Combinação de solo seco, baixa umidade e calor elevado mantém risco ambiental no Acre

Qualidade do ar melhorou nos últimos dias, mas órgãos ambientais mantêm alerta e população precisa colaborar

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Secretário de Meio Ambiente do Acre, Eufran Amaral, alerta para situação crítica do clima na região (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

 

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Nesta terça-feira foram registrados 197 focos de calor em todo o Estado (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

A fumaça diminuiu e a qualidade do ar melhorou nos últimos dois dias no Acre, mas há uma situação climática que favorece uma situação crítica, alertou nesta quarta-feira, 25, o secretário de Estado do Meio Ambiente do Estado, Eufran Amaral. Além disso, a taxa é boa se comparada aos registros da semana passada, quando, no Vale do Acre, o quadro era de 750 partículas de monóxido de carbono por 1.000.000, mas está longe da taxas registradas no começo de agosto. Além disso, os focos de calor são 20% menores que em 2005, ano da pior tragédia ambiental da história do Acre. "Temos condições climáticas adversas piores que as de 2005: baixa quantidade de água no solo, altas temperaturas e baixa umidade", explicou Eufran. Essa combinação pode detonar uma tragédia ambiental se a população não ficar vigilante quanto às queimadas urbanas e rurais.

A situação melhorou por causa dos ventos, que passaram a correr na direção contrária de até então – do noroeste para o sudeste do Estado. Ao entorno do Acre, na Bolívia, Rondônia e sul do Amazonas o panorama é crítico. Se o vento mudar novamente, a fumaça produzida nessas regiões pode encobrir novamente a capital. A previsão é de que nos próximos dias o vento que segue para o noroeste se encontre com a massa que vai ao contrário, tomando outra direção.

No começo de agosto, o governador Binho Marques atendeu ao Comitê de Gestão de Riscos Ambientais e decretou estado de alerta ambiental no Acre. Também foram proibidas as queimadas no Estado. Ainda assim, esta terça-feira, 24, registrou 197 focos de calor por todo o Estado, sendo que as regiões de maior ocorrência foram Tarauacá, com 39 focos; Feijó (23) e Senador Guiomard (21). O Centro Integrado de Operações Policiais (Ciosp) tem recebido diversas ocorrências. Além de todos os complicadores, o número elevado gera demora no atendimento de novos casos. O impacto ambiental das queimadas envolve a fertilidade dos solos, a destruição da biodiversidade, a fragilização de agroecossistemas, a destruição de linhas de transmissão e outras formas de patrimônio público e privado, a produção de gases nocivos à saúde humana, a diminuição da visibilidade atmosférica, o aumento de acidentes em estradas e a limitação do tráfego aéreo, entre outros.

Nesta quinta-feira, 26, Eufran viaja a Tarauacá onde se reúne com prefeitos da regional Envira/Tarauacá para detalhar a estratégia de enfrentamento ao fogo que ameaça crescer naquela região. Na sexta-feira, o secretário se encontra com pastores e padres para repassar relatório da situação. A proposta é que as lideranças repassem o alerta para suas comunidades. No começo da semana, diretores e professores receberam as últimas informações sobre o clima e o que devem fazer para ajudar a reduzir as queimadas na cidade ou no campo.

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Queimada não acontece por acaso mas tem sempre um responsável

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Estado uniu cerca de trinta instituições para apoiar os trabalhos de conscientização e repressão aos crimes ambientais (Foto: Gleilson Miranda/Secom)

O pesquisador Foster Brown, da Universidade Federal do Acre, divulgou estudo que mostra que as florestas que queimaram em 2005 tornaram-se mais suscetíveis ao fogo por causa principalmente do acúmulo de folhas e galhos no chão. A fiscalização está sendo rígida com todas as queimadas. Sabe-se que não há como ocorrer combustão espontânea e, por isso, há sempre um responsável pelo desastre.

O Estado uniu cerca de trinta instituições para apoiar os trabalhos de conscientização e repressão aos crimes ambientais. Estão à frente órgãos como Imac, Ibama,  Polícia Militar, Civil e Federal, Secretarias Municipais de Meio Ambiente, Corpo de Bombeiros e Comissão Estadual de Defesa Civil. Os Ministérios Públicos Federal e Estadual também estão engajados na batalha contra as queimadas. "Quem deixa o fogo ultrapassar a propriedade e não faz nada também comete crime ambiental", alertou Eufran Amaral.

Bolívia pede ajuda ao Brasil e Acre está pronto para agir

Nenhum comunicado oficial chegou às autoridades acreanas, mas a imprensa boliviana já divulgou que o País pediu ajuda ao Brasil e à Argentina no combate às queimadas que destroem a floresta de vários departamentos amazônicos. Os incêndios ocorrem principalmente no norte do departamento de La Paz e nas regiões amazônicas de Beni e Pando. Segundo as autoridades bolivianas, os focos de incêndio passaram de 17 mil para 24.961 na mesma semana. O governo de Santa Cruz, um dos departamentos mais afetados, declarou estado de emergência.

O governo de Pando analisa declarar estado de emergência, onde o fogo devastou 10 mil hectares e ameaça a reserva florestal de Manuripe, próxima do Acre. A Defesa Civil acreana já mantém homens ajudando as brigadas do departamento peruano de Madre de Dios no combate ao fogo que avança na região. De acordo com Eufran Amaral, o Acre pode colaborar com a Bolívia tanto na formação de pessoal quanto no enfrentamento direto. Pode também prestar apoio ao ordenamento territorial e lançar mão do helicóptero Comandante João Donato para operações aéreas.

Rio Acre segue baixando e Saerb faz alerta sobre abuso e ligações clandestinas

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Baixo nível do Rio Acre preocupa abastecimento (Foto: Luciano Pontes/Secom)

O nível do rio Acre, principal manancial abastecedouro da capital, atingiu a marca de 1,91 metros às 11h30 desta quarta-feira e continua baixando. O Serviço de Água e Esgoto de Rio Branco (Saerb) vem realizando grandes esforços para garantir a produção necessária ao abastecimento da população (que é captar e tratar 1.000 litros de água por segundo), mas há situações que podem tornar inútil esse trabalho.  "O grande problema é o gasto excessivo com aguamento de calçadas e ruas e a não utilização de bóia nos reservatórios", condenou o presidente do Saerb,  Semy Ferraz.

Além disso, moradores estão fazendo ligações clandestinas, os chamados "gatos", para abastecer poços amazonas com água do Saerb. Essa situação incorre em problemas para o sistema e ao usuário porque, de acordo com Semy Ferraz, 90% da água terminam infiltrando-se no solo e danifica o poço por causa dos produtos químicos usados no tratamento. Essa situação ocorre principalmente nos bairros de geografia acidentada, como o Laélia Alcântara, Jorge Lavocat, Montanhês e outros.

A população deve denunciar esses abusos, diz o presidente do Saerb. Pelo número 08006470195 as pessoas podem também tirar dúvidas quanto ao fornecimento de água e outros serviços.

Cuidados com a saúde 

A umidade do ar melhorou nesta quarta-feira, chegando a 52% – longe ainda do normal para a Amazônia, que vai a 90% – mas é uma marca que traz outra condição ao clima da região. A temperatura oscilou entre 20º e 36º, com os ventos registrando velocidade calma, de 9 km/h.

Mantidas as previsões, a situação não deve se reverter até a próxima segunda-feira, mas a Defesa Civil e a Secretaria de Estado da Saúde mantém as recomendações para enfrentar a baixa umidade do ar, cuja conseqüência  para a saúde humana incluem complicações respiratórias provocadas pelo ressecamento de mucosas, sangramento pelo nariz, ressecamento da pele, irritação dos olhos, além de eletricidade estática em pessoas, equipamentos eletrônicos e o aumento do potencial de incêndios em pastagens e florestas.

{xtypo_rounded2} Saiba o que fazer:

Quando a umidade varia entre 20 e 30% as autoridades denomimam estado de atenção. Nessa situação, o melhor é evitar exercícios físicos ao ar livre entre 11 e 15 horas; umidificar o ambiente com vaporizadores, toalhas molhadas, recipientes com água e molhar os jardins. Também é recomendado permanecer em locais protegidos do sol e em áreas com vegetação.

O estado de alerta é quando a umidade do ar fica entre 12 e 20%. Nessas condições, devem ser observados os cuidados do estado de atenção, assim como não praticar exercícios físicos e trabalhos ao ar livre entre 10 e 16 horas, evitar aglomerações em ambientes fechados e usar soro fisiológico para olhos e narinas.

A umidade abaixo de 12% indica estado de emergência. A situação exige a suspensão de atividades caracterizadas por aglomerações de pessoas em recintos fechados – tais como aulas e sessões de cinema – no intervalo entre 10 e 16 horas. Também é indicado manter umidificados os ambientes internos, principalmente os quartos de crianças.

Outras recomendações são: evitar aglomerações em ambientes fechados; tomar banho frio, se possível, evitando o uso do banho quente prolongado; utilizar soro fisiológico para olhos e narinas; manter as residências com portas e janelas abertas o maior tempo possível; usar roupas brancas ou claras, de preferência de algodão: utilizar cremes umectantes no rosto e nas mãos; evitar o uso excessivo do ar condicionado; não queimar lixo e folhas secas.{/xtypo_rounded2}

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