Indústria de embutidos consolida cadeia produtiva das aves, que gera R$ 19 milhões ao ano
Primeiro, chegaram os frangos congelados e resfriados. Agora, as gôndolas dos supermercados exibem mortadela, presunto, calabreza, linguiças. A oferta destes produtos é grande, mas o consumidor mais atento vai ver que alguns se diferenciam dos demais por algo bem peculiar: a origem.
A Acreaves, uma indústria acreana, chegou ao mercado em 2008. No início eram abatidos 3,5 mil frangos por dia. Hoje cerca de 12 mil aves são abatidas diariamente e chegam aos mercados de todo o estado em diversos cortes. Mas, era preciso aproveitar melhor toda a carne, agregar valor aos produtos e dar os primeiros passos rumo à exportação.
{xtypo_quote}Por isso nós criamos a Sabbor, que é a marca de embutidos da Acreaves. Nós precisávamos aproveitar a carne e também alguns cortes que não são tão apreciados no Estado. Nós criamos embutidos com base no paladar acreano, que gosta de um produto mais temperado, com mais pimenta, por exemplo. O melhor de tudo são os preços bem mais competitivos, pois tudo é fabricado aqui, gera renda aqui, melhora a economia do Acre e consolida uma cadeia produtiva.
Paulo Santoyo, diretor da empresa.
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Oito produtos fazem parte da linha de produção da Sabbor:
- Mortadela
- Presunto
- Apresuntado
- Calabreza
- Toscana
- lingüiça aperitivo
- Paio
- Salsichão
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Sabbor ganhou a preferência dos consumidores
Nas prateleiras dos supermercados, até agosto deste ano – quando a Sabbor entrou no mercado – os produtos de grandes marcas nacionais ocupavam todo o espaço disponível para os embutidos, produtos que sempre entram na feira das donas de casa. Hoje, as mortadelas, presuntos e outras mercadorias produzidas no Acre ocupam boa parte do espaço disponível nas gôndolas e também na preferência das donas de casa: o preço também é mais atrativo.
Um dos diferenciais dos produtos acreanos é o tempero: regional e adaptado ao gosto do acreano. A consumidora Letícia Parise provou e aprovou os produtos. "Minha família gosta e os preços são mais acessíveis. Se a gente pode consumir um produto que é fabricado aqui, sabendo que vai movimentar um capital de giro, que está gerando empregos no nosso Estado e que além dos benefícios econômicos é mais barato e agrada ao paladar da nossa família, não tem porque não dar preferência a essa marca", disse.
Aos 46 anos, a primeira carteira assinada
José Rodrigues Cavalcante é o responsável pela caldeira da fábrica de embutidos. Ele começou a trabalhar aos 15 anos para se manter e só agora, aos 46, conseguiu seu primeiro emprego fixo e com carteira assinada. Até então, ele trabalhava como diarista.
"Nossa, pra mim essa fábrica foi uma mão na roda, porque eu já tenho 46 anos e a essa altura da vida conseguir um emprego fixo, com carteira assinada, que me dá a garantia de um décimo terceiro, de uma assistência em caso de doença. É uma felicidade só, sem contar que agora eu posso planejar a vida: comprar um móvel pra casa, fazer uma poupança", disse.
O complexo industrial emprega 200 funcionários diretos, 60 terceirizados e trabalha com 135 produtores familiares. Vinte novos produtores farão parte do grupo de fornecedores até dezembro. Hoje a Acreaves atende 25% do mercado acreano. A meta é abater 20 mil frangos por dia até 2012, uma expansão na capacidade instalada que vai demandar novos empregos diretos e indiretos.
Cadeia produtiva, uma aposta de sucesso
Os produtos fazem sucesso entre os acreanos e provam que é possível desenvolver a economia através da produção familiar, sem precisar desmatar a floresta e trazendo a industrialização para o estado.
"Nós poderíamos ter dado um desenho diferente à cadeia produtiva e ao invés de 155 produtores termos priorizado grandes criadores de aves. Mas não é isso que o Governo do Estado deseja. Queremos inclusão social, empoderamento das comunidades e desenvolvimento sustentável", disse o secretário de Extensão Agrofloretal e Produção Familiar, Nilton Cosson.
Para que a indústria de aves pudesse ser instalada, foi preciso incentivar toda a cadeia produtiva. 135 produtores ganharam galpões para criar os frangos. Uma fábrica de ração foi construída para produzir o alimento das aves. O abatedouro e o frigorífico foram montados. E para garantir a qualidade do manejo, uma equipe de técnicos e veterinário fazem o acompanhamento diário nas granjas:
O médico veterinário Claudinei Mendes Faustino é contratado pela Acreaves para acompanhar o manejo das aves em todas as granjas. Uma vez por semana ele visita as propriedades para checar se os produtores estão tendo todos os cuidados necessários para garantir o desenvolvimento adequado das aves.
Para que os produtores pudessem fazer parte da cadeia produtiva das aves o associativismo foi incentivado e eles criaram uma cooperativa para se relacionar diretamente com a indústria, que fornece a alimentação das aves, o transporte e a assistência técnica.
"A gente já percebeu que trabalhando junto os resultados chegam mais rápidos. Sozinho um produtor não tem voz pra dizer que precisa de um ramal asfaltado, de energia do Luz para Todos, de um benefício. Mas organizados a gente já conseguiu tudo isso. E se não estivéssemos unidos não teríamos como ter acesso às granjas e nem como vender as aves pra indústria", analisa o presidente da Cooperativa dos Produtores de Aves do Alto Acre, Otacílio Jorge da Silva.
Produtor comemora as vantagens da atividade
Seu Orides Rigamonte é um dos produtores que acreditou no projeto e apostou na criação dos frangos. Ele recebe da indústria os pintos, r ação, assistência técnica e o transporte das aves quando atingem o ponto de abate. A responsabilidade do produtor é apenas fazer o manejo correto nas granjas.
"Aqui eu crio peixe, um pouco de gado leiteiro, tenho roçados. O frango veio pra complementar. No início a gente fica meio com o pé atrás, mas foi uma política que deu certo. E sem falar que a gente trabalha na sombra, tem como cuidar das outras atividades porque não toma muito tempo e entra dinheiro a cada 45 dias. Com o peixe a renda só vem uma vez por ano, com roçado a mesma coisa", disse o produtor.
Rigamonte ampliou o galpão da granja após um ano na atividade. A renda já garantiu à família do produtor uma melhoria na qualidade de vida: "Ah, a gente já comprou geladeira, máquina de lavar pra agradar a mulher, um motinha. O nosso próximo passo é automatizar o galpão e aproveitar melhor a tecnologia", revelou o produtor.
Brasiléia não foi escolhida por acaso para sediar a cadeia produtiva das aves. A Agroindústria das aves foi instalada no Alto Acre com base na indicação do Zoneamento Ecológico Econômico, um documento que indica as potencialidades de cada região. Além de fazer parte de uma Zona Especial de Desenvolvimento, uma ZED, o município está numa região geográfica um pouco mais alta que as demais cidades acreanas, tendo um clima mais fresco. "E isso faz toda a diferença para que a aves se desenvolvam melhor", ressalta o empresário Paulo Santoyo.
Fieac aprova a fórmula das cadeias produtivas
Para o presidente da Federação das Indústrias do Acre, a indústria alimentícia é uma das que tem mais oportunidades de crescimento e negócios. "O Acre importa boa parte do que consome e o setor gera uma série de empregos, diretos e indiretos, o que também influi diretamente no poder aquisitivo da população", comentou João Francisco Salomão.
A indústria alimentícia gera uma série de outras demandas. "Por exemplo, há uma fábrica de ração instalada para produzir o alimento das aves. Essa fábrica demanda milho, soja. E isso poderia ser plantado aqui para gerar mais empregos no campo".
A expectativa da Fieac é que os investimentos em cadeias produtivas industriais seja uma das prioridades do próximo governo. "É uma forma de utilizar as áreas degradadas, ampliar a produção, gerar emprego e desenvolvimento. Todos saem no lucro com esta fórmula", disse Salomão.
Parceria público privado comunitário é a chave do sucesso
O governo investiu, a iniciativa privada administra e a produção familiar é contemplada. "A Sabbor é a prova de que a Parceria Público Comunitário dá resultados positivos. A Acreaves é um investimento do Governo que começa a dar frutos. Investimos no fortalecimento da cadeia produtiva das aves, que tem início com o trabalho do produtor, que tem recebido assistência para produzir com qualidade, passa pela indústria e chega ao consumidor. O lançamento da linha de embutidos é uma forma de otimizar e aumentar a produção de aves no Estado, e tudo isso dentro de uma lógica em que todos são beneficiados", disse Nilton Cosson.
A Acreaves, e agora também a Sabbor é um exemplo de parceria entre o público, o privado e o comunitário que deu certo. Prova disso são os 19 milhões de reais que a indústria movimenta por ano, os 260 empregos diretos e indiretos e as 155 famílias envolvidas na produção familiar. A meta é atingir 100 toneladas de frangos abatidos até março de 2011.
"Aqui cada um faz uma parte. O Governo fez a parte dele, a iniciativa privada está tocando o barco e a produção familiar é que abastece a indústria com a aves. O empreendimento é a prova de que essa parceria entre o público, o privado e comunitário, quando bem elaborada e conduzida de forma responsável, dá certo e todos saem ganhando. Nós temos toda uma cadeia produtiva consolidada e esse produto chega até o consumidor, numa relação em que todas as partes são beneficiadas", comentou o diretor da Acreaves, Santoyo.