A paixão da enfermeira Lúcia de Fátima Carlos Paiva Luna pelo mundo do atendimento emergencial em saúde é algo notável.
Ela é a conhecida “Lúcia Carlos do Samu”, desde 1986 na capital acreana. Essa potiguar atua há 20 anos na Saúde do Estado. Pós-graduada em Gestão de Clínica Hospitalar do SUS pelo Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, e pós-graduada em Urgência e Emergência pela Universidade do Acre (Ufac), iniciou sua carreira na Fundação Hospitalar do Acre (hoje Hospital das Clínicas), passou pela UTI, centro cirúrgico, atendimento ambulatorial e pela chefia de diversos setores.
Lúcia Carlos está 24 horas por dia à disposição do Estado no atendimento de emergências (Foto: Sérgio Vale/Secom)
Em 2000, seguiu para a administração do Pronto Socorro (atual Huerb) da capital. Quatro anos depois, liderou a implantação da UTI naquele hospital, bem como a fundação do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) em Rio Branco.
Uma vez no Samu, que está sob sua coordenação, Lúcia vestiu o uniforme azul e não tirou mais. Ou quase isso. “Eu vivo praticamente só de farda e me sinto estranha sem ela. Gosto de estar sempre preparada para atender qualquer emergência”, diz.
E aí se afigura uma das principais dificuldades do atendimento telefônico da instituição: explicar para o cidadão que solicita atendimento que a urgência, cuja definição é prerrogativa sua, não é necessariamente uma emergência, em que há uma constatação técnica de que, se a pessoa não for atendida imediatamente, sofre risco de vida. Outro mito comum é achar que o Samu atende mais casos de acidentes. Os dados demonstram que as ocorrências de casos clínicos têm números bem mais elevados.
Sob a responsabilidade de Lúcia, estão também outras três frentes de trabalho: a coordenação da Rede de Urgência do Estado (UPAs, hospitais, ambulâncias), da Central de Regulação de Leitos e o serviço “Melhor em Casa”, que, desde março de 2011, dá atendimento residencial a dezenas de pacientes, inclusive alguns de UTI domiciliar. “Havendo condições de ficar em casa, a pessoa se recupera muito melhor”, lembra.
Por falar em casa, Lúcia tem um conceito bem particular de residência. Nas instalações do Samu, no centro da cidade, fez a sua morada. Em sua sala-escritório-dormitório repousa todas as noites, há oito anos. “Deito com a porta entreaberta, atenta aos toques de telefone e ao movimento da central”, relata. Sua filha, de 28 anos, e o filho, de 15, visitam a mãe no próprio Samu, onde consideram que seja seu lar. “Meu filho cresceu por aqui e conhece muito bem diversos procedimentos nossos. Mas não quer saber de trabalhar na área”, afirma.
Não é difícil imaginar por qu
Um dos trunfos de Lúcia é a sua equipe (Foto: Sérgio Vale/Secom)
Além disso, um dos trunfos da missão bem-sucedida de Lúcia é a equipe: “Temos profissionais muito bons, envolvidos. E digo a todos que não devemos nos considerar heróis, cada um é um grão de areia que Deus colocou para ajudar os outros”.
Ajudar é com ela mesmo. A enfermeira conta o caso recente do menino Paulo (nome fictício), de quase dois anos, que levou um coice de cavalo na cabeça e ficou gravemente ferido. O Samu se deslocou rapidamente para o local do acidente e prestou socorro à vítima, salvando sua vida. A criança se recuperou e, após cerca de quinze dias, recebia alta. O sorriso de satisfação no rosto de Lúcia Carlos com o desfecho da situação demonstra o grau de seu amor pelo que faz: “É isso o que nos gratifica: é saber que hoje o Paulo vai pra casa.”