Doença não tem causa definida e o preconceito é uma das maiores barreiras para o convício social
Pontes, viadutos e igrejas, entre outros monumentos históricos ao redor do mundo, serão iluminados simultaneamente na cor azul, nesta sexta-feira, 1, para lembrar o Dia da Conscientização do Autismo celebrado sábado, 2. No Acre, o Palácio Rio Branco foi o monumento escolhido para participar dessa celebração.
De acordo com os dados da Organização das Nações Unidas (ONU), o autismo é uma síndrome que atinge cerca de dois milhões de brasileiros e mais de 70 milhões de pessoas em todo o mundo. A fim de alertar o planeta para essa questão tão séria, a ONU criou em 2008 o Dia Internacional do Autista.
Segundo o psiquiatra do Hospital de Saúde Mental do Acre (Hosmac) Mauro Hashimoto, o autismo é uma alteração cerebral que afeta a capacidade das pessoas de se comunicar, estabelecer relacionamentos e de responder apropriadamente ao ambiente que as rodeia.
Hashimoto explica que esse transtorno é de causa diversificada que se evidencia em uma difusão cerebral, associada a um comprometimento neurológico, e apresenta convulsões em cerca de 30% dos indivíduos.
“Esse distúrbio normalmente é percebido na infância, em crianças em torno dos três anos de idade. De mil crianças, uma pode ser acometida pela síndrome. Geralmente de cada três crianças autistas, duas são do sexo masculino”, destaca o psiquiatra.
Um caso real
A dona de casa Elizete Nunes explica as dificuldades que teve para obter o diagnóstico que confirmava que a filha D.N. era portadora da síndrome. “Minha filha sempre teve um comportamento diferenciado das demais crianças na mesma idade. Quando ela completou seis anos, meu marido e eu começamos a procurar ajuda especializada. Fomos em vários neurologistas e psiquiatras, e após serem feitos alguns testes e observações, descobriram um distúrbio cerebral. Então foi diagnosticado que ela era portadora da síndrome de autismo”, afirma.
Enfrentando os preconceitos
“O grande problema não é a síndrome, é o preconceito que minha filha sofre. Muitos colegas de aula zombavam dela, que por sua vez não sabia se defender nem comentar as agressões verbais. Soube pela professora que, as poucas vezes que ela tentou se manifestar em sala de aula, seus colegas faziam piada e colocavam apelidos, pois sua fala não é muito compreensiva. Por causa disso, boa parte do tempo ela preferia estar só. Hoje ela tem 19 anos, e ao longo do tempo nos ensinou a como conviver e lidar com as diferenças”, desabafa Elizete.
Sintomas
O portador do autismo não interage com outras pessoas, seja com adultos ou com crianças, não forma relação pessoal, não gosta de mudanças de ambientes, é excessivamente preso a objetos familiares e repete continuamente gestos, atos e rituais. Começa a falar mais tardiamente que outras crianças, quase não fala e tem dificuldade de entender o que lhe é dito, mas pode repetir as palavras que lhe são ditas (ecolalia).
Causa
Ainda não é bem conhecida a causa do autismo, mas há uma forte evidência do fator genético. Há pesquisas que mostram que causas ambientais como contaminação da mãe por metais pesados como o mercúrio, o chumbo e problemas como o uso de drogas e infecções na gravidez podem estar associadas, mas não existe comprovação.
Prognóstico e tratamento
Como a gravidade do autismo oscila bastante, o prognóstico e o tratamento também variam de caso a caso.
Os indivíduos com esse distúrbio cerebral têm uma expectativa de longevidade normal. É um transtorno permanente e até o presente momento não tem cura. Entretanto, intervenções apropriadas iniciadas precocemente podem fazer uma grande diferença. Alguns podem melhorar de tal forma que os traços de autismo se tornam imperceptíveis para aqueles que não conheceram a trajetória do desenvolvimento desse indivíduo. Dependendo é claro do grau de comprometimento do distúrbio.
O tratamento adequado é baseado no atendimento apropriado em função das características particulares de cada pessoa e envolve sempre a atuação de uma equipe multi e interdisciplinar, como pediatra, psiquiatra, neurologista, psicólogo, fonoaudiólogo, pedagogo, terapeuta ocupacionail fisioterapeuta, odontólogo, educador físico e também profissionais que atuam na inclusão social como assistentes sociais, além da conscientização e envolvimento familiar, que é de extrema importância.
A farmacoterapia continua sendo um dos componentes importantes do programa de tratamento, porém, nem todos os indivíduos necessitam utilizar medicamentos e não existe medicação específica para o tratamento do autismo. O sucesso do tratamento depende do empenho e da qualificação dos profissionais que se dedicam ao atendimento e do apoio familiar.