Ao entrar na chácara da família Eluan, o visitante é acolhido por um cenário ultrabucólico: estradinha, árvores, arbustos, casinhas de madeira pintadas, flores, patos, o cacarejar das galinhas e muitos carneirinhos berrantes. Entorno harmonioso e doce, parece que tudo ali serve de inspiração para a matriarca Elaís, multifacetada artista acreana.
Desde o seu estúdio, onde emprega suas horas, as notas escapam do teclado e vêm compor com os barulhos do dia. Cercado de telas transparentes, o ambiente é arejado e tem vista privilegiada para o exterior, todo-verde.
O ateliê é dominado pela cor. Flores, mandalas, paisagens, borboletas e outros animais saltam da paleta do seu imaginário e, em tonalidades intensas, ocupam os inúmeros suportes que ela lhes dá: papéis, panos, isopores, madeiras, telas. Ali tudo é digno de receber arte.
Os materiais de uso são cuidadosamente acomodados em caixas decoradas com capricho e criatividade. Livros de referências, tintas, miçangas, contas e fitas preparados para o ofício e o entretenimento da artista.
A própria Elaís é uma composição bonita: aos 96 anos, conserva traços belos e altivos, sem dispensar o batom e o esmalte vermelhos. Nas peças do vestuário, conversam combinações e contrastes. E seus olhos brilham com vivacidade.
Enquanto isso, do teclado vão emergindo tangos e forrós, canções populares e peças clássicas. Seus dedos dançam, graciosos, sobre as teclas, e visitam todos os estilos. Que Elaís aprendeu piano e balé na infância. E sabe tocar acordeão também. Aos onze anos, foi enviada para o Colégio Santa Doroteia, em Manaus, internato onde permaneceu durante uma década. Ali teve, entre outras, aulas de pintura, desenho, caligrafia e bordado. Ainda, na capital amazonense, aprendeu contabilidade e desenho arquitetônico.
Além de desenho cartográfico, o que lhe foi muito útil quando retornou ao Acre e recebeu a missão de confeccionar o primeiro mapa do estado. Em Xapuri, foi coordenadora do Instituto Divina Providência e presidente da LBA. Na capital, diretora e professora do tradicionalíssimo Colégio Acreano.
Como educadora, guarda princípios firmes e respeitosos: “Meus pais não gritavam comigo e eu nunca disse para um aluno calar a boca. Acho isso feio. Quando um aluno perturbava a aula, eu simplesmente silenciava e, com calma e educação, ficava olhando para ele, até que percebesse a situação que estava causando”, relata. E continua: “Ninguém merece nota zero. Se o aproveitamento está ruim, é preciso questionar a didática e o que está acontecendo com aquele estudante. Os problemas de família atrapalham muito”, ensina.
Tão cheia de atribuições, casou-se aos 26 anos – “Não tive pressa”. Deu à luz três filhos e uma filha, hoje é avó e bisavó. “Minhas netas e minha nora são muito atenciosas, trazem lanches, remédios e tudo o que eu preciso. E meus netos são carinhosos, quando menos espero encontro um bilhetinho em minhas coisas: ‘Vó, eu te amo’. Todos me tratam muito bem e prepararam este espaço para mim”. De fato, o grande trunfo de dona Elaís, hoje, é uma família atenta às suas necessidades e bem-estar.
O Estado também reverencia a sua contribuição e, em 2011, entregou-lhe a Ordem do Mérito Cultural Acreano. Assim, do alto de uma vida plena de dedicação, alegrias e realizações, ela conquistou o direito de experimentar a velhice respirando arte.
Detalhes poéticos não faltam em sua história. Dona de um olhar tão lúdico para a existência, a vida resolveu presenteá-la e fazer do seu próprio nome um poema cheio de sonoridade: Elaís Meira Eluan! Porque artista tem nome.