Fiéis prestam homenagem a Nossa Senhora da Glória em Cruzeiro

Uma multidão percorreu as ruas e ladeiras de Cruzeiro do Sul durante a procissão (Foto: Pedro Devani/Secom)
Cerca de 35 mil pessoas percorreram as ruas e ladeiras de Cruzeiro do Sul durante a procissão (Foto: Pedro Devani/Secom)

Há 98 edições, Novenário de Nossa Senhora da Glória, em Cruzeiro do Sul, movimenta todo o Acre, em especial a região do Juruá. Desde 1918, a tradição cristã promove, entre os dias 6 e 15 de agosto, uma interação em toda a sociedade do município, com novenas, missas, leilões e arraial, que se modernizam a cada ano.

Originalmente, uma reunião entre os moradores dos seringueiros de toda a região, que juntavam prendas como borracha, animais vivos, ovos e outros produtos e celebravam a fé alcançada, o Novenário hoje moderniza-se.

Com o tema “Mãe da Glória, Plena de Misericórdia”, este ano a festa conta com a feira dos pequenos empreendedores da região, que é realizada em frente à catedral, organizada pelo governo do Estado e pelo Sebrae. Os produtores e artesãos podem expor e comercializar o fruto de seu trabalho.

Renovação e fortalecimento da fé marcam Novenário de Nossa Senhora da Glória (Foto: Onofre Brito/Secom)
Renovação e fortalecimento da fé marcam Novenário de Nossa Senhora da Glória (Foto: Onofre Brito/Secom)

Percorrendo as ruas e ladeiras de Cruzeiro do Sul, a procissão marca o fim da celebração de fé, que durou dez dias. A cerimônia contou com a participação do governador Tião Viana, da primeira-dama Marlúcia Cândida e do senador Jorge Viana.

“É uma tradição da minha família abraçar a fé do Juruá, que leva pela ascensão da Nossa Senhora da Glória uma fé para o Acre. Espero que esta festa possa cobrir de generosidade, de boa-fé, de sinceridade o cotidiano do estado. Esta gente do Juruá tem uma fé muito linda, e neste momento o Acre inteiro se devota à Nossa Senhora, pedindo paz, proteção, serenidade, trabalho e superação”, declarou Tião Viana.

Ao seu lado, a primeira-dama falou sobre suas preces durante a missa e a procissão: “Peço a Nossa Senhora da Glória que dê ao povo desta região, e também do Acre todo, muita sabedoria e luz para enfrentarmos todas as dificuldades”.

Sendo a segunda maior festa religiosa da Amazônia, Jorge Viana se diz “emocionado ao ver pessoas que, com muito sacrifício, vêm das cabeceiras e do baixo Rio Juruá e também de outros rios da região e se juntam aqui numa procissão de fé”.

Tradição e fé

Fiéis chegam das mais diversas partes, seja dos rios da região do Juruá, até de municípios vizinhos, no Amazonas (Foto: Onofre Brito/Secom)
Fiéis chegam das mais diversas partes, seja dos rios da região do Juruá, até de municípios vizinhos, no Amazonas (Foto: Onofre Brito/Secom)

As últimas horas do novenário são o sinal para os últimos esforços de cada fiel. Os pés descalços no asfalto ainda quente do sol, a vela pingando na mão, a mão firme segurando uma foto antiga do Irmão José da Cruz, missionário que transmitia a mensagem de amor por todo o Juruá nas décadas de 1960 e 1970. Os devotos percorrem as ruas e ladeiras da cidade, concentrados em suas lembranças.

Mário de Lima há 15 anos paga promessa durante todo o Novenário. Morador de Eurinapé (AM), prometeu participar após um de seus 12 filhos contrair o vírus da hepatite. “Eu me sinto feliz quando venho ao Novenário. Quando um dos meus filhos contraiu hepatite, eu disse: ‘Enquanto ele for vivo, virei para o Novenário. Se ele falecer, eu pago do mesmo jeito’. Infelizmente, meu filho morreu, mas eu continuo cumprindo o prometido.”

Lima enfrenta um dia de viagem de barco, dorme na Vila São Vicente – margem do Rio Gregório em Tarauacá – e de manhã cedinho vai para a abertura do Novenário.

Durante as noites, acompanha a missa e novenas, e volta para a casa da filha na cidade. Ele renova todos os anos sua fé e mantém parte da tradição do povo da Amazônia.

Há 20 anos, Gorete Caetano não comparecia mais aos dez dias de festa. Mas a manhã desta segunda-feira foi diferente dos outros dias. “Hoje, eu realmente me senti chamada por Deus. Há muitas coisas na vida de gente que nos alertam para ficar mais próximo da tradição da minha religião”.

Ao lembrar os dias de infância em que comparecia à festa e parar nos brinquedos, novidades na época, Gorete explica que agora já tem consciência da importância da homenagem à Nossa Senhora da Glória. Hoje, ela agradece pela recuperação da mãe e do irmão.

A comunhão entre os presentes, as mãos dadas na caminhada, as trocas de olhares à luz das velas que iluminam a chegada em frente à catedral, uma chama que acende a outra, outra e outra vela, transmitem símbolos de esperança na paz entre os povos.

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