A apresentação de hip hop realizada nesta segunda-feira, 28, no Centro Socioeducativo Santa Juliana, significou mais do que um momento divertido para os adolescentes privados de liberdade. Com expressões atentas e sorrisos tímidos nos lábios, eles acompanhavam cada batida de som. Os olhos seguiam os passos e piruetas do grupo independente Trindade Crew.
Sanclé de Souza é o líder do grupo, que atualmente já reúne mais de 250 pessoas no movimento do hip hop. Ele dança desde os 11 anos de idade e hoje, com 22 anos, coordena o Trindade Crew, com núcleos em quase todo o Acre e sede no Centro Cultural Thaumaturgo Filho, em Rio Branco.
O jovem coleciona prêmios, sendo que recentemente conquistou o primeiro lugar na Bolívia, em uma disputa de Break Dance B-Boy.
“Agora somos uma empresa, com CNPJ e tudo. Dançamos em igrejas, escolas, e hoje estamos tendo a oportunidade de nos apresentar para adolescentes privados de liberdade. Vi que alguns já têm talento nato e outros possuem força de vontade. Acho muito importante inserir a dança na vida desses jovens”, declara Sanclé.
Os outros dois integrantes do grupo que estiveram presentes na unidade socioeducativa são Jeferson Almeida e Victor Afonso Cavalcante, ambos instrutores de hip hop.
“O nosso objetivo é tirar as pessoas da rua para dentro do movimento. Eu mesmo já fui resgatado, e hoje posso dizer que o hip hop e a minha fé me salvaram”, afirma Jeferson Almeida.
Durante a apresentação, Sanclé convidou um dos adolescentes a interagir com a equipe e se surpreendeu. Muito empolgado, o menino começou a fazer passos que de acordo com o professor são de alto nível dentro do hip hop.
“Nunca pratiquei aulas de dança, isso já está dentro de mim. Alguns passos são inspirados no Michel Jackson, pois sou fã dele. E digo isso porque a dança é muito importante na minha vida, principalmente nesse momento difícil, que é estar dentro de um Centro Socioeducativo. Ajuda a superar o meu erro”, declara o socioeducando.
O diretor da unidade, Rafael Almeida, responsável pelo convite feito ao grupo, defende a transformação por meio da música e da dança. “Muitos desses jovens se identificam com o movimento. Alguns só precisam acreditar que podem ser bom em algo, como na dança, por exemplo. Por isso, o nosso objetivo é trazer para dentro do Centro Socioeducativo as aulas de hip hop”, projeta.
O presidente do Instituto Socioeducativo do Acre, Henrique Corinto, esteve presente ao evento e aprovou a ação. “Os adolescentes já desenvolvem atividades semelhantes nas unidades. Com certeza trazer o movimento do hip hop para a rotina desses jovens vai dar bons resultados, pois se trata de algo próximo à realidade deles”, aponta Corinto.