Os tapumes de paxiúba e o cheiro de borracha defumada não deixam dúvidas: estamos diante da réplica perfeita de uma simples e aconchegante moradia típica dos seringais acreanos. Os instrumentos de corte e caça e as imagens de santos na parede dão ainda mais realismo à Casa do Seringueiro, exposta há quatro anos no segundo piso da Biblioteca da Floresta e que, após revitalização, foi entregue aos visitantes na manhã desta terça-feira ,19.
Representando um dos aspectos mais fortes da identidade do povo acreano, o cenário recebeu um fogão de barro, uma mesa de madeira e um jirau – mezanino para guardar louças e outros itens domésticos. Os objetos foram feitos de forma artesanal sob a supervisão do seringueiro Aldenor Costa Souza, que já perdeu a conta de quantos trabalhos iguais a esse já realizou em moradas seringueiras em seus mais de 70 anos de vida, 42 deles dedicados ao corte de seringa.
“Nas ‘colocações’, toda mulher quer um jirau. Então eu já trabalhei muito com esse tipo de construção. Nessas horas, seringueiro também é artesão e carpinteiro”, disse Aldenor, que vivia no seringal Grajaú, em Cruzeiro do Sul, e hoje corta seringa no Parque Capitão Ciríaco, uma área florestal em plena região central de Rio Branco. No local está a sede da Fundação de Cultura Garibaldi Brasil (FGB), que apoiou a biblioteca nessa revitalização.
Confira o espaço nas fotos abaixo
Quando a instituição apresentou a revitalização do espaço a seus usuários e colaboradores, o aparelho de rádio instalado na Casa do Seringueiro transmitia os sons estáticos da única emissora sintonizada nos seringais do Acre, a Difusora Acreana, “A Voz das Selvas”. O momento emocionou alguns visitantes.
“Conhecer isso aqui foi uma grande surpresa. Me senti na casinha do seringal onde morava, no município de Cruzeiro do Sul”, disse o ex-seringueiro Francisco Alves Pedrosa, de 75 anos, que, por acaso, teve a oportunidade de se reencontrar com sua história ao acompanhar a neta Ana Luiza Pedrosa, de 10 anos, à biblioteca para uma pesquisa da escola.
Para o diretor da Biblioteca da Floresta, Marcos Afonso Pontes, a revitalização da Casa do Seringueiro representa um momento importante para a instituição “porque reforça uma identidade que a biblioteca possui, que é o diálogo com os povos da floresta. O jirau é uma obra de arte que faz parte da história da nossa arquitetura ‘florestânica’”.