O Acre já foi um vivo, produtivo e afluente seringal. Não tinha conexões econômicas importantes com a economia brasileira. Salvo a tributária, que enchia os cofres do tesouro nacional. Este foi o tempo do extrativismo tradicional de borracha.
Depois, veio uma lenta agonia do seringal cuja origem estava na concorrência da borracha produzida em seringais de cultivo da Ásia. Primeiro a vertigem, depois uma morte lenta e dolorosa. Eis aí, um decurso muito estudado e conhecido na academia, o tempo da crise do extrativismo tradicional.
O breve ressurgimento extrativista da segunda grande guerra, que estendeu seus efeitos até o colapso dos seringais reativados pelos incentivos transitórios dos “Acordos de Washington,” foi abordado com acuidade pelo professor e historiador Pedro Martinello no seu livro “A Batalha da Borracha”, um clássico da historiografia do Acre. Pode-se falar, portanto, de um tempo de ressurgimento do extrativismo.
Desnudadas as contradições do antigo seringal, no ápice da longa crise extrativista, o aguçamento das dificuldades de sobrevivência, os litígios fundiários, os crimes ambientais, o êxodo, a formação de povoações urbanas “obesas”, a ameaça sobre a cultura, a identidade, o modo de vida, a morada tradicional do seringueiro e as lutas sociais fizeram brotar e desenvolver propostas de incremento tecnológico, de reorganização territorial, de posse e exploração dos recursos, por concessão, da floresta e da terra.
Além disso, promoveu-se o manejo sustentável, comunitário e empresarial, dos recursos florestais como parte da constituição de uma economia florestal, base do projeto de desenvolvimento sustentável.
Esse período recente de criação de alternativas para saída da crise consistiu, justamente, no tempo de transição e de estabelecimento das bases de uma economia sustentável.
Foram, nessa época, construídos os requisitos fundamentais do desenvolvimento: infraestrutura, educação, cidadania e mudanças institucionais.
A contemporaneidade revela-nos o salto para um patamar superior, o surgimento de um tempo novo: o desenvolvimento sustentável diversificado.
O conceito de sustentabilidade não se restringe e nem se aplica, apenas, ao manejo produtivo da floresta. Inclui também o manejo do solo e da água. Em todas essas classes de uso de recursos, pode acontecer e desenvolver-se a produção sustentável.
O suposto demonstra a factibilidade de uma agricultura e piscicultura sustentáveis, da criação de pequenos animais, da agropecuária sustentável. Em tese, todas atividades produtivas que usam recursos renováveis são aptas à sustentabilidade. Claro, quando se fala em manejo do solo, ressalva-se a manutenção da cobertura florestal, ou seja, o uso de áreas já abertas.
A conexão e soma da exploração econômica sustentável da floresta, do solo e dos recursos hídricos estão na base do avanço que está acontecendo no Governo Tião Viana.
Há também iniciativas de profundos impactos nas condições sociais e culturais.
Há sinais e testemunhos de um tempo e marco novos no projeto de desenvolvimento sustentável do Acre.
Oito exemplos permitem discernir essa percepção e vislumbrar as mudanças estruturantes na economia e no domínio social. São empreendimentos de escala e alta tecnologia: a Granja Carijó, o Complexo de Piscicultura, o projeto Dom Porquito, o Complexo Florestal de Cruzeiro do Sul; o complexo Florestal de Tarauacá, os Pequenos Negócios, as Ruas do Povo e a Cidade do Povo.
Dentre estes, os projetos econômicos, são todos projetos resultantes de uma estreita parceria, uma articulação, uma concertação entre o governo e a iniciativa privada. E, no geral, são projetos que têm participação dos pequenos produtores e/ou entrega de benefícios às comunidades.
No campo da produção, os investimentos têm um poderoso efeito multiplicador e geram elevados ganhos de escala e de produtividade que resultam num salto do tamanho e da eficiência da economia. O multiplicador e o acúmulo quantitativo determinam o salto qualitativo. A economia do Acre “já não é mais a mesma”. É maior, mais produtiva e diversificada. Uma nova economia. O tempo da escala, produtividade e diversificação. Para gerar renda, emprego, cidadania e bem-estar social com sustentabilidade.
Professor José Fernandes do Rêgo, Secretário de Articulação Institucional