Missão de cortesia percorre os caminhos da sustentabilidade visando ampliar investimentos no Acre
Entre os diretores, Garo Batmanian, da Unidade de Florestas Tropicais do banco, emocionou-se no Seringal Cachoeira, laboratório do Projeto Castanha criado por ele no tempo em que dirigia o WWF. ¨Estou de fato emocionado. O que marca é a transformação, como as coisas mudaram e trouxeram benefícios aos moradores da floresta¨, disse Batmanian, ex-secretário-geral da ONG. Havia cinco anos ele não viajava pelo Acre.
O Projeto Castanha, de acordo com Duda Mendes, da Associação dos Moradores e Produtores do Projeto de Assentamento Extrativista Cachoeira, foi realmente um dos embriões do programa de desenvolvimento comunitário que hoje alçou os extrativistas à condição de empreendedores florestais. Da castanha vieram as cooperativas, o subsídio da borracha, o manejo madeireiro, a fábrica de camisinhas, a pousada. . No Cachoeira, os valores florestais estão cada vez mais agregados, elevando e socializando melhorias na qualidade de vida entre as 86 famílias que moram no seringal onde Chico Mendes deu início à luta dos trabalhadores.
Composta também por Marck Lundell, coordenador setor do Departamento de Desenvolvimento Sustentável; Kathy Lindert, coordenadora do Departamento de Desenvolvimento Humano; e Mariangeles Sabella, assessora especial da vice-presidente, a missão do BID percorreu a rota de negócios integrada à Estrada do Pacífico. As apresentações foram feitas pelos secretários Mauro Ribeiro (Sea); Carlos Ovídio (SEF); Nilton Cosson (Seaprof); Cassiano Maques (Setul) e César Dotto (Funtac). O secretário de Planejamento, Gilberto Siqueira, faz a coordenação geral.
Pela primeira vez no Acre, o oficial de Comunicações do BID no Brasil, Mauro Azeredo, fez observações quanto ao profissionalismo dos negócios tocados pelo Governo do Estado através de parcerias públicas, privadas e comunitárias. A Usina Álcool Verde, por exemplo, reúne empresários de outros Estados com know-how em biocombustíveis e derivados da cana-de-açucar, empresários acreanos e o Governo do Estado. Recuperada a partir da massa falida da Alcobras, a Álcool Verde mantém o cronograma de moagem e produção de álcool anidro para agosto do ano que vem. ¨A área apta para plantio de cana é composta de terras degradadas¨, explicou Mauro Ribeiro, da Secretaria de Agricultura e Pecuária.
Manejo avança – O manejo madeiro saiu de 4,4% em 1998 para 84% do total de madeira extraída este ano. A Secretaria de Florestas coordena 980 mil hectares de florestas manejados em 120 planos. O Consórcio Complexo Industrial de Xapuri se tornará nos próximos anos importante beneficiador dessa madeira e na próxima semana envia mais um lote de pisos e decks para os Estados Unidos, produzidos a partir de madeira manejada em parte por pessoas jurídicas e comunitários localizados na Reserva Extravisita Chico Mendes. De alto valor agregado, o piso é vendido nos EUA a US$28 o metro cúbico e o deck a US$800m3, o que levará o complexo a faturar estimados US$17 milhões ao ano a partir de 2009 em dois turnos de trabalho. Atualmente, a fábrica mantém 35 trabalhadores. No ano que vem, serão 600 manejadores e cerca de 230 empregos agregados ao consórcio.
A Marinepar Ltda, acionista privada, está transferindo todo o seu parque do Paraná para Rio Branco. Segundo José Bortolezzi, gerente industrial, serão pelo menos 380 novos postos de trabalho em 2008. A empresa quer fortalecer sua presença no Acre e na condução dos negócios do consórcio, que a princípio terá 30% de participação de manejadores comunitários. A partir do terceiro ano de operação, os comunitários terão 70% das ações. No atual estágio, a receita empata com os gastos, situação que deve se reverter quando a serraria entrar em funcionamento a partir da próxima semana. A serragem produzida na unidade será usada para acionar a caldeira que produzirá energia elétrica, um item a menos na planilha de custos.
A missão esteve ainda na Acre Aves, o frigorífico de aves de Brasiléia e na Usina de Castanha administrada pela Cooperacre, organização que fatura R$3 milhões ao ano, emprega 35 pessoas diretamente e mantém cerca de quinze diaristas. Atua em dez municípios onde há produção de castanha através de 1,5 mil associados, sendo que dez são pessoas jurídicas.
O abatedouro de aves entra em operação a partir de fevereiro do próximo ano. Atualmente, 130 famílias estão ligadas ao projeto. Cada uma cria 3.000 aves frangos do tipo colonial.
Pousada abre suas portas ao turismo socioambiental vivencial
Equipamento da rota turística Caminhos de Chico Mendes, a Pousada do Seringal Cachoeira será inaugurada no próximo dia 16 pelo governador Binho Marques. A unidade custou R$200 mil, abriga 31 visitantes, conta com recepção, restaurante, cozinha, 1 chalé, 2 quartos com sala, 2 belichários (masculino e feminino) e dois apartamentos, e será administrada em uma parceria público privada e comunitária (PPC).
Entre os que irão receber os turistas, vários familiares do líder ambientalista Chico Mendes. A missão do Banco Mundial pôde reunir-se com os moradores na pousada, fizeram perguntas e observações sobre a vida na floresta.
¨O grande diferencial desta para outras pousadas similares é a comunidade. Aqui o turista poderá ter contato direto com a família de Chico Mendes e ver de perto como é a vida dos homens e mulheres da floresta¨, disse Cassiano Marques, secretário de Turismo, Esporte e Lazer.
A expectativa é que a pousada tenha 70% de taxa média de ocupação. Vários outros equipamentos e serviços serão agregados ao longo dos próximos meses, como a prática do arvorismo e o pesque-pague.
¨O que a gente espera é que a pousada continue nos ajudando¨, diz Raimundo Monteiro, presidente da associação dos moradores do Cachoeira, ele mesmo um dos companheiros de Chico Mendes na fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia. O Instituto Dom Moacyr treinou nove moradores para atuar na pousada. A meta é elevar para quinze o número de funcionários locais.
Os visitantes irão conhecer como se procede a extração de látex e a coleta de castanha, por exemplo.
Natex: área de abastecimento atinge 1 milhão de hectares
A Natex, fábrica de preservativos de Xapuri, tem fornecedores em 700 colocações georeferenciadas e com banco de dados socioeconômicos. Ou seja: sabe-se exatamente quem são, onde estão e como vivem os extrativistas que fornecem látex para a fábrica. A área de cobertura chega a um milhão de hectares. Em breve, após a certificação, a produção atingirá a escala necessária para abastecer o Ministério da Saúde com 100 milhões de unidades de preservativos ao ano.
Os seringueiros estão treinados e aptos à participarem do projeto mas novos trabalhadores se juntaram ao processo porque a área construída da fábrica prevê ampliação de maquinários para produção de mais 200 milhões de preservativos.
¨Todo mundo prefere vender o leite. O preço é melhor e não tem mau cheiro¨, disse Raimundo Monteiro, do Cachoeira. A Natex paga R$4,10 pelo quilo de látex já computado o subsídio estadual.
¨Sou viúva e estava desempregada. Para mim, este trabalho é muito bom¨, disse Fátima Raimunda, que ganha cerca de R$400 ao mês com carteira assinada.