires, e o comandante dos Bombeiros, major Araújo, participaram pessoalmente da entrega das cestas e colchões, descendo e subindo o rio a partir da ponte.

O 61º BIS colocou à disposição viaturas, lanchas e um pelotão, além de dois médicos. O governo também enviou médicos e colocou o helicóptero oficial à disposição. O helicóptero, além dos sobrevoos de reconhecimento, é usado na entrega de cestas em locais remotos. No domingo, 31, levou um médico para uma colônia situada no Igarapé Monteiro onde havia cinco pessoas doentes sem poderem se deslocar de casa.

Segundo o coronel Gundim, depois desta ação emergencial o governo vai fazer uma avaliação dos danos causados pela enchente e dará apoio através da Seaprof com sementes e animais. Na Unidade de Gestão Integrada do Liberdade (Ugai) foi montada a central de operações. Várias famílias também se alojaram na Ugai. Segundo a coordenadora da unidade, Valéria de Souza, somente no domingo mais de 150 pessoas lá almoçaram, entre desalojados e as pessoas envolvidas nas ações.

Situação atípica

A presidente da Associação Fortaleza Acreana, que congrega moradores da BR-364 e ribeirinhos do Rio Liberdade abaixo da ponte, Maria Élida da Silva Lima, conta que muitas famílias se abrigaram em casas de farinha, que normalmente são construídas em terra firme. “Algumas famílias vieram para a beira, mas outras se refugiaram até em chiqueiros”.

Carlile de Sarah, salvou quase toda sua farinha (Foto: Flaviano Schneider)

Carlile de Sarah, salvou quase toda sua farinha (Foto: Flaviano Schneider)

Rio abaixo o estrago foi grande, bananais, mandiocais, fruteiras, tudo alagado, quando não arrancado. Pedaços de casa e telhas se pode ver pelos barrancos. Duas comunidades situadas abaixo da ponte, São João e São José, tiveram todas as casas alagadas. Foi preciso rapidez para salvar alguma coisa. As oito famílias da comunidade São José tiveram que se abrigar em uma casa de farinha comunitária.

Maria Élida da Silva, presidente da Associação Fortaleza Acreana (Foto: Flaviano Schneider)

Maria Élida da Silva, presidente da Associação Fortaleza Acreana (Foto: Flaviano Schneider)

As oito casas são enfileiradas à margem do rio e o medo era de que a primeira se soltasse, pois era a mais frágil, e arrastasse todas as outras levadas pela forte correnteza, o que felizmente não aconteceu.

A agricultora Antônia Muniz dos Santos tem 57 anos e mora na comunidade São José desde os 12.  “Somos aqui em oito famílias, todos parentes. Todas as casas foram alagadas, muitos móveis estragados. Até o guarda-roupa do meu filho que foi comprado há pouco tempo. Mas o importante, eu tenho agradecido muito a Deus de nós todos estarmos vivos. Fiquei com medo de ver as casas caírem como já vimos na TV”.

O governo fez a distribuição de cestas básicas e colchões (Foto: Flaviano Schneider)

O governo fez a distribuição de cestas básicas e colchões (Foto: Flaviano Schneider)

Assim que recebeu as cestas básicas das famílias, entregue pelos soldados do 61º BIS, Antônia chorou. Emocionada disse: Agradeço a preocupação de vocês por nós. É uma coisa que nós nunca tínhamos visto na vida. Antigamente quando a gente alagava a gente não tinha esse apoio. Temos orgulho de vocês, de todos que ajudaram”.

Morador do estirão que fica entre as duas comunidades, o agricultor Raulino de Oliveira salvou os pertences de sua casa alagada e precisou arrombar a porta da casa do vizinho, que estava viajando, para salvar os móveis dele também.

Monitoramento mais amplo

“Tudo que vem da natureza, a destruição, nos traz aprendizado”, disse o coronel Gundim ao analisar a inédita enchente no Rio Liberdade . “Num primeiro momento vai servir de lição. Vamos fazer o monitoramento de agora para frente deste rio. Vamos instalar réguas ou uma estação telemétrica para nós ficarmos aferindo o nível dele para que a gente se previna numa situação desta”.

Tudo que vem da natureza nos traz aprendizado, disse o coronel Gundim (Foto: Flaviano Schneider)

Tudo que vem da natureza nos traz aprendizado, disse o coronel Gundim (Foto: Flaviano Schneider)

Segundo Gundim, no Rio Acre há um monitoramento desde acima de Assis Brasil até a Foz em Boca do Acre. O projeto da Defesa Civil é monitorar além do Rio Liberdade também o Rio Gregório. O Estado tem 25 estações telemétricas e 10 delas já estão instaladas. Dentre as 15 a instalar, conta Gundim, a Defesa Civil e a Secretaria de Meio Ambiente vão sugerir os dois rios.

“Este fato nunca tinha acontecido aqui e nos pegou de surpresa. Poderá acontecer uma situação como esta em outro local. Então estamos nos preparando para cada vez melhor monitorarmos os rios do estado”.

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