A pequena Igreja Adventista do Bairro Betel tornou-se referência para a comunidade. Todas as noites, de segunda a sexta-feira, cerca de 30 alunos, a maioria entre 40 e 75 anos, comparece para realizar um sonho antigo de vida: a alfabetização.
Com cadernos e livros nas mãos e muita esperança nos olhos, todos detêm a crença unânime de que a educação é a única rota de acesso à liberdade e ao conhecimento.
“Quando o governo lançou o Quero Ler [programa de erradicação do analfabetismo no Acre], eu também quis ser protagonista desse projeto tão inclusivo. Por conta própria busquei ajuda e consegui as duas salas de aula, as cadeiras, o material escolar e, por fim, os alunos. Não dá para descrever a satisfação que é fazer parte disso.”
O depoimento é de Antônio Bandeira, copeiro do gabinete do governador Tião Viana. Bandeira, como é conhecido por todos na Casa Civil, apresentou na noite desta segunda-feira, 27, para Tião Viana, à equipe de coordenação do Quero Ler e aos deputados Sibá Machado e Daniel Zen, as duas turmas de alunos que conseguiu formar no bairro Betel.
Para Tião Viana, as 345 salas que o Quero Ler reúne em Rio Branco demonstram a relevância social do programa. Só na capital, 12 mil pessoas devem ser alfabetizadas.
“Todas as noites vocês deixam suas casas para descobrir melhor o mundo. Para conhecer a vida. Eis o sentido desse programa. Queremos entregar 60 mil pessoas formadas até 2018, e fazer com que o Acre seja o primeiro estado do país a erradicar o analfabetismo”, afirma Tião Viana.
O secretário adjunto de Educação e coordenador do Quero Ler no Acre, Moisés Diniz, parabenizou a iniciativa do copeiro e ressaltou que a população, as instituições, sindicatos, igrejas e cooperativas também precisam assumir esse papel e unir forças para serem protagonistas da educação nesta batalha.
“O Bandeira está de parabéns pela mobilização dos professores e dos alunos. Aqui fica uma mensagem para a sociedade de que todos podem fazer a sua parte e ajudar o Acre a avançar com o Quero Ler”, destacou o gestor.
História, oportunidade e determinação
A cada aluno, uma história de vida em comum: pessoas não puderam estudar durante a infância e a juventude. Um sonho adiado, na maioria, pelas responsabilidades que chegaram prematuramente, pelo trabalho pesado e excessivo ou por tempos difíceis de uma geração que não teve a oportunidade de frequentar a sala de aula.
“Toda a vida eu trabalhei nos acampamentos, operando máquina pesada. Passava meses, até anos longe da cidade. Assim, nunca tive oportunidade de estudar. Quando eu soube dessas vagas, corri para me matricular, porque todo homem ou mulher que se formou um dia passou pela ordem das letras. Toda oportunidade é única. Se eu perder, pode até vir outra, mas esta já era. Então vou aproveitar.”
É com essa determinação que o aposentado Antônio Soares, 64 anos, almeja alcançar a tão sonhada alfabetização. No Acre desde a década de 1980, ele conta que ajudou a construir a BR-364. Há um mês frequentando a sala de aula, pela primeira vez na vida conta orgulhoso que já conhece as letras do alfabeto.
Sensibilidade, orgulho e gratidão
A história do casal Claudineis Aguiar, 47, e Adalcilene Aguiar, 42, não se difere das dificuldades enfrentadas pelos outros alunos. “Eram tempos difíceis”, conta a mulher.
A única coisa que os torna diferentes da turma inteira é que a alfabetização chegou para eles cheia de sensibilidade, orgulho e gratidão, por terem como professora alguém mais que especial: a própria filha.
“E olha só eu sendo alfabetizado pela minha filha! Que coisa boa, um presente. Não seria tão gratificante com outra pessoa quanto é com ela. Um orgulho para mim”, exprime o pai da professora Nágila Águiar.
Trabalhador da construção civil, ele assegura que a alfabetização é só o começo, o passo inicial para a tão almejada formação em engenharia civil.
“É uma honra para mim levar esperança aos meus pais e àquelas pessoas que não tiveram a oportunidade que eu tive”, conta a educadora. Para ela, a alfabetização não é apenas uma campanha, mas um movimento permanente, que tem como foco capacitar as pessoas para aprender a dominar os códigos presentes na sociedade em que vivem.
Compromisso e realização
“Fiz uma promessa a eles: daqui a oito meses, quando o curso terminar, eu levarei todos até a OCA, para tirarem um novo RG. Pela primeira vez na vida, o documento, terá um nome assinado por eles, e não mais uma triste digital com a palavra “analfabeto”
Para o Bandeira, reunir as duas turmas é algo que tem a ver com compromisso e realização. Quando alguém falta às aulas, ele vai, pessoalmente, à casa do aluno para saber o que houve e estimulá-lo a retomar os estudos.
– O que disseram –
“Já temos 345 salas funcionando neste momento. Essa é a ousadia do governo, que acredita nas pessoas e oportuniza a realização de sonhos. Aqui é lugar de transformação. Nós vamos zerar o analfabetismo no Acre, porque acreditamos na transformação através da educação.” – Coordenadora do Alfa 100, Maria Augusta Ferçosa
“Este é um grande programa. O governo está de parabéns por executá-lo e por estender a mão a essas pessoas, que estão com a idade já avançada, mas ainda assim, determinadas a aprender a ler e a escrever.” – Deputado federal Sibá Machado
“É uma felicidade participar deste momento. Essa é a maior dívida moral que o Brasil ainda tem com o povo, ter uma taxa elevada de analfabetos. Aqui estamos falando de educação inclusiva. Educação pública democrática de qualidade e para todos. Um trabalho brilhante que o governo realiza.” – Deputado estadual, Daniel Zen