Quem tem ouvidos, que ouça Ruth

 

Há 20 anos, Ruth de Souza e Silva já trabalhou na UTI, no Centro Cirúrgico e hoje, na Humanização, canta para alegrar o coração dos usuários da instituição (Foto: Angela Peres/Secom)

Há 20 anos, Ruth de Souza e Silva já trabalhou na UTI, no Centro Cirúrgico e hoje, na Humanização, canta para alegrar o coração dos usuários da instituição (Foto: Angela Peres/Secom)

Lá do fim do corredor, vem chegando uma voz melodiosa, com certa carga dramática, mas suave, entoando canções. Uma voz de mulher. Quem não conhece, estranha, inquieta-se, pergunta: “Como assim, uma cantora no hospital?”. Uma cantora no hospital.

É a Ruthinha. No Huerb (Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco) há 20 anos, Ruth de Souza e Silva já trabalhou na UTI, no Centro Cirúrgico e hoje, na Humanização, canta para alegrar o coração dos usuários da instituição e também dos colegas.

Alguém pediu para ela cantar? Não. Ela canta porque a música transborda dentro de si. Junto, derrama entusiasmo, carinho e palavras de conforto para quem está fragilizado pela doença, para quem aguarda uma consulta ou acompanha um familiar internado.

Ruth não esquece que atrás de cada rosto há  uma história. E se aquela história levou o indivíduo até o hospital, é certo que ele carrega aflições. “A gente tem que entender o ser humano, acolhê-lo”, diz. Com naturalidade, ela vive, observa e declara, do alto dos seus 59 anos: “A natureza e o tempo me ensinam”.

O talento artístico despertou cedo, antes dos dez anos. Na escola, apresentava-se cantando e representando. De modo que seu sonho era ser cantora profissional, mas, na época de sua mocidade, o preconceito contra os artistas pesou mais e o pai a impediu de realizá-lo.

 

Ruth não esquece que atrás de cada rosto há uma história. E se aquela história levou o indivíduo até o hospital, é certo que ele carrega aflições (Foto: Angela Peres/Secom)

Ruth não esquece que atrás de cada rosto há uma história. E se aquela história levou o indivíduo até o hospital, é certo que ele carrega aflições (Foto: Angela Peres/Secom)

Não deteve o seu cantar, entretanto. Ruth já se apresentou no show Boca de Mulher, reeditado há mais de 20 anos em Rio Branco, com frequência é convidada a dar mostras de seu talento, especialmente em igrejas e, em outubro passado, fez uma exibição no Sarau do Servidor, no Teatro Plácido de Castro.

No ambiente de trabalho, além de canções e hinos, declama poemas e faz orações. O Same (Serviço de Arquivo Médico Estatístico) é um dos setores do Huerb que Ruth visita com regularidade. Sônia Almeida, gerente, declara: “Ruth transmite paz, vem pelos corredores cantando, sempre alegre. Sua música faz bem para todos.”

Ao falar sobre a experiência de cantar, fica visível a satisfação que toma conta dela: “Quando canto sinto uma paz que renova todas as minhas expectativas, não dá para lembrar-se de problemas, falta de dinheiro, doença… Cantar me fortalece, dá ânimo, uma vida feliz.”

E, assim, Ruth segue contente, fazendo o que acha bom e correto.

No seu ofício, pode despertar o entendimento de que se a formiga da fábula de Esopo fosse mais sábia, em vez de pensar apenas em executar seu trabalho, de modo previsível e enfadonho, agradeceria à gentileza da cigarra cantante. Afinal, com sua arte, ela é capaz de transfigurar o cotidiano de quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir.

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