Governador Tião Viana autoriza a aquisição de sacolões para atender famílias atingidas
O secretário de Segurança Pública, Ildor Reni Graebner, esteve na tarde desta terça-feira, 8, em Tarauacá acompanhado do chefe da Defesa Civil estadual, coronel-bombeiro João de Jesus Oliveira. Os dois visitaram a região mais atingida até agora pela cheia do rio Tarauacá e conversaram com os desabrigados e com as autoridades locais. Graebner e Oliveira informaram que estavam levando à cidade a solidariedade do governador Tião Viana e que já está autorizada a compra de sacolões para atender às famílias que se encontram em dificuldades.
Na terça-feira, o rio já dava sinais de vazantes, tendo baixado 20 centímetros em relação ao dia anterior. No domingo ele marcava 8,78 metros e, na terça, 8,58. Na manhã desta quarta-feira, 9, o rio já marcava 8,20 metros. A cota de alerta é de 8,30 metros e a de transbordamento, de 9,30.
De acordo com o capitão do Corpo de Bombeiros José Guimarães Ferreira, imagens de satélite davam conta de que ainda estaria chovendo muito nas cabeceiras do rio Tarauacá e de seu principal afluente, o rio Muru. Entretanto, o nível do rio Tarauacá se encontrava baixo na altura da cidade de Jordão, que fica localizada rio acima, bem antes de Tarauacá. Esse quadro deve trazer certa tranquilidade para a cidade, pois o nível de chuva nas cabeceiras pode não ser suficiente para elevar muito a lâmina d’água ao longo de todo o Tarauacá. O capitão Ferreira, que comanda a Defesa Civil no município, e as demais autoridades da cidade montaram uma sala de situações na sede do Instituto do Meio Ambiente do Acre (Imac). De lá eles fazem o monitoramento do rio e da situação das famílias atingidas e desabrigadas.
“Estamos fazendo esse controle para que possamos programar as ações de apoio e de retirada das famílias atingidas”, afirmou o oficial.
Os dados atualizados divulgados na manhã desta quarta-feira pelo capitão Ferreira dão conta de que 59 famílias (268 pessoas) estão desabrigadas na creche municipal e na escola estadual João Ribeiro. 2.709 famílias foram atingidas em quatro bairros. Os dados foram coletados com o apoio do cadastramento feito pelo Programa Saúde da Família, que é desenvolvido pela Secretaria Municipal de Saúde. “Esses dados são bem atualizados e muito confiáveis, por isso estamos nos baseando neles”, assegurou Ferreira.
Bairros atingidos – A situação mais complicada é registrada no bairro Geraldo Pompeu, mais conhecido como Bairro da Praia. O apelido é justificado literalmente, haja vista que as casas foram construídas em uma região em que o rio Tarauacá forma uma praia nas proximidades do centro da cidade. Ali, 100% das famílias residentes foram atingidas. Os outros bairros afetados são Triângulo, Bairro Novo e Ipepaconha. Este último teve um registro menor de famílias atingidas.
A retirada das famílias foi feita por cerca de 120 pessoas, entre eles homens do Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, Instituto de Administração Penitenciária (Iapen), prefeitura de Tarauacá e voluntários.
Reni Graebner e o coronel João Oliveira puderam conhecer o trabalho que essas pessoas estão realizando em Tarauacá. Acompanhados do capitão Ferreira, os dois visitarm de barco as áreas alagadas, entraram nos bairros e percorreram as ruas, que mais pareciam canais. Conversaram com as famílias e constaram que a maioria se recusa sair de suas residências.
{xtypo_quote}Pude perceber que essas pessoas estão dispostas a ficar em suas casas o maior tempo possível. Nós respeitamos a decisão e faremos o possível para lhes dar um suporte enquanto essa situação perdurar. Essa é uma decisão do governador Tião Viana, que se mostrou preocupado e nos orientou a oferecer aos desabrigados todo o apoio necessário para minorar o sofrimento de todos.
Reni Graebner, secretário de Segurança Pública{/xtypo_quote}
População – Vicente Nogueira Leite, 65, morador da travessa Rio Muru, disse que em sua residência vivem nove pessoas, entre elas a mulher e filhos. Ele afirmou que pretende resistir no local até o último momento. “Nós, de Tarauacá, somos um povo que não gosta de deixar o que é da gente. A gente passa bem ou passa mal, mas fica em casa”, garantiu. Vicente afirmou que sua família está precisando de comida, pois está passando necessidade. De Reni Graebner ele recebeu a garantia de que todos os atingidos receberão sacolões.
Tião Viana autorizou a aquisição de mantimentos para montar uma cesta básica que será distribuída às famílias atingidas. A Defesa Civil já está fazendo o levantamento de preço do feijão, do arroz, da farinha, do óleo comestível e da carne bovina em conserva para a formação dos sacolões. O processo de compra deve ser facilitado para evitar a demora na entrega dos alimentos.
A exemplo de Leite, Maria dos Santos, 39, e a família não pretendem sair de casa. Ela mora na rua Tarauacá em companhia do marido e dos filhos. Na tarde de terça-feira, o nível da água do rio estava a alguns palmos do chão de sua casa. Mas ela garantiu que pretende ficar. “Se a água chegar aqui, a gente eleva tudo e vai ficando”, contou.
A maioria das famílias que vivem na região atingida é composta de ribeirinhos, pessoas que se mudaram da zona rural para a cidade. Por sua formação cultural e maior conhecimento da natureza dos rios, elas preferiram se acomodar no ambiente que lhes parecia mais familiar, ou seja, às margens do Tarauacá. Sem uma ação mais presente do poder público, a ocupação desordenada foi criando as condições favoráveis ao surgimento de situações como a que vivem agora, já que as cheias do rio são fenômenos naturais já conhecidos que se repetem ano após ano.
Abrigos – O secretário de Segurança e o chefe da Defesa Civil estadual conheceram um pouco dessa realidade ao visitarem as áreas atingidas pela cheia do rio. Os dois foram, também, aos locais de abrigo das famílias. Ali descobriram pessoas como Francisca Pinheiro Kaxinawá, 49. Ela teve nove filhos e já tem 20 netos. Francisca mora no bairro da Praia e foi uma das primeiras a se abrigar na escola João Ribeiro. Na sua casa moravam mais de 20 pessoas e todos ficaram desabrigados quando a casa foi tomada pela água. “A água cobriu a casa e tivemos que sair, pois não dava mais para ficar”, contou. No abrigo, ela, os filhos e os demais parentes receberam comida e um local seco e seguro para dormir e passar os dias enquanto o rio não permite a volta para casa.
Na creche municipal, voluntários realizam atividades recreativas com desabrigados. No momento da visita do secretário Reni Graebner e do coronel João Oliveira, acontecia um bingo. No local também são realizadas atividades para o entretenimento das crianças.
A secretária de Administração de Tarauacá, Rosa de Lima Mendes Fontenele, disse que a vazante do rio deixa todos mais tranquilos. De acordo com ela, a preocupação agora é a volta das famílias para suas residências. O governo do Estado também deve ajudar nesse processo. “Hoje nós estamos trabalhando em parceria com o governo do Estado, em prol dos munícipes”, contou. Rosa agradeceu ao secretário e a o coronel-bombeiro pela visita, e ao governador Tião Viana pela solidariedade aos desabrigados.
Saúde – Governo do Estado e prefeitura querem evitar o surgimento de doenças como a leptospirose, que infecta as pessoas que mantêm contato com a água contaminada. Doenças como as hepatites, infecções intestinais, verminoses e infecções de pele também acontecem em maior número em situações de contato com a água contaminada. A secretária de Saúde do Estado, Suely Melo, afirma que os profissionais do Hospital de Tarauacá já foram acionados para qualquer situação de emergência além da horário normal de trabalho e já acionou a Vigilância Epidemiológica para orientar a população sobre os riscos de doença após a vazante do rio.