Modernizada, a Secretaria de Agricultura e Pecuária comemora os avanços na produção de alimentos no Acre
Corria o ano de 1947 quando Adolfo Barbosa Leite, então prefeito de Rio Branco, convidou o técnico agrícola Raimundo Wilson Bastos Sales, que morava em Fortaleza, para tocar a central de produção de aves e pequenos animais que estava sendo instalada na capital. Nascido em Itapagé, a cerca de 130 quilômetros da capital cearense, Raimundo aceitou o convite, deixou a mulher com dois filhos e partiu para uma longa viagem desde o Nordeste até o Acre.
Devido ao intenso trabalho na consolidação da unidade que criava principalmente aves, abelha e porcos, e regularmente – e de modo pioneiro no Acre – realiza inspeção da carne de origem animal, Raimundo recebeu o apelido de Wilson do Aviário, o que potencializou batizar a região da central de bairro Aviário. Wilson morreu em 1975 e em 1983 o prédio onde trabalhou por décadas recebeu seu nome, numa justa homenagem ao desenvolvimento de técnicas e ao fomento à produção rural personalizada no trabalho do cearense. Wilson do Aviário foi mais uma vez lembrado nesta sexta-feira, 15, na entrega da reforma do prédio da Secretaria de Agricultura e Pecuária (Seap) quando seis de seus filhos participaram da cerimônia que consolidou o endereço do sistema de produção sustentável do Acre – e no mesmo prédio onde o pioneiro dedicou grande esforço para garantir o avanço do empreendimento. 27 anos depois de sua reinauguração pelo governador Romildo Magalhães, o prédio Raimundo Wilson Bastos Sales recebeu nova visita de um governador.
"Não é inauguração, mas o endereço de um sistema que se relaciona com outras instituições", disse o governador. Esse sistema inclui organismos de afinidade direta, como o Instituto de Defesa Agroflorestal (Idaf), que coordena a política de sanidade animal e vegetal; e indireta, como o Instituto de Terras do Acre (Iteracre), que trata da regularização fundiária, além de parceiros como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) que produz as tecnologias difundidas pelo Estado – entre muitos outros. O sistema possui como âncora o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE), que apontou as regiões de potencial produção agropecuária. Como resultado, no governo Binho Marques criou-se a Zona Especial de Desenvolvimento (ZED) que se afirmou com a Política de Valorização do Ativo Ambiental Florestal ao integrar a produção primária e terciária, promovendo a produção familiar e a de larga escala, recuperando áreas degradadas e evitando, por instrumentos inovadores, a pressão sobre a floresta.
O prédio da Seap revitalizado e ampliado é o reflexo do sistema que alcança resultados expressivos. Antes da Seap, abrigou a Secretaria de Desenvolvimento Agrário (DAS), viveu situação de abandono e foi soerguido como parte da política que se consolida: "São processos complementares que estão se constituindo", disse o secretário de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar, Nilton Cosson. Assim, o Governo do Acre encerra 2010 confirmando resultados que tiraram a agricultura e a pecuária do atraso imposto pela falta de atenção e investimentos nos quinze anos anteriores a 1998 – e um dos dados que mais refletem a operacionalidade do sistema é que nos últimos anos, de acordo com Judson Valentim, pesquisador-chefe da Embrapa, o valor bruto da produção cresceu 183% entre 1998 e 2008 (último ano com informações produzidas pelo IBGE), saindo de R$ 88 milhões para R$ 250 milhões no período. Além disso, o rebanho bovino saiu das 907 mil cabeças para 2,5 milhões de reses. "O Acre não produz nada? É o contrário: produz e bem", resumiu Judson Valentim. "Só tenho a agradecer em ver o Estado crescendo e ter meu pai como semente", agradeceu Wilson José, filho mais novo do pioneiro Wilson do Aviário.
Homenagem aos trabalhadores que ajudam a construir a produção sustentável no Acre
As obras do prédio Raimundo Wilson Bastos Sales, que custaram R$ 1.868.878,46 e foram realizadas com recursos próprios do Tesouro Estadual, contemplaram adequação de todos os espaços com a conseqüente criação de salões de atendimento ao produtor, troca da pavimentação interna, cobertura e forro, alterações nas redes hidráulica e elétrica, estacionamento com gradis metálicos e instalação de brises metálicos decorativos nas fachadas. "Acabamos com as paredes. A integração começa com o trabalho dos técnicos, todos juntos no mesmo espaço", lembrou o secretário Mauro Ribeiro, titular da Seap. Estiveram presentes os secretários Eufran Amaral, do Meio Ambiente; Fábio Vaz (Governo), Carlos Resende (Florestas), Eduardo Vieira (Obras Públicas) e Aníbal Diniz (Comunicação), e o vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado do Acre (Faeac), Luiz Saraiva, além de deputados eleitos, o prefeito de Xapuri, Bira Vasconcelos, representantes de instituições bancárias e várias outras autoridades. Servidores e visitantes lotaram o auditório para assistir a cerimônia.
"Ficou muito bom. Acredito que o servidor tem mais vontade de trabalhar", disse a auxiliar de serviços gerais Maria Bonifácio de Lima, há 31 anos naquela secretaria. O Governo do Acre prestou homenagem a cinco dos servidores mais antigos: Elias Gomes, Júlio Carioca, Raimundo Lima, Josimar Melo e Raimundo Ferreira.
Cai desmate e aumenta área cultivada: o sistema está no caminho certo
A área cultivada aumentou 34% e, entre 2003 e 2009, o desmatamento anual registrou redução de 76,4%. O sucesso do Zoneamento Ecológico Econômico do Acre vem do fato de não ter sido imposto, mas articulado com todos os setores produtivos, para depois virar Lei. O ZEE Acre foi reconhecido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente e aprovado em Decreto do Presidente da República. Com Políticas de Valorização do Ativo Ambiental Florestal e de Regularização Ambiental das Propriedades Rurais, o Acre possibilita a certificação de produtos agropecuários, visando acesso aos mercados mais ricos e exigentes.
Estudos da Embrapa Acre indicam que o ganho de produtividade nos últimos anos evitou o desmatamento de 1,4 milhões de hectares de florestas. O número de piscicultores aumentou de 2,5 mil para cerca de 6 mil envolvidos diretos na atividade. A lâmina d‘água utilizada aumentou mais de cinco vezes e a produção de peixe nos tanques e açudes saltou de 1.000 toneladas ao ano para 5.000 ton/ano. Como instrumento desses avanços, programas como o Luz Para Todos garantem maior qualidade de vida aos homens e mulheres do campo e da floresta, que contam também com educação de qualidade mesmo nas comunidades mais remotas e cerca de 250 quilômetros de ramais asfaltados até o final do ano. "A sociedade, com suas instituições, fizeram com que essas coisas dessem certo", avaliou Fábio Vaz, responsável pela área de produção e desenvolvimento do Governo, que fez um reconhecimento do trabalho das instituições e das parcerias em favor da agropecuária.
Zoneamento e Pacto Agrário
Para efeito de exemplo da agricultura industrial e da funcionalidade do ZEE, a produção da cana-de-açúcar cresceu 751% com o advento da Álcool Verde, exemplo da agroindutrialização. O milho aumentou a produção em 86%, saindo de 33 mil para 61 mil toneladas. Esse crescimento fortaleceu a cadeia produtiva de avicultura, desde os aviários de raça colonial ao frigorífico de frango de Brasileia. Nos últimos anos, a Central de Incubação da Seap produziu e distribuiu mais de um milhão de pintos de 1 dia. Atualmente, o mercado consumidor de galinha caipira é abastecido por aves 100% criadas no Acre. Até pouco tempo, a grande parte vinha de Rondônia.
De 1998 a 2008 a produção de mandioca cresceu mais de 200%, indo de 237 mil para 730 mil toneladas, graças a elevação da produtividade de 13 toneladas para 22 toneladas de mandioca por hectare.
Esses dados evocam ao Pacto Agrário, outro instrumento que possibilitou os avanços no campo e na floresta. A meta era investir R$ 100 milhões em quatro anos, mas o valor vai passar dos R$ 300 milhões.
{xtypo_rounded2}Veja como a produção cresceu no Acre a partir de 1998:
Abacaxi: 59%
Café: 322%
Melancia: 889%
Banana: 75%
Arroz: 21%
Carne: 57%
Leite: 113% {/xtypo_rounded2}