Mulheres de abrigos públicos contam suas histórias de superação

Aos 64 anos, dona Izabel não abre mão dos cuidados com a beleza (Foto: Angela Peres/Secom)
Aos 64 anos, dona Izabel não abre mão dos cuidados com a beleza (Foto: Angela Peres/Secom)

No Dia Internacional da Mulher, 8 de março, muitas acreanas estarão longe de suas casas, pois enfrentam a maior cheia da história do estado. Mais de dez mil pessoas estão alojadas em 26 abrigos públicos, somente em Rio Branco, sendo 1836 mulheres. Em meio a tanta tristeza, é possível encontrar histórias de vida que inspiram e enchem de emoção.

No box número oito, no Parque de Exposições Marechal Castelo Branco, está abrigada a dona de casa, Izabel Adefásio, 64 anos. Ela é uma das guerreiras que vence dia a dia os percalços da vida com um sorriso estampado no rosto.

Um derrame associado a uma paralisia infantil atravessou a juventude de Izabel aos 17 anos, mas não lhe tirou o sonho de ser mãe.  Na tentativa de realizar esse sonho ela se deparou com outros obstáculos: ela perdeu três filhos. O primeiro foi sequestrado na maternidade, o segundo morreu no parto e o terceiro, o próprio marido deu para outra família. Mesmo com todas as dificuldades, a dona de casa, conseguiu trazer ao mundo dez filhos, sendo nove de parto normal, e assim seguiu a vida, com as marcas do sofrimento, mas sempre renovando a esperança.

Atualmente, ela se arrasta para todos os lados, em uma espécie de “skate” improvisado, desfruta de uma saúde de ferro, não abre mão de estar sempre bem arrumada, mantendo a vaidade em dia. Costura nas horas vagas e sempre fez questão de cuidar da casa e cozinhar para a família. “Meus cremes e meu perfume nunca podem faltar, assim como meu batom que é para enfeitar o sorriso. Sorrir ameniza qualquer dor”, ensina a dona de casa.

A mais bonita do Taquari

Mesmo sem enxergar, Ercilia não se queixa da vida (Foto: Angela Peres/Secom)
Mesmo sem enxergar, Ercilia não se queixa da vida (Foto: Angela Peres/Secom)

Bem próximo ao box de Izabel, está a dona Ercília, que recebe as visitas dizendo: “Meu nome é Ercília Cristina Andrade, a mulher mais bonita do Taquari”. No alto de seus bem vividos 83 anos ela é alegre e comunicativa. Fala com orgulho de bairro onde mora há 29 anos e dos amigos que lá conquistou. “Eu e meu marido moramos lá boa parte da nossa vida. Foi num dia 5 de junho que nos mudamos e nunca mais saímos. Lá todo mundo me conhece”, conta.

Há 10 anos a dona Ercilia perdeu 70% da visão, em decorrência do diabetes, mas nem isso lhe tirou a alegria. Descendente de africanos ela nasceu em Roraima, mas constituiu família em Sena Madureira e, em seguida, se mudou para Rio Branco. O marido faleceu aos 103 anos, e ela espera chegar tão longe quanto ele. “Eu só preciso de Deus para viver. Nem a falta da minha visão me tira essa vontade”, declara.

As duas senhoras passam pela alagação todos os anos, além de todas as barreiras que precisaram vencer na vida, e mesmo diante da luta diária não perderam a essência de mulher.

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